Sonhos Podem Matar

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A nova família agora se estabelecia na casa. Coraline olhou ao redor, estava tudo como estava da ultima vez que estivera ali. Ela havia deixado a casa quando ficou grávida de Coral, há muitos anos atrás. Coraline não deixaria seus filhos nascer ali e muito menos crescerem, mas agora, as coisas estavam diferentes, seu marido havia perdido o emprego e aquela casa era a única coisa que havia restado para eles.

O celular de Coraline tocou. Era seu marido.

Coral aproveitou o momento para observar tudo. Colocou o irmão, que ainda dormia profundamente, no colchão que estava no chão e começou a dar passos pequenos na sala. Ela ainda não conhecia ali, nunca tinha visto foto ou qualquer outra coisa sobre a casa, mas ela sabia de algo, ela sabia sobre a porta. E uma coisa que Coral herdará de sua mãe, era a perigosa curiosidade.

— Mãee!! – Coral estava em pé ao lado da mãe, com os braços cruzados para trás. — Onde fica a porta? – Coral perguntou simplesmente, como se fosse uma pergunta comum a se fazer. Coraline nem ao menos olhou para a filha, talvez não a tivesse ouvido, pois ainda estava no celular, ou talvez apenas quisesse ignorá-la.

"— Você quer que eu vá buscar você?" – a voz de Coraline agora era de uma mulher adulta e determinada.

— Mãe?! – Coral insistia em querer interrompe-la.

— Querida, espere só um minutinho. – Coraline falou rapidamente.

Coral revirou os olhos e saiu de perto da mãe. Ela iria achar a porta por conta própria. O sol começava a entrar na casa por as janelas que estavam abertas. Coral estava entrando no corredor que dava para sala de visitas, mas foi puxada para trás por uma mão que segurou em seu ombro.

— Pra onde você pensa que está indo? – Coraline era bem alta ao lado da filha. — É melhor você ir dormir, seu pai chega a noite.

— Mas mãe!!!! Já é dia! – Coral deu a volta e caminhou até a sala da frente, onde Toby ainda dormia tranquilamente sob o colchão.

— Nada disso mocinha, você não dormiu ontem à noite, então... – Coraline pois as mãos nos ombros de Coral e a conduziu até outro colchão que estava jogado perto do de Toby, que Coral não fazia ideia de onde havia surgido — Hora de descansar.

Coral deitou-se no colchão e observou a mãe fechar todas as cortinas, as que estavam abertas e toda e qualquer brecha que pudesse entrar luz. Ficou tudo tão escuro que até parecia noite. Os olhos de Coral começavam a fechar-se e abrir-se a cada segundo, mas ela queria resistir, queria esperar Coraline deitar-se e então, ela começaria sua exploração, mas ela não era tão forte assim, não quando se tratava de dormir.

Coral caiu no sono rapidinho e logo, sonhos começaram a invadir sua cabeça.

Primeiro, ela sonhou que estava em um lindo jardim com as mais belas flores que já havia visto em toda sua vida. Ao redor, não havia nada, além de cores, flores e o lindo céu azul. Coral sabia que estava sonhando, ela era esperta demais para pensar que tudo aquilo era realidade, mas ela se perguntava onde poderia ser aquilo tudo. Um vento forte soprou seus cabelos e a fez virar de costas, e logo se espantou com todo o cenário atrás dela havia mudado. Agora uma grande casa estava ali, no meio do lindo jardim de flores. A casa parecia sua antiga casa, onde ela morava, onde ela nasceu, mas, de repente, começou a cair uma lona, como se a casa estivesse fantasiada e então, sua nova casa tomou o lugar da antiga. A casa de sua mãe, Coraline.

Coral deu dois passos em direção a casa e novamente um vento misterioso, gélido e suave, tocou seus cabelos, seu rosto, seu corpo, e por um segundo todos os fios de cabelo se arrepiaram, não por causa do frio, mas porque ela ouviu o vento sussurrar. Palavras. O vento falou palavras. E elas diziam:

"Não procure a porta."

Coral não acordou nesse momento, pois o sonho continuou. Ela olhou para trás novamente e notou um pontinho a distancia, ela não conseguia identificar o que era, mas viu que era de lar que o vento sussurrante vinha. Coral começou a caminhar em direção ao pontinho, ela era corajosa, assim como a mãe, ou talvez até mais que a mãe e em todo caso, ela sabia que aquilo era um sonho.

Quando Coral se aproximou mais, ela se espantou ao ver que era um poço. Um poço velho. Ele estava aberto e um leve vento saia de lá, mas era diferente do vento anterior, esse era mais frio e tinha um cheiro péssimo. Ela chegou até a borda do poço e olhou lá para o fundo. Era escuro e sombrio.

—Olááááá. – sua voz ecoou profundamente naquele poço e então, depois de alguns segundos, a voz que respondeu não foi a de Coral e sim uma voz esganiçada e assustadora que pronunciou apenas uma palavra.

"Finalmente"

Coral mal teve tempo de escutar realmente a voz quando uma mão pálida, que mais parecia garras, surgiu do fundo do poço em direção ao seu rosto.

Coral acordou.

Ainda estava tudo escuro. Ela sentou-se e olhou ao redor e, até mesmo sua mãe estava dormindo tranquilamente ao lado de Toby. Coral voltou a deitar-se, aquele sonho foi o mais estranho que ela teve em toda sua vida, estranho e assustador. Mas ela não estava com medo, não mesmo, afinal, sonhos não eram perigosos. 


Coral - A Filha de CoralineΌπου ζουν οι ιστορίες. Ανακάλυψε τώρα