Prólogo - Coral Roses

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A vida pode ser muito difícil. Muitas coisas desagradáveis podem acontecer. E você pode procurar resolver o problema, ou você pode fugir.

Fugir foi a opção que escolhi quando tinha 12 anos de idade e algo ruim aconteceu. Em uma noite aparentemente tranqüila, meus pais desapareceram deixando eu e meu irmão para trás. Não lembro muito bem o que realmente aconteceu, mas lembro de acordar de repente, estava em uma cama e tudo parecia muito estranho, não reconheci aquele lugar e não conseguia lembrar como fui parar ali. Desci as escadas daquela casa estranha e logo descobri que não era tão estranha assim, memórias de um Palácio cor de Rosa surgiam em minha cabeça. Chamei minha mãe, chamei meu pai, mas não estavam lá. Então voltei para meu quarto e não sei bem como sabia, mas o quarto ao lado era o do meu irmão e ele estava dormindo e o acordei imediatamente.
"Toby"
Ele abriu os olhos repentinamente, estava assustado e falou uma única coisa: "Elzarella levou todos". E voltou a dormir. Foi então que muitas imagens surgiram na minha cabeça, todas as coisas que vivi naqueles últimos dias e soube o que realmente aconteceu. Esse foi o inicio do meu surto psicológico. Foi o que disseram.

Eu queria lutar, sabia o que tinha acontecido. Aquele monstro havia levado meus pais, minha família, meus amigos... Rudy.

Mas, aquele era o mundo real. Fui levada para um hospital psiquiátrico e lá fiquei por 4 anos, conheci muitas pessoas lá dentro e apesar de passar a maior parte do tempo drogada, consegui ficar um pouco na realidade. Era considerada uma das mais perigosas, eu não conseguia conter todo o ódio, raiva que estava sentindo. Tentei tirar minha vida, tentei tirar a vida de pessoas. Alguém tinha que pagar por tudo que estava acontecendo.

Depois de um tempo, conheci Marília, era a nova enfermeira auxiliar que de alguma forma parecia acreditar na minha versão, mas no final, ela era como os outros e me fez perceber que eu estava realmente louca. Marília me mostrou coisas que ninguém nunca havia mostrando, provas da minha insanidade, ela me fez lembrar realmente a vida que tive antes de enlouquecer e me fez perceber que tudo que estava na minha cabeça não passava de fortes alucinações. Então, todas as minhas lembranças do mundo real retornaram, mas eu ainda lembrava das coisas que me perturbaram. Tive que aceitar o mundo real para poder ter liberdade. Tive que aceitar o real e esquecer o imaginário. E foi exatamente isso que fiz.

Sempre morei com minha mãe, meu pai e meu irmão em uma casa que gostávamos de chamar de palácio cor-de-rosa, na realidade era uma casa da cor rosa que dividíamos com mais três visinhos. Lembro bem que mamãe mandou pintar de rosa pra combinar ainda mais com nosso nome de família, já que a casa era uma herança de família.

Caroline era o nome da minha mãe, e por alguma razão, quando fiquei doente insisti que ela se chamava Coraline. Foi mais um dos fatores para me diagnosticarem com psicose aguda. Mas agora eu lembrava de tudo, dos meus amigos e principalmente do garoto que se chamava Rudy. Ele era neto da Dr. Elza e também foi meu melhor amigo por um tempo, morava em frente a minha casa e era tão branco que parecia um fantasma. Era um rosto que eu não tinha certeza se queria ver novamente.

Agora eu estava voltando pra casa. Agora que aceitei minha loucura e havia decidido melhorar com a ajuda de todos, agora estava liberada para voltar. Mas, apesar de tudo, o mistério ainda continuava. Onde realmente meus pais teriam ido? O que aconteceu com eles? Não conseguiram me acusar de assassinato ou algo parecido, e era por isso que tinha permissão para voltar e era por isso que eu queria voltar. Por minha família. Algo tinha acontecido naquela noite. Eu lembrava dos meus pais, eles não nos deixariam. Algo de muito ruim havia acontecido. E eu iria descobrir.

Meu novo lar seria o mesmo. Minha tia Mikaella agora estava lá para tomar conta de nós, ela era uma pessoa boa comparada a filha Rowena, apesar de todas as minhas lembranças serem fragmentadas e misturadas, o sentimento que tinha dentro de mim era de pura raiva a respeito de minha prima Rowena, do contrario de Tia Mikaella, pelo qual sentia bastante carinho.

Meu cabelo não estava mais azul, Marília havia me convencido a pintar de uma cor normal, agora estava castanho tão escuro que quase pareciam pretos.

Era hora de partir daquele lugar que foi minha casa por 4 anos, agora eu voltaria para o mundo de pessoas normais, para uma casa normal, e uma escola normal. E tudo que eu queria era que ninguém soubesse o que havia acontecido comigo, eu só queria encontrar meu irmãozinho e tentar descobrir o que de fato aconteceu com meus pais. Agora minha luta era contra a loucura no mundo real e contra as pessoas que eu não podia confiar. O mínimo de deslize me faria voltar para o sanatório e seria trancada para sempre longe de todas as pessoas que amo, então o jogo era jogar com o caçador. Qualquer um poderia ser o caçador e eu em todos os sentidos seria a presa ou poderia ser a caçadora de mim mesmo. Eu não fugiria para fora da realidade novamente, se aceitar a realidade me faria ter minha família de volta, era exatamente isso que iria fazer.

Meu nome é Coral Roses, tinha 12 anos quando fui presa, e agora estava entrando no carro que me levaria para casa depois de 4 anos.

Olhei pelo vidro do banco passageiro do carro e por um segundo, entre as árvores, pensei ter visto um vulto preto me encarar. Um gato preto, talvez.




***



Pessoal, o próximo capitulo que irei postar (não sei quando) será em um link diferente, pois será a continuação. Beijos, abraços e espero que gostem. 

Coral - A Filha de CoralineWhere stories live. Discover now