Paralelamente para os leitores

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Eu me chamo Coral. Sim, me chamo Coral. E acho que estou sonhando. Não estou na minha cama, estou flutuando, flutuando. Estou vendo muitas cores aqui, não sei o que está acontecendo. Preciso voltar, preciso acordar. Preciso salvar meu irmão e destruir a Outra Mãe.

Estou vendo uma luz, bem longe. Tem uma luz. Parece um farol. O oceano ao redor está turbulento. Algo me atrai até a luz, eu não consigo me dominar, não sei o que está acontecendo. Preciso sair daqui, a energia é sombria, algo mal está aqui. Está me sugando.
Meu nome é Coral Jones, sou filha de Coraline Jones. Estou em algum lugar. Estou dentro do Farol. E não estou sozinha.

No meio do aposento, tem uma mesa e alguém está sentado de costas pra mim. Blusa vermelha. Blusa de alça. Mas ali está tão frio.

É uma mulher, tem grandes cabelos encaracolados. Ela está com a cabeça baixa. Não consigo ver seu rosto. Palavras saem de dentro dela, literalmente falando, palavras fluíam de dentro dela. De todas as partes. E inundavam aquela sala no topo do farol.
— Olá! – falei. Ela não levantou a cabeça, então flutuei até ficar de frente pra ela. Ela estava escrevendo. Escrevendo, escrevendo. Eu ainda não consegui ver o rosto dela. — Oi!
A mulher levantou a cabeça, arregalei os olhos. Ela tinha grandes botões pretos no lugar dos olhos. Seu rosto parecia estar sofrendo, ela voltou a baixar a cabeça e percebi o que estava fazendo. Estava escrevendo. E era dali que todas as palavras fluíam e dançavam dentro daquela sala.

— Quem é você? – perguntei, e nesse exato momento uma palavra saiu voando em minha direção, e depois outra, e depois outra. "Quem é você?", se formou como fumaça negra e depois sumiu.
— Quem eu sou? Meu nome é Coral Jones.

Mais palavras em minha direção. "Filha de Coraline Jones".

— Sim. Como você sabe? Você conhece minha mãe? E esses botões? Foi... a Outra Mãe?

Palavras. Palavras. Palavras. Muitas vindo em minha direção.

"Eu criei você" "Eu recriei todos" "A Outra Mãe, ela não me..."

As palavras sumiram. A Mulher levou as mãos até a cabeça e sacudiu aqueles enormes cabelos encaracolados e começaram a sair muitas palavras em forma de ratos. Caiam aos montes no chão e corriam para todas as partes. A mulher parecia em agonia e então voltou a escrever.

"Eu escrevo sua historia. Mas a Outra Mãe não quer deixar que eu continue. Ela está me bloqueando em forma de Faculdade, namorado e outras coisas inúteis"

— Como assim você escreve minha historia? – eu não entendia mais nada. Aquilo era loucura demais. E não era real.

Mais palavras surgiram. Como ondas negras e esfumaçadas. Cercaram-me e então comecei a compreender. Era um tipo de recado. Para todos.

"Eu sou a escritora. Eu queria me desculpar por toda a demora. Eu não abandonei vocês. Todas as crianças, todos vocês que amam o que escrevo. Eu não abandonei vocês. Eu vou até o fim. E por mais que eu demore, as vezes eu consigo escapar das garras da Outra Mãe. Mas eu vou continuar, eu sempre vou continuar. Por você Coral, pelo Toby, por todas as crianças."

— Isso não pode ser verdade. – falei pra mim mesma enquanto aquela louca escrevia sem parar. Eram muitas idéias saindo de sua cabeça. Muitas historias. Muitas coisas.

"Não abandonei vocês. Leitores, procurem por mim. Procurem. Se vocês quiserem"

— Como é seu nome?

"Você não se lembrará que esteve aqui. Ninguém se lembrará. E pra vocês, crianças, meu nome é..."

Grandes letras negras surgiram inundando toda a sala. Me sugando, me afogando, e tudo então sumiu. Mas eu vi o nome que se formou. Era a escritora, aquela que me escreve, aquela que logo esquecerei. E seu nome é Elane Pimentel.


Coral - A Filha de CoralineWo Geschichten leben. Entdecke jetzt