O Poço

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Coral tinha certeza que não deveria fazer aquilo, ela sabia bem lá no fundo que se daria muito mal se desobedecesse sua mãe, mas o extinto de aventura presente no sangue da Família Jones era mais forte, e Coral estava muito curiosa, nem que fosse apenas para ver de longe, ela encontraria aquela porta.

A casa estava na penumbra, o brilho do luar entrava pela janela deixando o ar sombrio. A casa estava fria.

A sala de visitas era onde ficava os moveis antigos e valiosos que ninguém usava. Aquela sala era a coisa antiga da casa, talvez até mais antiga que a própria casa e tão sombria quanto os barulhos estranhos da escuridão. Coral não tinha medo de nada disso, ela se sentia atraída pela história que sua mãe lhe contou, sobre esse outro mundo perigoso e enganoso, ela não sabia explicar porque se sentia atraída por aquilo, uma coisa que obviamente ela deveria fugir e não tentar encontrar, mas ela não tinha escolha, aquilo dentro dela era mais forte.

Coral entrou na sala de visitas e logo sentiu um frio percorrer todo o seu corpo, todos os seus pelos se arrepiaram e sua respiração ficou difícil. Ela olhou ao redor e não viu nada além dos moveis, a lareira e a porta por onde ela acabará de passar. Não existia outra porta ali.

Então ela lembrou dos sonhos, os dois sonhos, sempre tinha um poço e era isso que ela deveria achar.

Coral não pensou duas vezes ao atravessar a porta da frente e ir para o lado de fora da casa, a luz do luar clareava tudo e o céu estava estrelado, mas todo o chão estava coberto por uma nevoa densa. Seria difícil achar o poço com toda aquela nevoa.

— Eu tenho que achar esse poço. – Coral sussurrou e mesmo assim quase pareceu um grito.

Um vulto preto começou a se mexer bem em sua frente. Coral deu um passo para trás instintivamente. Duas mãos magras seguraram seus ombros. Ela ia gritar, mas a mão logo segurou sua boca e a virou de frente para que ela pudesse ver quem a segurava.

Era Balt Bobinsky.

Coral arregalou os olhos para aquela figura alta e grama, ele parecia assustador na penumbra da noite e seus olhos pareciam olhos de gato.

— Não se assuste, Srta. Jones. – ele falou sussurrando.

— Como você chega assim por trás e ainda pede pra eu não me assustar!!! Seu maluco! – ela não notou que estava gritando.

— Fale baixo! – Balt colocou novamente a mão na boca de Coral. — Fale baixo, por favor! – Balt retirou a mão da boca de Coral que olhava furiosa pra ele.

— Se você fizer isso novamente, eu juro que mando você para A Outra Mãe. – Coral não pensou quando falou aquilo e nem imaginou que seria algo grava de se falar, mas Balt sabia e arregalou os olhos aterrorizados ao ouvir aquelas palavras.

Balt se aproximou de Coral, tão perto que ela podia sentir a respiração dele, ela sentiu até mesmo o cheiro de queijo nele.

— Você não deve falar sobre a... sobre ela... – ele falou de uma forma que fez Coral tremer e se arrepender de ter dito aquilo.

— Você sabe sobre... – Coral começou e parou antes de falar o nome. Ela estava começando a confiar naquele garoto estranho e alto. — Você conhece minha mãe?

— Sim. Você se parece muito com ela. – Balt olhava Coral de cima a baixo. – Ela esteve aqui quando meu avô morreu, eles eram amigos, sabe.

— Minha mãe esteve aqui? – Coral começava a achar estranho o fato de Coraline ter voltado ali por duas vezes e nunca ter contado isso pra ela.

— O que você está fazendo aqui a essa hora Srta. Jones? – Coral nem percebeu que ele mudou o assunto rapidamente. – É muito perigoso andar no escuro, por causa da névoa.

— Estou procurando... uma coisa. – Coral falou cautelosamente. – Talvez você pudesse me ajudar.

— Não posso ajudar você a se meter em confusão. Sinto muito. – Balt falou isso, mas continuou parado na frente de Coral.

— Então é melhor eu continuar com minha exploração antes que meus pais acordem. – Coral deu as costa pra ele e começou a caminhar.

— Por favor, não vá. – ele começou a segui-la.

— Seu avô não tinha uma banda de ratos saltadores? – Coral perguntou, repentinamente.

— Sim, ele tinha, mas os ratos estão bem velhos agora. Só descansam o dia inteiro.

— Ouvi dizer que eles ajudaram minha mãe, de certa forma.

— Sim.

— Eu tenho que ir, tenho que continuar minha exploração. – Coral saiu correndo tão rápido que Balt não conseguiu falar ou acompanha-la. Agora ela estava sozinha e acabará de entrar na floresta.

Coral não sabia se estava no caminho certo, na realidade ela tinha quase certeza que estava no caminho totalmente errado. A floresta estava escura e silenciosa, uma leve brisa balançava os galhos ao seu redor, mas Coral não estava com medo. Talvez um pouco.

O poço estava a poucos metros dela, ela estava mesmo no caminho certo, mas aquele caminho não parecia com o de seu sonho. Ela olhou para trás, dava pra ver a casa.

Ela se aproximou do poço, o vento parecia ficar mais forte, agitado, parecia estar ansioso por algo. O poço estava fichado, com tabuas. Ela olhou por um pequeno buraco e por um momento algo pareceu se agitar lá dentro, mas não ouviu barulho de água.

Coral deu a volta ao poço, parecia bem normal. Se deu conta de que não sabia o que fazer agora que estava ali de ante de algo parecido com o seu sonho, até aquele momento ela imaginava o sonho apenas como algo irreal, mas agora ela tinha alguma esperança de que aquilo era um certo chamado.

"Coral..."

Ela se assustou. Era uma voz distante. Ela olhou para todos os lados, e para dentro do poço.

— Oláááááá! – Coral falou.

Tudo ficou silencioso. Coral esperou por mais alguns minutos e mais uma vez chamou, mas ninguém respondeu. Tudo estava calmo.

A alva já aparecia no horizonte e o que quer que ela pensou ter ouvido, já tinha ido embora. Decidiu ir pra casa, ela havia encontrado o poço, sabia onde ele estava, poderia voltar lá depois.

Antes de sair de dentro da floresta, algo lhe chamou a atenção. Não era o vulto preto novamente, parecia um brinquedo. Coral se aproximou e viu que era uma boneca e aquilo a deixou um pouco assustada, pois a boneca era exatamente como ela.


Coral - A Filha de CoralineWhere stories live. Discover now