A Outra Porta, O Outro Mundo, A Outra Mãe

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Coral não pensou duas vezes antes de sair na neblina seguindo aquele gato preto. Não havia se passado muito tempo desde a hora que ela acordou de manhã até aquele momento, mas o tempo de repente estava mais sombrio, mais tempestuoso e mesmo assim Coral não hesitou na hora de sair naquela neblina estranha, seguindo um gato preto que aparentemente sabia falar, apesar dela não ter ouvido ele falar, ela lembrava muito bem da história que sua mãe contou e como poderia esquecer do gato que era amigo de sua mãe? Claro que ela não esqueceria de nada, de nenhum detalhe, mas ela sabia que sua mãe não havia lhe contado tudo.

O gato entrou rapidamente na floresta, Coral tinha que ser bastante rápida para acompanha-lo sem ser percebida. A floresta estava escura e o vento balançava as arvores de forma assustadora, tudo aquilo parecia ser um grande sinal de alerta para Coral dar meia volta e correr pra casa, mas ela não faria aquilo, não quando sua curiosidade era maior, e não quando ela sentia que estava cada vez mais perto da aventura de sua vida.

Coral não sabia onde estava, a florestava era tão densa e profunda que parecia que já estavam a quilômetros de distância de sua casa, ela lembro que ainda não haviam passado pelo poço, então não deveriam estar muito longe. Ela estava torcendo para que o gato a levasse até a outra entrada, já que era impossível ela entrar pela porta da sala de visitas.

O poço estava logo em frente, ela viu quando o gato pulou nas bordas do poço e depois para dentro. Coral arregalou os olhos de espanto e antes que ela pudesse correr até lá para ver se o gato havia se afogado, ele saiu de dentro com um cordão em volta do pescoço. Coral estreitou os olhos para ver o que estava enganchado no corão e só assim ela percebeu que se travada de uma grande chave preta. "A chave da entrada", pensou imediatamente.

O gato continuou o caminho, ainda mais fundo na floresta, o vento começava a ficar mais forte e mais frio, um trovão ecoou no céu e naquele momento Coral pensou seriamente em voltar pra casa, mas estava tão perto, ela podia sentir, ela conseguia sentir o vento sussurrando em seu ouvido e o gato sumiria com a chave e com a entrada se ela desistisse agora nunca mais poderia encontrar o outro mundo. Não iria ter a aventura de sua vida.

— Que frio. – ela sussurrou e lamentou não ter levado um casaco, olhou para as mãos que estavam congelando e depois ergueu os olhos para o céu que estava tão nublado que parecia noite. – Assim eu vou congelar.

Quando Coral voltou sua atenção para o gato percebeu que ele havia sumido, ela correu tentando acha-lo, mas ele não estava em parte alguma e agora Coral não sabia para onde ir e nem como voltar. Decidiu continuar em frente, mais cedo ou mais tarde chegaria a algum lugar.

Trinta minutos haviam se passado desde o momento que Coral perdeu o gato de vista, ela não tinha mais forças para continuar andando, o frio era tanto que ela mal conseguia respirar. Naquele momento ela se arrependeu de ter seguido o gato e teve a certeza absoluta de que morreria ali.

"Coooooraal.."

Coral olhou para o lado e quase morreu de susto ao ver uma grande arvore assustadora que a alguns minutos atrás não estava ali. Ela deu passos curtos até chegar a arvore, ela era enorme, e seus galhos balançavam assustadoramente com o vento.

— Que arvore estranha. – Coral não ficou com medo, na realidade sentiu vontade de explorar e então começou a dar a volta na arvore foi quando ela viu.

Uma pequena porta cravada no tronco da Arvore. O tronco era a porta. Coral se deu conta que finalmente havia encontrado o que estava procurando. Aquela era A Outra Porta.

A porta era bem antiga e cheia de marcas, era tão bela que Coral ficou hipnotizada observando cada detalhe. Tinha uns círculos enfeitando os cantos, e as marcas pareciam ser tão antigas quanto a portas, uma grande fenda como se tivesse sido feita por um machado enfeitava o pé do tronco, alguém tentará derrubar aquela arvore, mas sem sucesso, pois ela estava intacta. A maçaneta era preta, com o formato de um grande botão. Coral apertou firme e a empurrou e para sua surpresa a porta estava aberta.

Um ar quente saiu de dentro daquela porta aquecendo Coral por alguns segundos. Ela não sabia se queria entrar ali, estava tão escuro e fedia a coisa antiga, mas ela tinha que entrar. Era isso que ela precisava fazer e foi o que fez. Ela respirou fundo e entrou naquele corredor escuro e desconhecido, não sabia o que a esperava, mas sabia que poderia vencer.

O corredor era longo, estava bastante escuro, fedia e era quente. Era tão antigo, Coral sentiu como se algo a seguisse na escuridão, algo assustador, lento e antigo que ela não teve coragem de sequer olhar pra trás, ela só queria chegar rápido ao final do túnel.

Os olhos de Coral estavam fechados e ela os abriu quando sentiu a luz. Era tão forte que ofuscou seus olhos e só depois de alguns segundos que seus olhos se acostumaram com a claridade, e então ela viu que estava na floresta. Era a mesma floresta que ela acabara de sair, tinha certeza, mas essa era diferente. Estava clara e o sol brilhava entre as arvores, os passarinhos cantavam e tudo era tão verde e seco. Aquela floresta parecia um dia feliz de verão. Era um lugar perfeito. Era o Outro Mundo.

Coral não acreditava que estava realmente ali, parecia algo impossível, ela sempre acreditou em sua mãe, mas aquela sensação de estar vivendo aquilo era totalmente diferente, ela estava esperando acordar a qualquer minuto daquele sonho. Como aquilo tudo poderia ser do mal? Ela estava se sentindo tão bem que não conseguia imaginar como aquilo poderia ser ruim.

A Outra casa estava bem a sua frente, Coral já havia saído de dentro da "floresta encantada", da floresta dos sonhos, pensou. Aquele lugar era luminoso.

A Casa era grande, igual a dela, só que mais bonita. Coral a observou por alguns minutos antes de entrar, parecia estar totalmente vazia, apesar de ter um ar alegre e novo. Coral imaginou que talvez os vizinhos estivessem dormindo, ou quem sabe estavam em outro lugar.

Ela entrou na casa, estava escura, parecia noite, apenas uma luz vinha da cozinha. Coral foi até lá, sua mãe estava de costas para ela mexendo em uma panela, parecia mais magra.

— Mãe? – Coral falou, esquecendo por um segundo de tudo e lembrando novamente quando a mulher esguia virou-se revelando grandes botões pretos no lugar dos olhos.

Era a Coraline. Era idêntica a ela, só que mais bonita e mais alegre.

— Finalmente! – a mulher falou de forma doce, mas um pouco ameaçadora.

Coral ficou parada, e fechou os punhos. Estava tremendo, e naquele momento desejou não ter ido para aquele outro mundo, o medo subia por todo o seu corpo fazendo seu coração acelerar, ela não sabia o que poderia acontecer em seguida, ela sabia que estava encrencada. Pois a mulher que estava em sua frente com um sorriso gelado nos lábios era sua Outra Mãe. 


Coral - A Filha de CoralineWhere stories live. Discover now