X. Somente Louis

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[Harry's POV]

─ Deem prioridade para as peças mais leves e frágeis. Elas podem ser levadas com facilidade pelo vento e quebrarem.

George alertou e corremos mais uma vez para fora. A chuva grossa e gelada caía impiedosa sobre nossas cabeças, molhando tudo que encontrava pela frente. Mesmo com duas camadas de tecido me protegendo, o terno e a camisa social, eu já podia sentir meu corpo todo se arrepiar pela umidade da roupa. Meu campo de visão era invadido por alguns cachos desfeitos e molhados que insistiam em cair sobre minha testa.

─ Caralho, que frio!

Ouvi a voz de Louis a poucos passos de mim e virei de abrupto para encará-lo. Seu corpo todo tremia e ele só vestia uma camiseta fina agora. Completamente encharcada. Agarrei mais alguns utensílios de porcelana de uma das mesas e caminhei rápido até ele.

─ Deixe que eu, George e seu tio terminamos de recolher.

─ O que? Não. Quero ajudar

Depois que cuidei de seu ferimento, Tomlinson não estava me tratando com tanta frieza quanto antes. Nas duas vezes em que nos esbarramos durante o aniversário de Félicité, ele sorriu rapidamente e, completamente sem jeito, se afastou de mim sem tirar os olhos do meu. Por sorte, parecia ter esquecido, pelo menos por enquanto, sobre todos os fatores que o levaram a me desprezar com tanto fervor.

─ Você acabará doente.

Tomlinson riu. Uma risada suave e gostosa que fez minha pulsação acelerar.

─ Eu não sou feito de açúcar.

─ Sim, sim ─ Tomlinson me deixava ansioso, nervoso e, principalmente, inseguro. Não era comum eu me embolar nas palavras para me expressar. Eu tinha aquela opinião firme e incontestável, mas isso tudo mudava perto dele. Era imprevisível. ─ É só que você já cortou a mão e...

─ O que uma coisa tem haver com a outra? ─ me encarou confuso e um sorriso provocante apareceu no canto de seus lábios.

─ Nada. É só... ─ soltei o ar pela boca. ─ Me desculpe.

Balancei a cabeça e me afastei.

Eu estava agindo ridiculamente. Tomlinson tinha razão em me questionar sobre aquilo. Isso nunca tinha acontecido antes. Não agia desse modo inconstante, falando coisas desconexas e me preocupando com pessoas que nem ao menos tinha uma relação. Meu orgulho sempre se sobrepôs a qualquer sentimento, desejo, atração. Não seria agora que isso mudaria.

─ Pronto. Acho que recolhemos tudo ─ George entrou na cozinha com um enorme sorriso no rosto e colocou uma pilha de copos e talheres na pia. Estavam todos molhados e precisavam ser enxaguados, assim como o resto da louça.

A maioria dos convidados já tinha partido para suas casas antes da chuva iniciar. Poucos ficaram para ajudar Félicité e George a recolher tudo o que se encontrava lá fora. Para falar a verdade, apenas os familiares mais próximos restaram. Anne, Meggie, Ernest, Doris e Johannah se encontravam seguramente na sala de estar brincando de forma distraída. Jonathan Deakin e sua esposa ficaram conosco e nos ajudaram a recolher o que ainda ficara lá fora.

Louis foi o último a voltar. Seus cabelos molhados deixaram gotas d'água caírem no assoalho e formarem uma trilha por onde andava. Ele ainda tremia de frio, mas não parecia abalado por isso. Sorria radiante e tinha uma expressão suave no rosto que fazia meu estômago se agitar furiosamente. Passou a mão que não estava ferida pelos cabelos e seu olhar mais uma vez se encontrou com o meu.

No entanto, não demorou muito para que desviasse e focasse em qualquer outro objeto da cozinha.

─ Quem diria que iria chover dessa maneira? ─ Jonathan comentou amistosamente.

Your Eyes Only (Larry Stylinson)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora