Capítulo 35

590 48 6
                                    

Deitada na cama, a olhar para o escuro do quarto, vejo ainda a luz que vem da janela, visto que adormecer no escuro não é algo que me agrade, especialmente depois do dia de hoje. Foi possivelmente o dia que me trouxe á pele mais emoções.

Mesmo depois do longo banho onde tentei, tanto com água do chuveiro, como com as minhas próprias lágrimas de medo, raiva, choque e confusão, limpar todos os traços, marcas, impressões, memórias que tinha dele. Foi difícil, e mesmo depois do longo banho que me engelhou os dedos, continuei a sentir-me imunda, como se ainda lhe sentisse o toque, o cheiro, o riso e o olhar. 

Passei a noite apática, isto por fora, porque claro, sentimentos era o que mais tinha no meu corpo. Enchiam-me e não me deixavam pensar nas coisas boas que eu queria na minha cabeça. Mexia-me sem parar, ainda n tentativa de arranjar uma posição confortável, uma que me deixasse dormir, que parasse as vozes, os sons, os cheiros e todas as memórias da tarde. Mas não conseguia. Senti um braço á minha volta, forte, seguro, meigo ao mesmo tempo. Agarrei na mão de Shawn, que me circundava a cintura. Ele, em resposta beijou-me o pescoço.

Um gesto carinhoso, algo que ele adorava fazer-me, qualquer outro dia eu teria deixado escapar um sorriso, uma risada,até. Mas não naquele dia. Sobressaltada afastei-me dele. O seu braço levantou-se do meu corpo, agora apoiado num dos seus braços para ficar mais alto do que eu, para me puder ver bem, ele olha para mim, e eu para ele.

-Desculpa, desculpa...-disse ele, estava a começar a culpar-se até eu o interromper

-Não, desculpa eu. Estou a ser parva, eu, és tu, e eu... eu...-tentava dizer alguma coisa, mas as palavras não saiam.

-não tens que pedir desculpa, tens toda a razão, eu devia ter pensado antes de fazer.- ele levantou-se, agarrou na sua almofada que estava na minha cama fazia cinco dias. 

-Onde vais?-perguntei eu, agora sentada na cama

-Vou para o meu quarto, eu compreendo que não queiras ninguém contigo, especialmente na tua cama, eu compreendo que te sintas mal. -disse ele

-Não- respondi mesmo antes de ele agarrar a maçaneta da porta, ele olhou para mim de novo- Fica,por favor, não quero ficar sozinha- estas palavras saíram como um sussurro, como se me custasse dizê-las, e no fundo custava. Sempre fui a rapariga independente, alegre, e agora olhem para mim. Patética, destroçada, sentada numa cama a pensar em todos os males que me aconteciam. Mas todos merecemos uma noite de descanso, uma noite de fragilidade. Hoje é a minha noite.

-Eu fico, não te preocupes, eu fico.- respondeu-me quando, através do escuro do meu quarto ele viu a dor nos meus olhos. 

Lentamente, ele voltou para a cama. Sentou-se ao meu lado, e ficamos assim, um a olhar para o outro, ambos sentados à chinês, com os nossos pijamas, cabelos despenteados, uma noite que podia ser agradável tinha um ambiente pesado no quarto.

-Nunca me chegaste a dar a prenda especial que tinhas prometido.-disse do nada, quebrando o silêncio do quarto. Um sorriso apareceu na sua cara. 

-Queres ouvir?-perguntou

-Claro!-respondi, entusiasmada, pelo menos, dentro do entusiasmo que o meu corpo e alma aguentavam naquela noite.

-Foi uma música que escrevi para ti, e tenho trabalhado nela desde que foste para minha casa no Canadá. Aliás, desde o momento em que me apercebi que me tinha apaixonado pela rapariga mia portuguesa, totalmente doida, mas ao mesmo tempo carinhosa que anda a tentar afugentar ladrões de casa de pessoas que não conhece.- diz ele, ao agarrar a guitarra. 

Sorri. O seu comentário fez-me mais feliz do que qualquer outra coisa, e de momento, mesmo sendo meia noite  e meia, não me importava que ele agarrasse na guitarra e me tocasse a tão esperada música e ao mesmo tempo acordasse toda a gente. 

Summer with you -Shawn Mendes (A EDITAR)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora