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O dia seguinte foi uma sucessão de acontecimentos. Tive um encontro com John, ele apareceu no bar e acabei me rendendo, eu queria resistir a ele, é verdade, eu queria muito. Mas simplesmente não conseguia. Estava tão na cara o quanto eu tinha ficado mexida com a presença dele que Júlio me escreveu um bilhete malcriado. "Aquela sua teoria sobre os homens deve ter mudado, pois está dando mole para o cara que conheceu a duas noites" O que me fez ficar furiosa, passou uma vontade de falar um bocado de coisas para ele, mas não fiz, rasguei o bilhete em pedacinhos e joguei na lata de lixo. Depois faltei ao trabalho duas noites, mas não foi esse o motivo de eu ter faltado ao trabalho, não, peguei uma gripe ferrada, muita tosse e dor na garganta, não teria como atender os clientes tossindo. Foi o senhor Tanaka, o proprietário, que pediu para eu ficar em casa, parece que contrataram uma garota freelance para o tempo que ficarei fora. Não tínhamos feito nada demais, ele me levou para tomar um café com caramelo e comer uma torta na confeitaria mais luxuosa da cidade, o valor que gastou era quase que o meu salário do mês. Sabia que se fosse para eu ir naquele lugar, sozinha, jamais teria como pagar. Nunca iria. Quase não dissemos nada, apenas nos olhávamos como se estivéssemos conversando em pensamento. Não podia me demorar, pois estava com dor de cabeça e a tosse não dava trégua. Eu me sentei ao lado dele, e senti o toque da sua pele macia, um arrepio percorreu meu corpo quando ele falou bem perto da minha boca. Não nos beijamos aquele dia. Eu não podia passar o vírus para ele. Ele também não parecia querer pegar aquela tosse.

- Adorei te conhecer. – disse ele.

- Eu também. – respondo com o sorriso na orelha. Eu não estava me reconhecendo.

Ao me deixar na frente de casa, vi que minha mãe espiou por trás da cortina, ele me deu um beijo na bochecha tão apertado que senti como se aquele beijo tivesse alcançado meu coração; era como se nós dois estivéssemos ligado de alguma forma, sem precisar tocar os lábios. Depois daquele encontro passei a sonhar acordada, eu cantarolava pela casa, colocava músicas extremamente românticas no volume tão alto que o chão tremia, nem mesmo a gripe me tirou o sorriso. Minha mãe me encarava assustada, curiosa talvez. Ela saiu cedo àquela tarde, disse que tinha horário marcado no salão, iria fazer as unhas e aparar as pontas do cabelo, o que me surpreendeu, e mais tarde iria para a terapia. Isso me deixava satisfeita. Ela vinha mudando, devagar, mas eu percebia que estava voltando a ser a dona Beatriz, vaidosa. E parecia que tudo estava mudando. Se minha mãe sentiu o efeito que ele tivera sobre mim, não vinha dando qualquer indicação. Até agora.

- É legal ver você sorrir de volta. – disse ela.

- Hã?

- O seu sorriso. Está diferente, como antes. Sorriso livre.

- Mãe... Estou normal.

- Que bom. – disse e foi saindo.

O erro que a maioria das pessoas comete é não ser sincera consigo mesma. Talvez eu não esteja sendo!

Dei um pulo com o som do despertador, levantei-me da cama e vesti a primeira roupa que vi pela frente, joguei água no rosto, escovei o dente e prendi o cabelo todo para cima fazendo um coque. Lancei um olhar para a escrivaninha e vi que a chave estava na gaveta. Aperto os dentes ao imaginar que mamãe possa ter bisbilhotado.

- Bom dia mãe. - digo ao descer a escada.

- Oi querida, bom dia. – responde minha mãe, levando a caneca de café na boca.

A mesa está posta, então me sento. Percebo que mamãe ficou espantada ao me ver cedo de pé, reação era visível.

- Filha está bem?

Como não te AmarWhere stories live. Discover now