Epílogo

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São 06h30min da manhã; quando terminei minha corrida matinal e sentei-me silenciosa sobre a areia gelada.

Não costumava vir assim cedo, mas a chegada da primavera me trazia certa nostalgia e correr na praia me ajudava a afastar a tristeza que ainda aprecia vez ou outra.De um tempo para cá passei a usar a máquina-fotográfica de Jhon, e tenho gostado das imagens capturadas por ela. Tá aí algo que eu nunca tinha pensado. Fotografias.

Havia muito tempo que eu tinha parado de cuidar de mim, do meu corpo. Por um tempo eu até cheguei a frequentar a academia, mas quando Jhon se foi logo parei, o que gostava mesmo era correr ao ar livre, sentir o vento batendo no rosto, fazia eu me sentir viva. Para minha sorte o sol resolveu aparecer cedo. Gosto de ficar observando as gaivotas com seus finos pés andando sobre a água. Olhando a imensidão do mar... Perdendo a noção do tempo. Ah o mar me traz boas lembranças.Gosto de imaginar que não muito distante ele está a me observar. Ele disse que estaria nas estrelas. Talvez ele estivesse lá agora, atrás das nuvens me observando... Talvez ele tenha se tornado uma estrela.

Meus olhos se enchem de lágrimas, tento controlar, mas a saudade dói demais, e é mais forte do que qualquer outra coisa. Tenho tentado seguir o que ele havia me pedido. Para não pensar no passado, me concentrar no futuro, no lugar que eu desejava estar. Mas só que às vezes parecia impossível! Pois tudo em Jack me lembrava dele.

Apoio meus cotovelos sobre o joelho, fico pensativa, deixo as lágrimas escorrerem e continuo contemplando o mar. Posso ouvir o barulho das ondas quebrando na beira da areia. Quando estou aqui, sinto tudo tão calmo que faria isso por toda vida.

Jack ainda dorme, Lúcia está lá por perto, caso ele acorde. Ela veio morar comigo, Noel faleceu após ter dado uma gripe forte, o último inverno tinha sido rigoroso e ele não suportou o frio. O AVC havia o deixado com sequelas. Suas pernas tinham travado de vez, e seu corpo foi definhando na cama. Até que uma gripe foi fatal. Lúcia não tinha ninguém e eu jamais a deixaria sozinha, por que eu sei que Jhon faria o mesmo. Agora ela tinha só eu, e nós nos tornamos essenciais uma na vida da outra. Minha mãe morre de ciúmes.

Daqui a duas semanas Jack completará dois anos, e o tempo tem passado tão rápido. Parece que foi ontem que nascerá e agora fará dois anos. Ele é um menino tão cativante. Tem uma doçura em seu sorriso que me é familiar. Também é serelepe. Minha mãe diz que ele é movido a bateria, daquelas que carregam sozinhas; confesso que ele tem me dado um tremendo cansaço.

Não importa como esteja o tempo, sendo frio ou calor, normalmente costumamos vir à praia no fim da tarde, ele trás o baldinho para brincar de fazer castelo na areia. Quando o coloco para dormir, passo um bom tempo observando seu sono tranquilo, vejo o quanto ele se parece com Jhon. O contorno da boca, as mãos, o nariz, é inacreditável o quanto seus olhos são iguais. Até os cabelos lisos e escuros. Mas o seu sorriso é o que mais me faz lembrar. É um pedaço dele que ficou comigo. Quando dou por mim, já adormeci ao lado dele. Para ficar mais fácil, comecei a colocar ele dormir na minha cama e minha mãe vive dizendo que não devo fazer isso; pois ele vai se acostumar e, não irá mais querer dormir em seu quarto. Só que o prazer que sinto em tê-lo perto é tão grandioso que não quero pensar se depois ele irá ou não querer dormir em seu quarto. Sei que não teremos todo tempo do mundo para viver juntos. Então quero só aproveitar cada segundo que a vida me dá ao lado dele.

Achei que seria mais difícil, nunca tinha me imaginado mãe.Mas acredito que tenha me superado. Pouco a pouco eu fui me acostumando a ter alguém que dependesse de mim.

Jeni que tinha tido bebê antes de mim. Certa vez descrevera o efeito de acordar às quatro da manhã para dar de mama. Recordei-me de como estes momentos me ajudaram a seguir em frente. Nunca imaginei sentir amor maior. Nem sabia que existia esse amor tão puro, tão sem interesses. A diferença é que ela tinha José para lhe ajudar e eu não tinha Jhon. Mas tinhaLúcia sempre por perto, tinha minha mãe e ate a vovó. Penso de como Jeni pode nos surpreender. Parecem que se dão bem. Espero de verdade que ele nunca a magoe.

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