LX

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Dizem que na vida, um dia é da caça, o outro é do caçador. 

Imobilizada pela pressão que a faca em minha garganta exerce,  meus pensamentos voam numa tentativa desesperada para sair dessa.

Eu já estive em uma situação parecida antes quando tolamente acreditei ser capaz de fugir pela floresta após libertar meu antigo amigo de infância,David, do cativeiro do meu atual namorado e também carcereiro. Tarde demais percebi o erro que cometi ao provocar a ira de alguém como Jeff.

Mas agora, até ele, um homem de tão grande astúcia e maldade, tornou-se a presa nas mãos de outras pessoas. O grande caçador foi reduzido a caça.

-- Traga-a até mim.

A mulher diz, sua voz calma soando como uma ordem.

Meu coração bate loucamente enquanto sou empurrada em direção a ela. Eu posso sentir os olhos de Jeff em minhas costas tanto quanto sinto o ar em minhas narinas. Não me atrevo a olha-lo.
Se eu fizesse isso me quebraria.
Em vez disso eu fito a minha captora. Como não notei esses olhos antes? Eu nunca gostei de olhar nos olhos de alguém desconhecido.
Os olhos dizem tanto, sem palavras.

Refletem o que trazemos por dentro. E se eu tivesse observado antes perceberia que os dela eram frios como o gelo.

Com um movimento de sua cabeça para o homem que me ameaçava com a faca, ele me solta de prontidão.
Respiro fundo levando a mão ao  pescoço. Ele dá uns passos para trás mas permanece com a faca na mão  em um aviso mudo que se eu tentasse fugir ele me pegaria.

Como se eu fosse fazer tal coisa. Não há chance alguma e eu sei disso. Pelo menos, não ainda.

-- Bonita.

Jane circula ao meu redor com passos lentos. Aperto os dentes quando ela acaricia meu rosto e depois meu cabelo.

-- Muito bonita.

Ela não parecia dizer isso para mim e sim para Jeff.
Se ele percebeu nada disse.

O cansaço se apoderou de meu corpo.
A noite que passei com o Jeff  foi como um sonho e ironicamente se transformou em um pesadelo. De repente meus músculos protestavam em conjunto, exaustos pela comoção.

-- Eu já fui como você - Ela continua -- Uma garota normal, com o futuro brilhante pela frente. Seríamos muito parecidas. Fisicamente quero dizer.

Eu não sabia o que dizer. Ela Parecia dizer isso para ela mesma.

-- Até que um dia conheci o Jeff.

-- Não me olhe com essa cara. Você sabe bem o homem que tem ao seu lado.

-- Oh! -- Ela sorri maldosamente -- Você não sabe.

Dito isso, ela vira-se em direção a Jeff, e seus braços rodeiam meus ombros me apertando fazendo com que eu me vire também.

Agora estou de frente para ele que com o maxilar cerrado permanecia em silêncio cortante, cada vez mais tenso.

-- Ele nao te contou nada, nao foi? -- seu sussurro próximo a minha orelha me trouxe calafrios.

Jeff grunhiu, um som horrível saia de seus dentes tricados. Seus olhos furiosos pareciam poças escuras.
Com isso Jane sorriu, ela acertou em cheio.

-- Ele não te contou como ele matou seus próprios pais e deixou seu irmão levar a culpa de seu crime hediondo -- Ofego -- De como ele em seguida foi até a minha casa, eu, que nunca fiz nada para ele, nada! -- seu tom de voz aumenta cada vez mais  -- e matou minha família. Cada um deles. Sabe o que ele fez depois?

A Prisioneira de Jeff The Killer Onde as histórias ganham vida. Descobre agora