THE LADY AND THE FOX

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A DAMA E A RAPOSA
Versão original por Kelly Link
+9.000 palavras

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Tem alguém no jardim.

- Erik - chama Harry. - É o Papai Noel. Ele está olhando pela janela.

- Não, não está - diz Erik, sem ao menos se virar. - Nós já ganhamos os presentes. Além disso, o Papai Noel não existe.

Eles estão juntos embaixo da árvore, a famosa árvore de Natal dos Tomlinson. Os dois têm onze anos. Só há espaço suficiente para sentar encostado no tronco com as pernas cruzadas. Erik está brincando com o trem instalado em volta da árvore, movendo-o para a frente, para trás e para a frente de novo. Harry está admirando seu melhor presente, uma tesoura de cabo dourado em forma de garça. O bico da ave é a lâmina. Zip, zip, ele corta espinhos secos um a um do galho acima de sua cabeça. Sente cheiro de pinheiros. Uma chuva de agulhinhas verdes.

Deve estar muito frio lá fora, no jardim. A janela cintila com o gelo. Já passou muito da hora de dormir. Se não era o Papai Noel, poderia ser um ladrão que tinha ido roubar as jóias de alguém. Ou um assassino com um machado.

Ou então, claro, pode ser uma das centenas de tios e primos de Erik. Porque o rosto na janela não tem barba e não é alegre. Mesmo parcialmente obscurecido pela escuridão e pelo gelo, tem aquele ar dos Tomlinson. 

Falando nisso, a sala está repleta de adultos da família Tomlinson conversando sobre as quais os Tomlinson sempre conversam, e isso significa tudo: cavalos, casas, Deus, argamassa, salões de bronzeamento e, é claro, teatro. Sempre sobre teatro. Os Tomlinson gostam de conversar. Quando um Tomlinson não tem uma fala, ele improvisa. O mundo todo é um palco.

Era raro ver um Tomlinson isolado. Eles vêm em cachos, como bananas. Não são espiões solitários, mas batalhões. Por mais que Harry admire os cabelos caramelados dos Tomlinson, a beleza exagerada e expressiva dos Tomlinson, o repertório Tomlinson de piadas e confidências, poesia e absurdos, ás vezes ele precisa de uma fuga. Os Tomlinson querem que você fale também. Fazem perguntas até sua boca ficar seca de tanto responder.

Erik é excepcionalmente tranquilo para um Tomlinson. Ele não se importa se você está ali ou não.

Harry sai com dificuldade de baixo da árvore, atravessando as várias pernas dos Tomlinson trajados de terno e gravata e vestidos de festas: tafetás apocalipticamente laranja, cetins deslizantes amarelo-canário e violeta ajustados ao corpo, seda branca como espuma já manchadas de vinho.

Eles dão tapinhas na cabeça de Harry e piscam para ele. Alguém vestido de dourado diz:

- Pobre ovelhinha.

- Méééééééé, tolice - faz Harry, seguindo em frente. A camisa dele é verde, de veludo cotelê refinado. Pinica nas axilas. O interesse de Harry nessas coisas é meio profissional. A mãe, Anne (que nos últimos seis meses viveu em uma cadeia em Phuket, onde ficará por ainda muitos anos), era camareira e confidente de Elspeth Tomlinson.

Erik é filho de Elspeth. Harry é afilhado de Elspeth.

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MY TRUE LOVE GAVE TO ME | L.S.Where stories live. Discover now