ANGELS IN THE SNOW

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ANJOS NA NEVE
Versão original por Matt de la Penã
+11.000 palavras

・。。・゜☆゜・。。・゜      

Eu não contei a ninguém como as coisas estavam péssimas para o meu lado.

É, talvez meu velho pudesse pôr algumas notas em um envelope e mandar para o meu apartamento no Brooklyn (onde as chances de serem roubadas por um bando de gângsteres eram enormes), mas ele tinha as próprias preocupações. Estava economizando para mandar minha irmãzinha para o acampamento de verão. E nosso cachorro, Peanut - provavelmente o vira-lata mais pulguento e dentuço que já existiu -, precisou extrair um dente de emergência. Eu sei, ok? Cachorro com o dente podre precisa de cuidados odontológicos. Tudo bem. Mas, segundo a mana, o procedimento custou mais de trezentos contos, e meu velho precisou negociar a forma de pagamento.

Tudo bem.

Só passei um pouco de fome nos últimos dias.

Nada de mais.

- Hijo - disse ele ao telefone no meu primeiro dia como babá de gato em horário integral. - Está tudo bem na faculdade?

Coloquei o violão de Mike no suporte.

- Tudo bem.

- Que bom.

Pensei na palavra "bom". Quantas vezes nós dois usamos essa bosta de palavra nos últimos dias? Meu velho porque não confiava em seu inglês; eu porque não queria que ele achasse que estava tentando me exibir.

- No ano que vem vou comprar a passagem para você vir passar o Natal em casa - disse ele. - Você, Lottie e eu seremos uma família novamente. Como deve ser.

- Parece bom, pai.

Ele ainda não sabia, mas no próximo Natal eu já queria estar morando perto de casa de novo, no sudeste de San Diego, e estudando na faculdade local. Todos parecem acreditar que eu me dei bem em Nova York - em tese, talvez eu tenha me dado bem mesmo. Bolsa integral na Universidade de Nova York. Professores que me faziam ver além a cada aula. No entanto, para entender por que resolvi abandonar tudo logo depois do primeiro ano, você teria que ler os e-mails que minha mana tem mandado. 

Algumas noites, meu pai - o homem mais durão que já conheci - chorava até pegar no sono. A mana o ouvia do quarto dela. Ele não jantava a menos que ela o arrastasse até a mesa e o fizesse se sentar diante de um prato de comida. Resumindo: lá em casa, os perrengues da vida real estavam acontecendo. Sofrimento de verdade. E lá estava eu, do outro lado do país, vivendo a melhor fase da minha vida.

Seria impossível descrever o peso da culpa.

Houve uma longa e constrangedora pausa na conversa - ainda precisávamos dominar a arte de falar ao telefone -, antes que meu pai limpasse a garganta e dissesse:

- Ok, hijo. Tome cuidado com esse temporal. Os jornais estão dizendo que só vai piorar.

- Vou tomar, pai - falei. - Diga a Lottie para ficar longe dos marmanjos.

Nós nos despedimos e desligamos.

Guardei o celular e fui até a despensa de Mike pela ducentésima vez. um saco de pão multigrãos para cachorro-quente e uns sachês de ketchup perdidos. E só. A geladeira de aço inoxidável não estava muito melhor. Uma barra de chocolate meio amargo fechada, um saco de minicenouras pela metade, dois iogurtes naturais e uma garrafa de vodca de boa qualidade. Como era possível ter tão pouca comida em um apartamento tão bonito? 

MY TRUE LOVE GAVE TO ME | L.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora