THE BOY WHO WOKE THE DREAMER

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O GAROTO QUE DESPERTOU O SONHADOR
Versão original por Laini Taylor
+10.000 palavras

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Se você está interessado em alguém da Ilha das Penas, é tradição deixar presentinhos para essa pessoa em cada um dos vinte e quatro dias do Advento.

Sem ter a quem amar - e sem querer amar ninguém -, Harry Styles acordou sem expectativas no 1° dia de dezembro. Bom, isso não é verdade. Ele esperava chuva, porque, em um dia de dezembro, a chuva era tão certa quanto raposas famintas. E esperava silêncio, porque era isso que tinha em abundância desde que Kendall e Kylie haviam morrido juntas no último verão, deixando-o sozinho naquele lugar esquecido. Ele esperava apenas mais uma colherada da mesma tristeza dolorosa que novembro lhe servira, só que mais fria. Pelo que Harry sabia, as coisas eram assim: não existiam surpresas boas, apenas ruins. À noite, quando ele pegasse seu único e estimado livro do baú para ler junto à lareira, ele teria as mesmas histórias de sempre, e assim também seriam seus dias, até o fim.

Seus pés penderam pela lateral da cama como dois pesos de chumbo, e a primeira respiração da manhã, após se sentar, foi um suspiro.

- É cedo demais para suspiros - disse ele em voz alta.

Agora falava sozinho o tempo todo. Usava a voz para fatiar o ar pesado e impedir que ele O esmagasse.

- Se eu gastar toda a minha decepção antes do café da manhã, o que vai sobrar para o resto do dia?

Ele sorriu para si mesmo por ser tão amargo. Pensou na Dama Sonolência da fábrica, cujo conselho para as garotas era: "Tenha uma vida amarga, assim os corvos não gostarão de você quando morrer."

- E por que eu deveria privá-los de alimento? - Harry reagira porque, antes daquele verão, ele ainda tinha um quê de atrevimento. - Eles também não merecem uma guloseima?

- E você quer ser essa guloseima?

- Por que não? - perguntara Harry. - Por que vou me importar com a minha carcaça quando tiver terminado de usá-la?

E desde então Dama Sonolência passara a chamá-lo de Comida de Corvo e não mais por seu nome. Não importava que o apelido não fizesse mais sentido. Harry acreditava que, naqueles dias, devia ser o pedaço de carne mais amargo da ilha - ainda mais com o Natal chegando e após suas melhores amigas terem partido para sempre.

As irmãs Kendall e Kylie. Assim como Harry, elas eram parte do grupo de crianças levadas para lá doze anos antes: órfãos da peste que assolou a Colônia Fracassada, comprados baratos para trabalhar duro; no campo ou na fábrica. A comida era escassa e as camas muito finas, nas cabanas açoitadas pelo vento atrás da Fazenda Cemitério. Para todos eles, a luz no fim do túnel era: seriam livres quando chegassem à Idade. Eles a chamavam de "Idade", simples assim, como se fosse a única que importasse. A Idade era dezoito anos, e quanto a "livre"... O que significa ser "livre" para órfãos trabalhadores libertos com os bolsos cheios de ar, em uma ilha no meio do grande e maldito Gliding? A passagem de navio custa mais do que suas vidas valem, e alguns garotos optam por pagar esse preço só para ir embora. Alistam-se em uma tripulação com um contrato que teriam sorte de quitar antes dos cinquenta anos... E que marinheiro no Gliding já chegou aos cinquenta?

Por isso a maioria dos garotos e todas as garotas ficavam na Ilha das Penas, porque, embora um navio fosse gostar de levá-las, seria um tipo diferente de contrato, e ninguém - ninguém - seria capaz de odiar tanto a ilha a ponto de fazer essa escolha. Então "liberdade" significava apenas uma coisa: ser livre para se casar, e era isso o que todos faziam. As garotas que davam sorte chamavam a atenção não de um garoto, mas de um homem (não faltam viúvos na Ilha das Penas) -, e aquelas com menos sorte atraíam o olhar de um comerciante recém-chegado à cidade portuária. As menos sortudas de todas? Acabavam com um garoto da casta do próprio Harry, um "órfão da peste" que não possui nada além de mãos calejadas. E, ah, claro, é preciso deixar claro que casamentos entre duas pessoas do mesmo sexo era raras, mas não impossíveis. Quando acontecia, todos ficavam felizes. Isso diferenciava a Ilha das Penas de qualquer outro lugar no mundo afora. Era alguns dos poucos pontos positivos naquele lugar.

MY TRUE LOVE GAVE TO ME | L.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora