Onze

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×Samyra×

Acordo por voltas das 5:15am e vejo meu pai requentando o café que provavelmente ele fez ontem. Chego perto e beijo seu rosto.

_Estou indo embora hoje._Falei me encostando no balcão da cozinha._Minha mãe aceitou bem a sua mentira?

_Se empolgou no momento em que eu disse que ela teria outros alimentos para comer além de repolho e cenouras._Ele me estende um copo com café._Você vai ficar bem, Samyra? Você promete pra mim que vai ficar longe de encrenca?

Torci a boca e levantei as sombrancelhas. Meio tarde demais pra me pedir isso, mas terei que prometer pra deixar seu coração mais aliviado.

_Prometo._Digo por fim._Então, me prometa que não vai mais doar. Eu não quero mais o senhor doando e arriscando sua saúde que já está frágil. Estamos entendidos, Senhor Roberto Andrade?

Ele sorriu e bagunçou meus cabelos com a mão. Eu queria vê-lo assim... Sempre!

_Não se preocupe. Eu prometo.

_O dinheiro que receberei será suficiente para os remédios da mamãe, colocar comida boa na mesa e cuidar da saúde de vocês dois._bebo um gole do café._Acho que ainda sobra pra gastos pessoais.

_Samyra..._Ele repousa a xícara dele na pia e se vira pra mim._Só temos você nas nossas vidas. Procure se cuidar e sempre venha nos ver. Não nos abandone.

Sorri e o abracei forte. Eu nunca os abandonaria. Eles são meus alicerces, minha vida. Darei meu sangue, literalmente, para vê-los bem.

_Agora vou despedir-me da dona Loretta._Deixei minha xícara na pia e fui em direção ao quarto dela._Acordada?

Ela não responde e apenas se move virando-se para me ver. Vi seus olhos cheios d'agua e sentei-me do seu lado na cama.

_Aconteceu alguma coisa?_Pergunto aflita pelas suas lágrimas._Está sentindo dor?

_Sim, Samyra._Sua voz é baixa._Você está indo pra longe de mim. Quer dor maior?

_Pense pelo lado positivo._Engoli o nó que se formava na minha garganta._A senhora não vai mais comer sopa de repolho e vai ter as coisinhas que lhe faltam. Lembra do batom que a senhora sempre usava? Acho que era...

_Vermelho intenso._Ela completa e força um riso._Cuidado, Samyra. Procure ficar longe dos vampiros.

Afirmei com a cabeça e beijei sua testa. Saio fechando a porta e deixando algumas lágrimas caírem.

Fica bem, mãe...

Me direcionei até meu quarto e fui tomar um banho rápido. Coloquei um vestido florido acima do joelho e uma sandália rasteira. Era a única que não vendi por pena. Penteei os cabelos e os prendi num rabo de cavalo. Passei umas gotas de perfume e coloquei um gloss nos lábios. Meu pai me ajudou a carregar as malas para frente de casa e me fez prometer que iria ficar bem novamente. Prometi.
Ao longe vejo Vera e seu pai caminhando em nossa direção.

_Já já eles vem nos buscar._Ela fala me abraçando._Pode deixar as malas aí, pai. Fique tranquilo que sempre estarei por aqui pra encher seu saco.

Seu Mário sorriu e beijou a testa da sua filha indo embora logo depois. Vi seus olhos encherem de lágrimas, mas logo ela as enxuga forçando um sorriso.

_Agora me conta como foi ontem._Pergunto empolgada.

_A Alícia é jogo aberto._Vera sorri._Mordeu meu pulso pois disse que não queria me traumatizar de início. Prometeu ser legal comigo e só se alimentar quando necessário. Não é maneiro?

Estranhei essa "simpatia" toda vinda dessa vampira. Somos contratadas pra fazer parte das refeições deles e não suas amigas.

_Estranho._Foi a única coisa que disse.

_Você está é com ciúmes que eu terei uma nova amiga._Vera dá língua e eu sorrio._Deixa de ser careta, Samyra. Aposto que o gato do seu dono foi todo delicado.

_Há há há._Forcei uma risada irônica._Aquele bruto mal fala, me encheu de ordens e ainda morde meu pescoço me fazendo desmaiar de tanto que ele sugou. E pra acabar de terminar, ele me deixa desmaiada no chão do quarto. Nem pra me colocar na cama ele serviu. E aí, Vera? Ele é muito delicado, não acha?

Ela me olha com os olhos arregalados e depois parece se lembrar de alguma coisa.

_E aquele curativo no seu pescoço?

_Hm..._Desvio o olhar para o chão._Foi ele que fez.

Nesse momento o carro para onde estávamos e o mesmo motorista carrega nossas malas pra dentro do carro. Entramos no carro e seguimos para nossa "nova casa".
A missão aqui é criar um vínculo de amizade com meu dono para descobrir coisas para a Resistência. Essa missão é quase impossível pois o cara mal fala.
Depois de alguns minutos, chegamos ao Palácio.
Reconheço os dois homens que vem em nossa direção. São os transformados da casa.
Eles pegam nossas malas e vão andando na frente. Vamos seguindo-os.

_Não irei ser formal pois já fomos apresentadas._A velha ranzinza aparece do nada._Samyra e Vera, sigam-me.

Ela segue logo atrás dos transformados. Entramos na mesma ala que na noite anterior e logo entramos no quarto dos doadores.

_Acordem!_Ela praticamente berra._Daqui a 15 minutos eu voltarei para levá-las para comer. Enturmem-se!

Os dois homens deixam nossas malas dentro do quarto e vão embora sem nos olhar.

_Espero que ela não venha querer cismar com meu cabelo._Vera fala me fazendo rir.

_Aconteceu um terremoto?_A voz sonolenta de Fabricia preenche o quarto._Olha só quem chegou, pessoal!

Todos se voltaram para nós e saíram de suas camas para nos receberem. Eu e a Vera ficamos em um beliche, eu em cima e ela em baixo. Tinha um guarda-roupa pequeno que dividiríamos. Já estava muito bom. Devidamente instaladas, ficamos conversando com os nossos novos amigos.

_Sentiram medo ontem?_Liv, que tinha muitas marcas pelo corpo, pergunta curiosa.

_Eu não!_Vera exclama._Mas o dono da Samyra a fez desmaiar... De amores.

_Para com isso, Vera!_Dei um tapa no seu ombro e ela se pôs a rir._Ele me fez desmaiar, mas não foi de amores, não. Foi de tanto sugar de mim.

Vi que alguns arregalaram os olhos pro meu lado. Espero que isso não se repita muitas vezes. A sensação é horrível.

_Vamos doadores?_Claire aparece na porta._Vamos logo que já já seus donos precisarão se alimentar.

Muitos foram lavar seus rostos bufando de tédio. Acho que comer pra depois virar comida não era uma coisa muito boa. Principalmente pra quem já estava exausto de tantas mordidas.

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Cercada por eles (POSTANDO NOVAMENTE POR TEMPO LIMITADO)Where stories live. Discover now