Cinquenta e quatro

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×Albert×

Pelo que percebi, a Samyra saiu do meu quarto fumegando. Jogo-me na cama bufando prolongamente. Por que as mulheres tem que ser assim, hein? Tem essa mania louca de querer dar nome a tudo. Se está rolando algo, tem que ser namoro. Se já faz tempo que está junto, tem que noivar. Urgh!
Me direciono até a janela do meu quarto e vejo uma silhueta de alguém no jardim. Melhorando mais a minha visão, vejo que é a Samyra. Ela está com as mãos estendidas para o céu.

_Estranho._Sussurro.

Não demora nada e ela cai no chão. Nesse momento eu pulo a janela e vou ao seu encontro na minha velocidade vampírica. Ela está muito pálida e fria. Parece até que está morta. Encosto o ouvido no seu peito e não ouço os batimentos do seu coração.

_Ei, não morre._Faço massagem cardíaca nela._Por favor, não morre.

Quando uma ideia louca passou pela minha cabeça e eu estava prestes a colocá-la em prática, ouço a voz da Claire.

_O que aconteceu com ela?_Ela se ajoelha perto da Samyra._Afaste-se, Sr. Albert.

Claire grita pelos doadores e logo todos eles aproximam-se. Vejo Vera correndo em direção a Samyra já chorando.

_O que aconteceu com ela, Claire?_Vera praticamente berra e seus olhos caem em mim._Foi você, não foi?

_Acalme-se, Vera. O Sr. Albert não tem culpa de nada. Liguem para uma ambulância e avisem aos Mansonni que estou indo para o hospital com ela.

Um dos doadores foi ao Palácio e outra foi ligar para a ambulância. Por breves segundos meus olhos encheram-se de água, mas tratei de disfarçar. Samyra estava extremamente branca e sem vida. Eu não ouvia mais o coração dela.
Escuto passos apressados vindo em nossa direção.

_O que aconteceu, Albert?_Tio Inácio toca no meu ombro encarando Samyra._Você a matou?

_Não, tio. Vi da janela do meu quarto ela caindo aqui no jardim e vim o mais rápido que pude._Eu controlava a voz pra não falhar._Não tenho culpa de nada.

_É simples. Se ela morreu, só é arrumar outra doadora._Ouço a voz de Sabrinne._Agora vamos voltar lá pra dentro. O clima lá está mais animado.

Me segurei muito pra não lhe dar uma tapa. Tio Inácio mandou Soraya e Bryan levar Sabrinne lá pra dentro. Dispensou os transformados e foi ligar para prepararem equipes médicas para Samyra. A ambulância chega e os socorristas descem colocando Samyra em uma maca.

_Eu irei com a garota._Claire entra na ambulância tomando a frente._Eu ligo dando notícias.

A ambulância vai embora numa velocidade acima do normal. Era caso de urgência. Eu já não sentia mais o coração dela. Alícia me abraça forte.

_Ela vai ficar bem._Ela sussurra._Vamos entrar.

_Me deixa aqui._Digo olhando para o caminho que a ambulância levou a Samyra._Depois eu entro.

Alícia assente e vai embora. Sinto outra pessoa se aproximando.

_A garota é realmente importante pra você, não é?_Bruna diz colocando-se do meu lado.

_Tem a importância de uma doadora.

_Tem a importância de uma mulher na sua vida._Ela rebate._Boa noite.

Ela também vai embora deixando-me sozinho. Ouço Vera ajoelhada chorando onde antes Samyra estava desacordada. Uma outra doadora ajuda ela a entrar. Escuto passos leves vindo em minha direção novamente. Eu estava me preparando para pedir pra me deixarem só quando vejo uma pequena figura na minha frente.

_Isso é pra você._Emilly me estende um papel. Melhor dizendo, uma carta._Melhor ler logo. É da Samyra.

Ela assente e vai embora. Me sento no chão, abro a carta e começo a passar os olhos em seu conteúdo.
Nas primeiras linhas já leio a palavra perdão umas três vezes. Deduzo que a Samyra fez merda. Continuo lendo na mesma velocidade que comecei. Meu rosto foi mudando de expressão a cada frase que eu lia. Eu não sabia se ficava com ódio ou pena da Samyra.

Eu realmente não estava conseguindo discernir o que eu sentia. Depois de ler a carta completamente, apertei o papel com força. Meus olhos perderam-se na imensidão do céu estrelado. Senti algo molhado saindo dos meus olhos e escorrendo pela minha face. Estranhei aquela atitude vinda da minha parte. Mas o que eu poderia fazer? Eu não consegui controlar.

Minha mente doía tentando assimilar tudo que li. Era muita informação mesmo que para um vampiro. Eu não sabia por quê a Samyra levou tudo isso adiante se ela dizia que me amava. Era só ter me dito que seus pais estavam sendo ameaçados. Mas não quero focar nisso agora. Tem uma bruxa acordando dentro dela. E a Resistência quer usá-la para se vingar de Héctor. Eu não sei como poderei resolver tudo isso sem pedir ajuda de ninguém. Meu pai juntamente com sua mulher chega amanhã e o tio Inácio precisa ir falar com o Héctor sobre essa história de bruxa. Isso vai ser o caos. Se descobrirem que a Samyra está comportando essa tal Salim vão querer matá-la.

O que eu irei fazer?

Depois de bastante tempo, resolvo entrar. Subo direto para o meu quarto e vou tomar um banho. Encosto a cabeça no travesseiro e fico atento para qualquer nova informação. Sei que não dormirei pois minha cabeça dói muito. O incrível é que nunca tive dor de cabeça. Isso se deu depois que li a carta de Samyra contando sobre a vida de Salim e etc.
Por volta das 02:34am alguém bate na porta. Levanto e abro a mesma. Era tio Inácio.

_Estou indo viajar._Ele diz com uma pequena malinha na mão._Volto ainda hoje. Cuida da sua doadora. Voltarei com notícias.

Assinto e ele some por entre o corredor. Aproveito e vou em direção a sala, mas sou interrompido pela Bruna.

_Também não conseguiu dormir?_Ela está encostada na parede com uma camisola vermelho sangue.

_Não estou conseguindo._Respondo com desdém._Melhor cuidar da Resistência hoje por enquanto que o Inácio está fora.

_Pode deixar. Ele já me pediu isso._Ela vem em minha direção._Eu ainda não acredito que você esteja interessado na humana. Você conhece as regras. Ainda assim está querendo se arriscar.

_Isso é problema meu, Bruna._Respondo com chateação._Me acho homem suficiente pra saber resolver minhas coisas sozinho. Não preciso da opinião de ninguém. E não é você que vai me ensinar as regras da sociedade.

Ela se cala e eu vou em direção a sala. É como os humanos dizem: Melhor sozinho do que mal acompanhado.

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Cercada por eles (POSTANDO NOVAMENTE POR TEMPO LIMITADO)Where stories live. Discover now