Capítulo 4: Saudade

29.6K 2.1K 1.8K
                                    

~Leah ON~

O fim de semana havia chegado, mas quando achei que ia dormir até mais tarde no sábado acontece o extremo oposto. Precisei acordar três horas mais cedo que o habitual. Toda a família iria passar o sábado e o domingo na casa dos meus avós. Eu amava ir para lá. Ficava a quase duas horas do centro, era uma casa amadeirada, próxima à montanha, cercada de árvores com troncos grossos, o lugar era aconchegante. Tinha até um lago a apenas alguns passos da casa. Era uma tranquilidade só, a casa mais próxima ficava a uns 100 metros.

Já havia arrumado minha mochila na noite anterior. Mas Charlie deixou tudo para última hora e atrasou toda a família. Minha mãe berrava tanto com ele que pensei que a casa ia cair.

- Victoria, para de gritar, eu ainda nem acordei direito- meu pai reclamou enquanto estávamos comendo nosso café da manhã.

- Charlie só funciona na base do grito, eu falei para ele arrumar as coisas ontem mas não... Ele tem que ser lesado igual o pai. - Ela revirou os olhos e bebeu seu café. Acho que minha mãe deveria voltar a tomar seus chás porque ela está bem estressada nesses últimos tempos.

- Você era mais bagunceira que eu, do que está falando? Jones, você não perde uma oportunidade de jogar a culpa dos genes ruins em mim. Impressionante. - meu pai arfou.

Os dois se encararam com os olhos semi serrados. Já até sabia o que era isso. Argh. Eram as suas preliminares. Meus pais eram assim, adoravam discutir pelas coisas mais pequenas possíveis. Só para depois fazerem as pazes de uma forma que logicamente eu não quero nem pensar.

Eu engasguei quando Tio Ben chegou na cozinha, ele estava de bermuda e uma camisa de botões azul clara e com boné virado para trás, ele parecia ter uns cinco anos a menos. Faríamos um casal tão lindo... Senti seus lábios tocando minha testa, ele me beijou delicadamente.

Engoli em seco com a vontade que tive de ter aqueles lábios tocando os meus. Será que eu não conseguia entender que nunca iria acontecer? Fiquei parada observando todos os seus movimentos. Em determinado momento ele notou que eu estava olhando ele comer. Sorriu. Depois olhou para baixo. Acho que ele devia entender que eu era uma adolescente, meus hormônios estavam fervendo dentro de mim, devia entender que eu o notasse. Talvez... Será que ele entendia?

Depois de muita gritaria, logo estávamos no carro, minha mãe dirigia, meu pai estava começando a fazer a playlist da viagem no carona e nós três atrás. Eu estava entre meu irmão e meu tio. Colocamos o cinto e partimos pelas ruas de Holmes Chapel.

Ao som de Coldplay, eu percebi que aquela seria uma viagem mais longa que o comum. O perfume dele estava me invadindo, queria abraça-lo, beijá-lo. Por isso antes de mais nada, eu estava travada, totalmente parada. Até que sua voz falou comigo, tão perto do meu ouvido que tremi instantaneamente.

- Preocupada com alguma coisa minha linda? - ele perguntou. Demorei uns cinco segundos para de fato me mexer. Minha linda... Shit, vou morrer.

- Não, eu só tenho umas provas na próxima semana, nada demais. - Menti. E então sinto seu braço me envolvendo e sou delicadamente puxada para seu peito.

- Se precisar de ajuda, estou aqui. - ele apoiou sua seu queixo em minha cabeça e ficamos assim praticamente a viagem inteira, eu não queria sair mais dali.

Em determinado momento da viagem meus pais deram as mãos, eles ficaram assim por vários minutos. A história deles também tinha sido complicada, eram irmãos postiços. Mas nada se comparava a gostar de alguém do mesmo sangue. Isso é até crime em vários países. Nem sabia disso, porém pesquisei por todas as circustâncias. Era um enorme tabu, nem ouso pensar que um dia isso seja considerado normal. Não vai acontecer.

Entre VírgulasΌπου ζουν οι ιστορίες. Ανακάλυψε τώρα