Semana 1

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– Tá tudo bem?

– Sabe quando você passa por uma decepção e não tem a quem culpar, além de si mesma? Sim, eu me decepcionei. É o que acontece quando você espera demais de quem não te deve porra nenhuma, não te deveu nada em momento algum e você ainda insiste que sim...

– Sim, ela deve pelo menos te respeitar e te tratar bem – interrompeu o meu monólogo.

– E quando você começa a gostar... – respirei fundo. – A gente passa a confundir, né?! É uma merda.

Parei por um minuto, olhei para ele do meu lado, que não tinha obrigação nenhuma de ouvir o desabafo de uma jovem revoltada, mas, ainda assim, estava ali.

– Qualquer ato de gentileza, qualquer forma inédita de carinho, qualquer beijo na testa ganha o rótulo de interesse em algo mais e não é bem assim, ainda mais pra um FILHO DA PUTA – gritei, gritei porque eu era louca e ele riu.

– Quem é o filho da puta da vez? – perguntou.

– Um colega de trabalho – dei de ombros. – Convivência faz isso com as pessoas.

– Já tentou conversar com ele sobre os seus sentimentos?

– Já, é por isso que tô decepcionada, acabei focando nele e esquecendo de mim... E ele é do tipo egoísta demais pra perceber – falei, se era pra desabafar, que eu ficasse leve após isso. – Atencioso, sabe como conversar, sabe como conquistar, ainda assim não é o tipo barato de homem que faz mulheres como eu manter distância por sentir nojo. Ele não joga cantadas ensaiadas, ele te conhece primeiro e te cativa pelo jeito dele de ser, mas lembrando que ele é egoísta, coisa que percebi depois que acordei pra vida, faz isso tudo porque ele tem um único objetivo, ele não quer ficar sozinho. Ele morre de medo disso.

– Vem cá, você faz psicologia? Eu realmente fiquei com medo dessa sua análise sobre o cidadão em questão – Theo riu, me olhando um pouco assustado.

– Não, por mais que eu ache interessante, não nasci pra biológicas. É só o que eu consegui interpretar sobre ele, posso estar muito errada em relação a tudo – fiz uma careta. – De novo, já tive uma visão errada sobre ele.

– Ele fez você pensar que era a única na vida dele? – questionou, ultrajado.

– Pois é.

– Homens são idiotas, Pam.

– Vai nem defender sua raça?

– Só tô compactuando com o seu momento de raiva.

– Assim você não me deixa nem ter um pouquinho de esperança, apesar de que já desisti da minha vida amorosa.

– Claro – ele sorriu. – E você vai pintar o cabelo cada vez que desistir da sua vida amorosa? – apontou para os fios mais claros que o habitual que estavam presos com um laço e provavelmente estavam muito bagunçados.

– Cansei de ser morena. Aliás, preciso dar um ar novo pra isso aqui – indiquei o meu rosto. – Posso estar magoada, mas as pessoas não precisam saber disso.

– Obrigado, não sou ninguém – constatou e eu dei uma risada nervosa, quase pedindo desculpas, mas ele logo levantou a mão. – Estou brincando, você ficou ótima assim.

Elogiou e voltou pra dentro da sala, eu tinha saído na sacada apenas para tomar um pouco de ar depois de socar o saco de pancada incansavelmente. Acho que o deixei preocupado, já que foi até ali fora para ver o meu estado. Péssima, eu estava péssima. Mas eventualmente eu ficaria bem, não hoje, entretanto.

– A que ponto chegamos, Brasil – resmunguei sozinha. – Ficar dessa forma por causa de homem, ninguém merece.

Voltei para o tatame e Theo me chamou com a mão, logo as abrindo.

– Desconta tudo, vai.

E aqui está o motivo pelo qual pago cem reais mensais em aulas de boxe, é maravilhoso ter alguém para socar, ainda mais um professor tão exemplar e – vamos manter isso apenas aqui, ok? – gostoso como o Theo. Era revigorante.

Cor de MarteWhere stories live. Discover now