Semana 7 (parte 2)

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8 dias tentando falar com a Pamela. 8 longos dias sem resposta alguma e eu já estava ficando mais do que preocupado, já tinha pensado em ir em seu apartamento e do jeito que ela era ia barrar a minha entrada logo na portaria do prédio. Então decidi respeitar a sua decisão e apelei ao Gustavo para me dizer ao menos se ela estava bem.

Maldito o momento que achei a aliança e decidi colocar no dedo, tinha sido um ato tão simultâneo e impulsivo que só percebi a merda quando ela já estava feita.

Burro. Eu sou um burro.

Quando as coisas finalmente estavam se encaminhando bem e encontro uma mulher que vale a pena, eu idiotamente acho o bendito anel. Não sabia ao certo se aquilo tinha sido um sinal ou não, mas eu tinha certeza que Eloísa queria que eu seguisse em frente. Ela mesma tinha falado com todas as letras que eu ia me apaixonar novamente e a Pam era tão cativante que simplesmente aconteceu.

Não que eu estivesse apaixonado, mas eu gostava muito dela e não conseguia parar de pensar nela nem por um segundo sequer. Pam tinha sido vítima de um puta mal entendido e eu precisava esclarecer aquilo, mesmo ela me odiando por achar que no mínimo sou um homem casado e traí a minha esposa.

Enquanto refletia pela milésima vez e repetia em minha mente o discurso que havia ensaiado nos últimos dias, a loira entrou feito um furacão dentro da sala. Jogou sua bolsa no canto e colocou as ataduras, depois as suas luvas.

Prestei atenção em cada movimento seu, até que ela se aproximou de mim e tinha cara de poucos amigos.

Então fiz o que eu tinha que fazer: deixar que ela me socasse. Cada soco um pensamento diferente de que eu fiz por merecer. Ela fazia jus a expressão "punch like a girl" e eu fiquei imensamente feliz por tê-la ensinado a dar socos precisos.

Eu estava apanhando e ainda assim morrendo de orgulho da Pam.

Quando ela cansou de me socar o sangue escorria pelo meu nariz e eu sabia que um olho estava bem inchado, fora outros pontos que parecia um pouco dormentes. Mas logo ela sumiu pelo corredor do segundo andar e apareceu com gelo e lenços.

– Toma. – Me entregou e eu arranquei as luvas para pegar. – Agora pode começar a falar.

Ela ao menos ofegava, cruzou os braços e a primeira coisa que falei foi totalmente diferente de tudo o que eu havia ensaiado.

– Você deveria competir, aposto que ganha a medalha fácil.

– Não tente aliviar o seu lado na conversa, Theo – disse curta e grossa.

– Eu acho melhor você se sentar – avisei, me jogando no chão e colocando a bolsa no meu olho esquerdo, enquanto limpava com o lenço o pouco de sangue que tinha saído do meu nariz.

– Pode começar – disse, quando se sentou com as pernas cruzadas um pouco distante de mim e eu olhei para o teto, sentindo a minha cabeça latejar.

– Eu não sei como contar isso sem chocar as pessoas, mas lá vai: eu sou viúvo – confessei e eu queria muito poder ter visto o rosto dela, porém ela ficou em silêncio e eu não consegui levantar a cabeça para vê-la.

Droga, estava mesmo enferrujado, não deveria nem ter me inscrito depois de tanto tempo para uma competição no mês seguinte.

– Como assim viúvo? – ela perguntou com a voz agora mais contida e baixa.

– Ela morreu ano passado de Leucemia – gemi baixo pelo gelo estar literalmente congelando além do meu olho. – A gente teve tempo pra se preparar, mas sabe, quando chega a hora você percebe que nunca esteve preparado e nunca estaria. Foram 6 anos de casamento e ela me dizia que eu não deveria parar a minha vida por causa disso, nós só tínhamos uma vida e ela merecia ser vivida plenamente. E ela viveu a dela, cada segundo. Ela não deixava de sorrir um dia sequer, mesmo sentindo dor...

Respirei fundo, mergulhado nas minhas lembranças, mas ouvia Pam chorando baixinho.

– Eu sinto muito – fungou e eu me sentei, tirando a bolsa do olho e abrindo os olhos para vê-la.

– Tá tudo bem, de verdade. No início passei pelo luto, mas depois eu aprendi a lição e ela era quase como uma receita para me manter firme. Viver cada dia de cada vez, cada dia como se fosse o último, sorrindo independente das adversidades. Eu fazia isso por ela, depois que entendi tudo eu passei a fazer por mim. Foi uma fase de perdão e autoconhecimento muito forte.

Falei tudo que se passava pela minha mente e Pam balançou a cabeça, secando as lágrimas.

– É muita coisa pra processar, me desculpa – soltou uma risadinha de si mesma.

– Eu que peço desculpas por você ter descoberto daquela maneira, foi infeliz da minha parte fazer aquilo. Fazia um tempo que tinha perdido a aliança e quando achei coloquei no dedo automaticamente, perdão – pedi e ela balançou a cabeça.

– Tudo bem, eu acho.

– Pensei em te contar que era viúvo na hora, mas você ia achar que era uma desculpa bizarra – sorri tentando acalmá-la.

– Ia achar que você estava matando a sua esposa só pra arrumar uma desculpinha – disse. – Mas é sério, eu acho que entendo porque não me contou antes e vou processar isso tudo, só preciso de um tempo.

– Eu queria esperar mais um pouco para te contar... Quando as coisas ficassem sérias – acabei falando e ela me encarou.

– Sérias?

– Talvez, não sei se é precipitado demais dizer isso, mas eu realmente gosto de você, Pam. Sei que precisa absorver as coisas agora e eu continuarei aqui, se você quiser é claro, a gente pode levar tudo devagar.

– Eu... – Pam respirou fundo. – Eu quero.

Peguei a bolsa de novo e coloquei no meu olho novamente, percebendo o quanto Pam ficava gostosa com aquela roupa apertada e o cabelo preso em um rabo de cavalo. Logo me livrei daqueles pensamentos quando ela abriu a boca e fechou, parecia curiosa ainda.

– O que quer saber? Pode perguntar.

– Posso vê-la?

Concordei e fui em busca do meu celular para mostrar a ela, entrei no facebook de Eloísa e a entreguei. Pamela ficou alguns segundos encarando a foto do perfil antes de sorrir.

– Ela era tão linda – disse, estava vendo agora a última foto que Eloísa tinha postado com o lenço, um sorriso no rosto e olhos verdes que brilhavam muito mais que esmeraldas.

– Ela era.

Cor de MarteWhere stories live. Discover now