Semana 4

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– Toda noite assim, do mesmo jeito. Fica tranquila, moça, eu te entendo – eu, a maior viciada em Kafé que você respeita, coloquei A lei para tocar na aula de boxe.

Maldito o dia que Theo me deu liberdade para colocar as músicas do meu celular no aparelho de som, podia apostar que ele não me aguentava mais, mas quando olhei para ele o encontrei balançando a cabeça como se estivesse curtindo.

– A lei é não cair na doce ilusão, né – cantarolei e dessa vez ele balançou a cabeça como se concordasse.

– Hoje eu vou te ensinar o swing –Theo anunciou, depois que coloquei a luva.

– É o que? – Não consegui não arregalar os olhos e ele riu.

– Que mente depravada.

– Porra, olha o nome do golpe, pelo amor.

– Vamos lá, Pam, foco – pediu. – Olha, eu vou fazer os movimentos e você tenta imitar.

– Ok.

E então ele me mostrou socos que vinham de cima para baixo, era como fazer uma natação sem água e curvava um pouco mais os braços, além de ser algo que movimentava o corpo inteiro. Ficamos repetindo aqueles socos por vários minutos até que eu pegasse, claro que ele estava sempre tentando me corrigir. Por fim ele pediu para eu testar nele – sem realmente socá-lo – para que ele me mostrasse como se defender daqueles tipos de socos, explicando também que era um golpe que se eu acertasse em uma luta seria nocaute, fora outras coisas.

No final da aula foi quando decidi ter coragem para contar a novidade para ele, uma novidade que eu tinha demorado muito para absorver e me contentar.

– Theo?

– Oi?

– Eu "terminei" o que quer que Gustavo e eu tínhamos.

– Quando isso?

– Domingo.

A aula tinha servido como uma ótima descontração, mas falar de novo sobre aquilo me deixou um pouco triste, fora o fato de eu ter demorado quase uma semana para admitir isso para a única pessoa que sabia de quase tudo que acontecia entre eu e o amigo.

– Desculpa demorar a contar, de certa forma.

Theo estava terminando de arrumar algumas coisas e então me encarou, a boca entreaberta por ter feito muito esforço carregando o que quer que ele estava carregando para colocar no lugar.

– Tá tudo bem, você tinha que se sentir confortável pra dizer, certo?

– Acho que sim – respondi, terminando de tirar as ataduras da minha mão. – As pessoas nos veem como amigos, você foi uma das únicas pessoas que contei sobre... A situação.

– Fico honrado por... – Ele abriu um sorriso e logo balançou a cabeça. – Deixa a piadinha pra lá.

– O que você ia falar? – Ri também. – Que você serviu de confessionário? Sabe, acho que você é confiável, sei que posso contar com você.

– Valeu. – Theo piscou e eu peguei a minha bolsa para ir embora, mas não antes de ter sido parada. – Hoje eu que vou te chamar pra sair, acho que você precisa de um pouco de álcool e diversão.

– Um pouco de álcool e diversão? – Perguntei olhando bem na cara dele, não estava muito disposta a encarar uma balada quando eu queria sofá, pipoca e netflix.

– É, o pessoal da academia tinha combinado de ir pra balada e eu não tava muito animado, mas eu animo se você for.

– E ainda dizem que essa coisa de "se você for eu vou" é coisa de mulher.

Cor de MarteOnde histórias criam vida. Descubra agora