Semana 3 (parte 1)

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Theo

– Teodoro! – Pamela chamou a minha atenção e eu a encarei enquanto enrolava a atadura na minha mão.

– Vai começar a cantar e se a casa cair também? – perguntei e ela riu.

– Deixa que caia.

– Engraçadinha.

– Você tem um irmão, não tem? – questionou e eu confirmei com a cabeça. – Chamavam ele de Sampaio?

Soltou uma daquelas risadas dela, parecia criança rindo das próprias piadas e eu não consegui segurar o riso. Pam tinha essa irritante qualidade de ter um ótimo senso de humor, mesmo em um péssimo dia ela ainda arrumava um jeito de fazer a si própria sorrir.

– Você prestou atenção no que eu te disse ou vou ter que repetir?

– Sobre o seu namorado-não-namorado?

– Deus me livre ter um namorado – disse, fazendo uma espécie de alongamento.

– Não faça isso, Pam, se o ruivinho te pedisse em namoro hoje você aceitava.

– Mas ele não vai pedir, então vamos fingir que eu não quero isso. – Parou e fez uma cara feia, enrugando a testa.

– O que foi?

– Não dá pra confiar em alguém que traía a ex-namorada.

– Acho que ele é carente demais – falei, terminando de colocar as minhas luvas de manopla.

– Eu tenho certeza.

Ela ficou em silêncio, terminando de alongar as pernas depois do aquecimento e eu fiquei a observando.

– Pam? – Uma última dúvida. – Você ajuda ele no quesito carência enquanto tenta não se envolver, mas até quando isso vai ser o suficiente pra você? Pelo que tô vendo, você tá pensando nele e deixando de pensar em si mesma de novo.

– Pelo jeito tenho tendência a fazer isso quando o assunto é ele – disse como se aquilo não a abalasse, dando de ombros.

– O que você quer? – perguntei e ela me encarou por longos segundos. – Não precisa me responder, era só pra você pensar mesmo.

Pisquei e me posicionei, logo levantando as mãos.

– Vem!

E ela veio com força. O meu cantinho, a paixão da minha vida, o meu ganha pão, servindo de válvula de escape para muita gente. Era muito gratificante, ser pago para fazer aquilo que gosta e ainda causar esse efeito nas pessoas. Pamela era de longe a minha aluna favorita. Todos os dias eu ensinava mulheres e homens como dar um soco, como dar um chute, se fosse para descontar toda a frustração, que desconte no saco de pancada. Muitos não conversavam além do necessário, outros cantavam todas as músicas que tocava, Pamela confiava em mim e me contava até sobre a diarreia de ontem. Ela era engraçada, mas, ainda assim, me tratava como um amigo, não só como o professor de boxe.

Nem sei ao certo quando ela passou a confiar em mim para contar as coisas, ela fazia aulas comigo há meses e só no mês passado que nos descobrimos no mesmo grupo do whatsapp, então a chamei no privado para perguntar se ela estava bem depois de ter faltado uma aula e ela acabou me contando sobre o amigo colorido. Ela tinha ido direto pra casa dele depois do trabalho e já sabemos a continuação disso.

Pamela era uma pessoa incrível e não merecia um tipo de cara desse quando ela quer muito mais, ainda não admitiu, mas quer. Ela merecia a reciprocidade.

Nossa hora de treino passou rápido, ela estava fazendo o relaxamento quando o Leo entrou na sala rindo alto.

– Theo, descobri quem fez aquela bagunça todo com o papel higiênico no banheiro das meninas. Foi a Luna. – A cadela que a namorada dele tinha.

– A Luna tava aqui? – Pam perguntou.

– Acho que a Giovana trouxe a Luna na hora do almoço e ela invadiu o banheiro feminino, porque a Gio tinha falado que ia levar ela pra tomar banho hoje e tal...

– Ora, ora, temos um xeroque rolmes aqui.

– THEO! – Pamela gritou e começou a gargalhar. – Você citando memes, meu Deus, eu te amo.

– Tão lindo presenciar declarações – Leo disse rindo também. – Foram muitos anos assistindo CSI, queridinho.

– Sei.

– Tô te esperando lá embaixo, Theo – ele avisou saindo da sala.

– Só por curiosidade, seu nome é Theo mesmo? – Pam perguntou e eu até coloquei a mão na cintura. – Sério, não é Theodore ou sei lá?

– Obrigado por me incluir no Alvin e os esquilos agora – soltei um sorriso forçado e ela riu.

– Ok, Theodore.

– É só Theo, feliz?

– Muito.

Ela me ajudou a fechar as janelas e apagar as luzes, já que naquele dia éramos os últimos. Chegando lá embaixo, Leo conversava com um cara que estava encostado na calçada de moto e não demorei a reconhecer que era o amigo da Pam.

– É Pam, teu ruivo veio te buscar. Acho que a noite hoje vai ser boa – brinquei e ela me lançou um olhar feio.

– Essa bipolaridade não te faz bem.

– Sinto muito ser assim.

Nos aproximamos deles e cumprimentei o rapaz, analisei a sua moto por alguns segundos e pensei em elogiar, mas a Pamela já estava colocando o capacete e como conheço caras fanáticos por motos íamos demorar demais no assunto. Eu e Leo nos despedimos do casal (que não é casal) e seguimos nosso rumo.

– O que temos pra hoje, Leozinho?

– A Pam tá só sucesso, hein.

– O que você quer dizer com isso? – perguntei, enquanto caminhávamos até onde o meu carro estava estacionado.

– Que ela tá gata, ainda tá pegando playboyzinho. – Balançou a cabeça como se estivesse decepcionadíssimo com isso.

– Hum – resmunguei e destravei as portas do carro.

– Hum o que? Ela te conta as coisas, né!? Vai pegar ela também?

– Dá um tempo, Leonardo.

– Leonardo? – Ele riu alto. – Para de miserinha de informação, essa porra me irrita.

– Ah, então sai do meu carro.

– Eu tô brincando, oh arrombado.

– Você é ridículo. – Revirei os olhos e dei partida.

Cor de MarteOnde histórias criam vida. Descubra agora