Semana 7 (parte 1)

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Não sabia como tinha ido parar na casa do Gustavo, mas estava ali sentada no chão da sacada dele com uma long neck na mão refletindo sobre minha vida.

Havia se passado uma semana que eu não via a cara do homem-que-me-fodeu-no-sentido-bom-e-depois-me-fodeu-no-mau-sentido, que eu preferia não falar o nome. Tinha passado pela fase da raiva, a fase da tristeza e agora tentava superar isso. Ele me mandava mensagens vez ou outra pedindo para nos encontrarmos para conversar, conversar sobre o que? Sobre o quanto fui otária? Sobre uma proposta de amante em tempo integral? Sobre "vamos deixar isso pra lá, ainda sou seu professor de boxe"?

Ah, por favor, eu sabia muito bem que merecia muito mais do que toda a merda que estava acontecendo comigo.

Eu só podia ter algum tipo de ímã para filho da puta, porque não era possível... Não tinha explicação.

– Vai me contar o que tá acontecendo? – Guto sentou na minha frente e eu o encarei, sabia que as olheiras no meu rosto me fazia igual a uma zumbi.

– Nada está acontecendo, Guto – me forcei a falar.

O ruivo suspirou e olhou para o lado, como se não soubesse mais o que fazer comigo. No fim da tarde eu tinha pedido socorro a ele porque não aguentava mais ficar definhando em casa sozinha.

– Quando você vai falar com ele? – perguntou, direto.

– Não sei do que está falando.

– Porra Pamela, eu aceitei a sua falta no trabalho quinta-feira com a desculpa de ser uma virose, aceitei o seu silêncio e a sua cara de morta na sexta – numerou e eu continuei olhando para a garrafa no meu colo. – O final de semana passou e você não deu sinal de vida, segunda eu tive folga, terça você estava chorando no colo das meninas no trabalho, quarta eu mal tive tempo de ver alguém por lá, mas Theo veio me perguntar sobre você hoje.

Então ele teve a minha atenção. Theo tinha ido falar com ele?

– Ele me disse que você anda faltando as aulas de boxe, geralmente era isso que salvava os seus dias e eu realmente não entendo como você estaria ignorando até ele.

Pendi a cabeça pro lado, analisando bem o que falaria. Me sentia bem mais leve depois de ter desabafado com a Karina na terça-feira, o que me rendeu uma crise maravilhosa de choro. Ainda podia sentir a dor de cabeça se fechasse os olhos.

– Theo não te disse mais nada?

– Deveria?

– Ele é o culpado dessa merda toda, então sim, deveria.

– Eu não acredito que você tá mal desse jeito por causa de homem! – Gustavo balançou a cabeça com o indício de um sorriso no rosto. – Por que não me contou que tinha parado de ficar comigo por causa dele?

Abri a boca chocada com a capacidade do cidadão de ser escroto e respirei fundo antes de começar a esclarecer as coisas.

– Primeiro, eu não parei de ficar com você por causa dele, eu parei porque eu quis. Segundo, quando um cara te engana e fica com você mesmo sendo casado ou sei lá o quê, quando você jurava que ele era uma pessoa certa, esse tipo de coisa te deixa sem chão. Eu não consigo pensar no Theo sem pensar na possível mulher que ele tem em casa e engana todos os dias, todos as horas, todos os minutos, cada vez que ele respira.

Falei tudo de uma vez só e Gustavo escutou tudo, de início até fingiu estar afetado pelo meu corte, mas depois pareceu entender a situação com Theo.

– É, a gente nunca conhece de fato as pessoas – disse.

– Isso é verdade.

– Mas você deveria conversar com ele, talvez ele tenha uma explicação coerente pra isso – falou e eu terminei de tomar o líquido da minha garrafa, levantando para ir a geladeira pegar outra enquanto ele continuava falando. – Eu sei o seu ponto de vista, mas é bom saber o do outro também, Pam, mesmo sendo uma traição.

– Amanhã eu vou na aula – gritei pra ele da cozinha. – Eu vou socar a cara daquele filho da puta.

– Posso assistir?

– Só se você quiser apanhar também – voltei a sentar na sacada e ele me mostrou o whatsapp dele.

– Sua malvada, só porque acabei de pedir batata com bastante cheddar e bacon pra você.

– Até parece que você não vai comer também. – Revirei os olhos e ele bateu a garrafa na minha.

– À nossa amizade.

– À nossa amizade – repeti. – Ainda fico chocada com esses seus momentos emotivos.

– Diferente de você eu tenho um coração e ele é bem quentinho.

– Vai se foder, Gustavo!

– Senti sua falta.

Cor de MarteWhere stories live. Discover now