(Era pra ser a) Semana 8

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Eu pintei o cabelo. De novo. Mas dessa vez tenho o prazer de dizer que não tenho nenhum motivo em especial, eu só entrei no salão e quis mudar. Simples assim.

Mas dessa vez escolhi uma cor que Theo definiu como "cor de marte", tinha escutado na música da Anavitoria que estava na minha playlist e imaginou que a cor era a mesma que meu cabelo.

Cor de marte.

Não era quando estava me sentindo perdida e nem quando queria superar alguém. Era a cor de uma lutadora, ganhadora de um prêmio que ela não sabia nem de onde tinha surgido, era uma mulher que tinha confiança em si mesma e tinha um homem ao seu lado, que caso ela caísse, ele a ajudaria a levantar. Era a cor de uma Pamela reinventada. Uma Pamela que aprendeu tanto por 7 semanas e era tão grata por tudo, que nem sentiu quando meses haviam se passado.

Cor de marte pode até ser sobre a Pamela, mas também era sobre o Theo.

Depois que eu e Theo tivemos uma conversa sincera sobre tudo, decidimos que era hora de recomeçar do 0. Dessa vez íamos fazer as coisas direito, eu como uma nova pessoa depois de todo aquele chororô e ele uma nova pessoa depois de abrir o coração.

Fomos devagar, bem devagar, mas parece que nosso plano de ir devagar falhou... Bem, antes de qualquer coisa, eu preciso voltar em uma semana em especial.


Semana N

Nós tínhamos voltado a Polaris naquela noite de sexta, a boate onde rolou o nosso primeiro beijo, e decidimos que aquele era um ótimo local para ser o nosso primeiro "perdemos a conta" beijo. Theo tinha voltado a treinar pesado e ganhou um campeonato de boxe, brincava que o UFC era o seu próximo passo, mas voltava atrás 10 segundos depois. Ele estava muito feliz trabalhando da academia do melhor amigo e mesmo enferrujado, os campeonatos eram só para lembrá-lo da adrenalina de ser campeão. Bem humilde, como podemos ver.

Mas naquele dia em especial estávamos comemorando a minha promoção no trabalho, finalmente uma posição decente com um salário decente. Agora sim eu podia viver mais tranquila e pagar as minhas contas na paz.

Depois de nos acabarmos na balada, fomos comer no McDonald's e, por fim, estávamos deitados na areia da praia, olhando para a lua enquanto Exaltasamba fazia a trilha sonora.

Tá vendo aquela lua que brilha lá no céu?

Eu costumava admirar a lua, toda noite na faculdade ela era a minha companheira e era reconfortante pensar que agora eu realmente tinha uma companhia. O mau das românticas incorrigíveis. Precisava confessar que eu era uma.

Theo me abraçou ainda mais forte, beijando a minha testa enquanto vinha uma brisa gelada.

Agora eu sei exatamente o que fazer... – Theo começou a cantarolar, fechei os olhos escutando enquanto ele não desafinava nem uma única vez.

Um tapa na minha cara esse homem.

Mal percebi quando meus olhos começaram a lacrimejar pela emoção do momento, o abracei mais forte enquanto a minha frase favorita da música era dita:

– Menina linda eu quero morar na sua rua – disse, passando uma mão pelo meu rosto e selando os nossos lábios em seguida. – Por que tá chorando?

– Você não existe, Theo – sorri sem graça, fungando.

– Mas eu tô bem aqui – me apertou entre os seus braços. – Tenho um segredo pra te contar.

– Então vai deixar de ser segredo.

– Você é impossível – riu, enchendo o meu rosto de beijos. – Eu te amo.

Segurei seu rosto bem na minha frente, olhando dentro dos seus olhos e meu coração pareceu acelerar, mas de uma forma que eu tinha certeza de que era felicidade.

– Eu amo um homem.

– Quem? – Perguntou.

– Estou bem nos braços dele – beijei seus lábios tentando demonstrar todo o amor que eu sentia.

Então eu derreti.

Estava exatamente onde deveria estar: no coração de alguém que sabia como me amar.

 👊👊👊  

É agora que as coisas dão errado? Eu acho que não, depende do ponto de vista na verdade.

As pessoas costumam dizer que o ciclo da vida começa no nascimento, depois a criança é criada, aí vem a adolescência, a vida adulta, onde encontramos um parceiro, nos casamos e depois temos um filho ou vários, ou talvez nem filhos, ou talvez nem casamento tem, mas as pessoas insistem em perguntar "quando vocês vão se casar?", aí o casal se casa: "quando vem os filhos?". Isso é um porre, não que eu seja defensora desse tipo de pensamento, porém, nos meus sonhos de criança, eu imaginava um casamento antes de pensar em ter um filho. A sementinha que os pais plantam na cabeça de uma criança, a experiência de ver os casais ao seu redor namorando, casando e tendo filhos.

Mas quando comprei aquele teste de gravidez pela manhã, eu não imaginava que estaria grávida antes de me casar, não se passava pela minha cabeça que esse dia chegaria muito antes do que o esperado. E incrivelmente eu não estou surtando. Meu pai foi o ser humano mais animado com a notícia, depois de Theo e eu, claro.

E então aqui estávamos nós dois, os pais dessa criança, em uma sala de ultrassom esperando para saber o sexo do bebê. Anna Júlia – como a música – se for menina, Pedro Henrique se for menino. Dois nomes compostos para agradar o pai. A mãe já ficaria feliz com qualquer um.

Theo olhava ansioso pra tela, mesmo não entendendo nada, a médica deslizava aquele negócio gelado pela minha barriga enquanto eu achava que poderia mijar a qualquer momento.

O que as pessoas não contam é a emoção de saber o sexo do filho, aquelas palavrinhas que saem da boca da médica e fazem as lágrimas caírem como se qualquer preparação psicológica antes não fosse o suficiente. Eu nunca tinha visto Theo chorar tanto como vi naquela sala da clínica de mulheres, um choro que me fazia chorar e rir ao mesmo tempo, enquanto ele segurava a minha mão com as suas.

Se aquilo não era amor, eu não sabia o que era. Amor recíproco, amor por uma criança que ainda estava se formando no meu ventre, amor incondicional, amor de todas as maneiras.

Apenas amor.

♡  

Cor de MarteWhere stories live. Discover now