Semana 2

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Eu tinha aulas de boxe 3 dias por semana, das 20 às 21 horas. Era o horário que achei mais conveniente devido ao meu horário de trabalho, dava para chegar em casa, descansar um pouco e ir para a academia. Naquele dia em especial, acabei chegando atrasada porque tinha desmaiado no sofá, cheguei ao segundo andar do prédio da academia e um rock tocava alto.

Theo socava o saco de pancada com uma concentração invejável, então apenas me encostei no batente da porta de vidro e fiquei o observando. Os movimentos dele eram muito mais hábeis e polidos, aliás, ele era o professor, enquanto eu, apenas uma aluna que até pouco tempo mal sabia dar um chute.

A música acabou e ele fez uma pausa, percebendo que não estava sozinho na sala.

– Desculpa – falei, com um sorriso que insistiu em aparecer no meu rosto ao vê-lo sem camisa de frente.

Ele logo pegou a camisa que estava jogada no chão e vestiu, aparentemente era alguma regra não dar aula sem camisa, vai desconcentrar as pobres moças, Theo.

No meu caso, já desconcentrou.

– Tudo bem, mas eu tô com fome e não vou ficar depois do horário – jogou a cabeça para o lado e eu adentrei a sala. – E nem pensar em pular o aquecimento, Pam, andar da sua casa até aqui não é aquecimento.

Revirei os olhos e peguei a corda na estante que tinha no canto da parede, fiz o aquecimento e coloquei as luvas.

POWER do Kanye West começou a tocar e ele me chamou para o meio do tatame.

– Hoje eu quero que você se defenda, quando você cansar faça o que bem entender – ele abriu um sorriso, logo acertando um soco próximo a minha cabeça. – Por que a sua guarda tá baixa, Pam?

Dei um chute nele – que ele deixou eu acertar, diga-se de passagem – e ele riu.

– Já cansou?

– Não, eu mal comecei.

– Será que seu chefe você obedece? – revirei os olhos e ele deu um jab que defendi em um reflexo que tinha adquirido fazia algum tempo.

– Teoricamente sim.

Theo parou de fazer perguntas e fez uma sessão de vários golpes, alguns me acertando sem desconto e outros eu defendia muito bem, até o momento que ele ficou um pouco lento e eu comecei a revidar.

Ele defendeu tudo que eu dei de mim, até que dei um chute lento e ele segurou a minha perna, me derrubando. Então eu estava morta no chão, sem fôlego e exausta.

– Levanta – deu um tapa no meu joelho. – Relaxamento e aí sim eu deixo você curtir a sua sexta-feira.

– Sexta-feira super agitada que vou passar na cama, cheia dos roxos que você deixou.

– Você supera.

Levantei e estiquei o corpo todo, imitando os movimentos dele, e então decidi que queria conversar com alguém aquela noite, e Theo parecia ser uma boa companhia. Provavelmente ele é o tipo de cara que ia chegar em casa, pegar uma cerveja e ligar a televisão, assistir Vai que cola na Multishow e dormir logo em seguida. Mas ele disse que estava com fome, não disse?

– Ei.

Chamei e ele me lançou um olhar não muito agradável que dizia "relaxamento é a hora que cê cala a boca".

E assim eu o fiz, foquei no relaxamento e só voltei a falar depois disso.

– Você tá com fome, eu tô com fome, o que acha de irmos numa pizzaria?

– Não sei... – foi vago e eu decidi tentar novamente.

– Vamos lá, Theo, não se nega pizza. Eu só quero conversar.

Cor de MarteOnde histórias criam vida. Descubra agora