OO3. a garota

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JOSEPH CONWAY

    Parei por alguns segundos para retomar o fôlego antes de abrir a porta de casa e entrar.

Hoje corri mais do que de costume, dei uma volta completa por todo o bairro, e dizer que o mesmo não é tão grande, seria eufemismo, é enorme. Não posso reclamar dessa minha decisão pois alcancei meu objetivo. A exaustão.

Há meses que a tenho como minha maior aliada, é uma ótima maneira de evitar milhões de pensamentos deprimentes. Nunca gostei de pensar de modo demasiado, e depois de um acontecimento nada agradável em minha vida, passei a odiar.

Não comecei a me exercitar só após esse acontecido, faço isso desde os meus quatorze anos, mas agora, este hábito é mais importante para mim.

Se sentir cansado, é sinal de que você esteve tão cheio de afazeres que nem pensou sobre isso, ─ ou sobre qualquer outra coisa ─ durante o dia.

Não, eu não estou falando de exaustão mental, ou de estar esgotado psicologicamente, é mais sobre estar tão ocupado, que você nem se dar o trabalho de ter espaço para a tortura psicológica que são as memórias.

Criar músicas, escrever ou ler, que é uma das coisas que mais amo, é o que faço quando não me exercito. Sou amante da literatura desde muito novo. Me tornei um leitor muito mais compulsivo há alguns meses, me ajuda a evitar lembranças que me causariam frustrações. Me agarro a histórias de pessoas inexistentes para evitar a minha, mas não é por repudiá-la, ou por odiar viver a minha vida, é apenas porque o mundo real pode ser decepcionante as vezes.

Há muitos problemas retratados em livros, mas no final, na maior parte das obras, eles são resolvidos. No mundo real você nunca sabe se tal acontecimento terá um desfecho bom ou ruim, e a maior porcentagem dos desfechos, dependendo da sua sorte, serão péssimos.

Prefiro livros, quase nunca eles me decepcionam.

Respirei fundo para depois expirar com calma. Abri a porta de casa e entrei, segui direito para a cozinha em busca de água.

─ Vovô? O que está fazendo aqui? ─ perguntei bastante surpreso ao me deparar com o senhor de cabelos grisalhos, sentado a mesa da cozinha.

─ Estou cansado de ficar naquele quarto. ─ sua voz rouca saiu um pouco mais frágil que de costume.

─ Como você chegou aqui? ─ questionei enquanto abria a geladeira e pegava minha garrafa térmica com água.

─ Eu estou doente, Joseph, não aleijado.

Não consegui evitar um pequeno sorriso. Ele sempre tenta ser rude, mas se torna engraçado ver um velho de setenta e seis anos, com a aparência frágil, querendo ser grotesco.

─ Fala direito comigo, eu posso arrancar seu marca-passo e te ver morrer. ─ ameacei apontando-lhe um dedo.

Vovô riu. Era óbvio que sabia que eu estava brincando. Nós dois somos assim, adoramos um humor sádico.

─ Eu desci as escadas sozinho, com o auxílio da minha bengala. ─ ele bateu no chão o objeto que segurava. A bengala preta com detalhes dourados era feita com alumínio.

─ Onde estão minha mãe e irmã? Elas te ajudaram a se medicar?

─ Sua mãe saiu há alguns minutos e Lindsay está no quarto.

─ Você tomou os remédios? ─ repeti a pergunta de outro modo.

Vovô ficou em silêncio, e se encolheu, parecia uma criança encrencada prestes a tomar bronca.

─ Pelo amor de Deus, senhor Dorvey Conway. ─ deixei a garrafa que segurava sobre a ilha de mármore a minha frente, e fui em busca dos medicamentos dentro dos armários grudados na parede.

Algumas infinidadesNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ