O1O. ele sabia

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JOSEPH CONWAY

    Deixei meu celular novamente sobre um canto da ilha de mármore e me voltei para a pia, para lavar as minhas mãos.

─ Era o seu melhor amigo? ─ meu avô perguntou.

─ Era sim. ─ confirmei, me voltando para a ilha de mármore novamente, enquanto secava as mãos em um pano.

─ Como ele está?

Encarei o homem sentado à mesa, ainda analisando qual peça do tabuleiro de xadrez ele iria mover. Estamos jogando uma partida juntos.

─ O senhor não vai fugir do assunto, vovô. ─ avisei, pegando a faca que havia deixado sobre a tábua de corte, e voltando a cortar alguns ingredientes.

Estávamos conversando sobre o jantar de ontem a noite antes de Derek, meu melhor amigo, me ligar e eu sair para os jardins dos fundos para atender.

Meu avô finalmente moveu uma peça no tabuleiro e voltou sua atenção para mim.

─ Você sabia quem era a garota, vovô, e não me disse nada. ─ retomei o assunto.

─ Não achei justo.

O olhei confuso, sem entender o motivo daquilo não ser justo.

─ Não entendo, não vejo nada injusto nisso.

─ Você estaria em vantagem, saberia mais sobre ela, do que ela sobre você. Acho que essas coisas devem acontecer naturalmente, vocês se conhecerem.

Uma risada curta e silenciosa escapou de meus lábios, carregada de uma pitada de ironia.

─ E você ter exigido que a família Dicksen inteira comparecesse ao evento não foi interferir nesse acontecimento natural?

─ Não. ─ respondeu simplesmente.

Meneei a cabeça, pensando no quão ardiloso meu avô consegue ser quando quer. Ele falava sobre a Amélia comigo como se não soubesse da existência dela, acho que achava divertido, por isso sempre ficava muito interessado em me ouvir tagarelando sobre a garota da janela que ele sempre soube quem era.

─ Você deveria chamar ela para jantar e cozinhar para ela, mulheres gostam de ser conquistadas pelo estômago. ─ sugeriu.

Franzi as sobrancelhas, o encarando, meu avô sorria, como se tivesse tido a melhor ideia do mundo.

─ Não, vovô, isso é uma péssima ideia. ─ descartei a possibilidade. ─ Eu preciso manter distância de garotas.

─ E você manteve? Ontem a noite, no jantar? Ficou longe dela, Joseph? ─ replicou.

Parei, refletindo. Claramente, eu não mantive distância, mas não sei o porquê. Não sei o que Amélia Dicksen tem que me faz querer conhecê-la.

─ De qualquer forma, eu não preciso me envolver com alguém agora, e mesmo que quisesse, isso não seria possível. ─ falei, enquanto terminava de cortar algumas cenouras.

─ Por quê?

─ Amélia parece me odiar. Acredita que ela nem olhou na minha cara direito hoje na escola? ─ comentei, sentindo-me um pouco indignado. ─ Acho que ela não me suporta.

Meu avô riu.

─ Ela não te odeia, talvez ela não te suporte. Amélia tem todo o direito de não te suportar, mas ela não te odeia. ─ assegurou.

Não tenho tanta certeza disso, mas também não posso afirmar com total confiança que ela me odeia. No entanto, pela forma como me ignorou hoje na escola, mesmo depois de eu ter devolvido seu sketchbook, pareceu que ela queria que eu ficasse o mais longe possível.

Algumas infinidadesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora