OO4. primeiro dia

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    Analisei meu reflexo no enorme espelho posto ao lado da minha estante de livros que vai do chão ao teto. Faziam cinco minutos que eu encarava a minha vestimenta. Uma blusa social branca que foi coberta por um suéter creme com detalhes em listras marrom em algumas partes, o brasão da escola enfeitava o lado esquerdo do peito. As cores claras da parte de cima combinaram perfeitamente com a calça social preta, e meias e sapato social da mesma cor.

Eu estava me achando estranho, nunca precisei usar uniforme em toda a minha vida. Sabia que precisaria usar desde o princípio pois as escolas de Londres, sem exceção, exigem isso. Não estou reclamando, só não pensei que estranharia tanto.

As roupas ficaram largas em mim, apesar de meus braços e pernas consideravelmente musculosos. Pelo menos um ponto positivo, não curto nada apertado sobre meu corpo.

Suspirei pesado jogando meus cabelos ondulados para trás, estes que já estavam chegando aos ombros por eu ter parado de cortar há meses. Antes eu o deixava na altura das orelhas, mas acho que no comprimento atual ficou bem melhor.

Ignorei meu cabelo e voltei meus pensamentos para o que me esperava: o primeiro dia de aula do último ano. Caramba, não estou nada preparado, principalmente porque será em uma escola nova onde não conheço absolutamente ninguém.

Tudo bem, está tudo bem, nunca fui de evitar o novo, ou o desconhecido.

Abandonei o espelho a minha frente e peguei minha mochila sobre a cama. Saí do quarto sem demora, segui pelo enorme corredor ladeado por postas, e desci a escada para o andar de baixo. Segui direto para a cozinha.

─ Bom dia. ─ cumprimentei meus pais, irmã e avô.

Todos responderam, exceto meu pai que parecia muito concentrado mexendo em sua pasta executiva sobre a ilha de mármore.

─ Você está ridículo. ─ minha irmã zombou, enquanto ria e cobria a boca pois mastigava um pedaço de bolo.

Analisei a garota de olhos verdes cintilantes parada próxima ao balcão da pia. Ela estava vestida pouco semelhante a mim, a diferença é que usava uma saia marrom, meias brancas e um par de Doc Martens nos pés. Ela optou por colocar uma gravata borboleta de seda na cor marrom, e uma fita branca de cetim nos cabelos castanho escuro.

Não estava de todo mal, mas eu precisava rebater sua provocação.

─ Só faltou a maquiagem exagerada para você se igualar a boneca Annabelle. ─ disse, deixando minha mochila sobre a ilha.

Nossa relação de irmãos é baseada em provocações, as ofensas são sempre brincadeira, obviamente. Apesar das alfinetadas, nós nos amamos, é o que importa.

─ Ei, parem com isso. ─ minha mãe ordenou se aproximando de mim. ─ Os dois estão lindos. ─ ela sorriu meiga, arrumando o colarinho da blusa social que sobrepunha a gola do meu suéter.

Beijei seu rosto e fui até a minha irmã. A empurrei com meus quadris, e ela resmungou após cambalear para o lado.

Peguei algumas uvas que estavam em um pote sobre o balcão e comecei a comer enquanto voltava a atenção para meu avô sentado a mesa, tomando uma xícara de café, e lendo algo em seu iPad.

─ Vovô, você ainda enxerga? Que surpresa! ─ brinquei.

Ele deu uma risada e me olhou. Os óculos redondos em sua face foram removidos pelas mãos trêmulas dele.

─ Melhor que você, se duvidar. ─ ele disse em tom provocativo.

─ Preciso ir. ─ meu pai falou de súbito.

Algumas infinidadesTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon