Algumas infinidades

OO5. janelinha

AMÉLIA DICKSEN

    Encarei meus pés calçados por meias brancas e um par de Mary Jane's, enquanto me balançava sobre os calcanhares.

Estava um pouco nervosa por estar sozinha na fachada da escola enquanto pessoas passavam por mim e algumas delas me encaravam por alguns segundos.

Não sei ao certo se essas pessoas sabem onde passei minhas férias, mas estou ciente de que a maior parte tem conhecimento sobre o que aconteceu meses antes do verão passado. As fofocas sempre se espalham rápido, mas o que elas pensam, pouco me importa, não errei em momento algum.

Passei as mãos sobre minha saia com pregas de estampa bege quadriculada, ─ a típica cologial, ─ buscando arrumá-la sobre minhas coxas.

Um sorriso se formou entre meus lábios quando levantei a cabeça e vi que Anis se aproximava, girando uma chave em seu dedo indicador, supus ser a de sua moto.

─ Bom dia, Amy! ─ ela disse, parando frente a mim.

─ Bom dia, Anis!

─ Ansiosa para o primeiro dia?

─ Não acho que ansiosa seja a palavra certa, estou bastante receosa com o que me espera. ─ respondi, mexendo impaciente na barra do meu colete suéter cor camurça.

─ Relaxa, não vai ser nada demais.

Observei ela guardar a chave que segurava dentro do bolso da calça social preta, e logo em seguida arrumar seu headphone que estava pendurado desproporcionalmente em seu pescoço.

Olhei em volta, notando o ambiente um pouco caótico ─ o que é normal para o primeiro dia de aula, ─ e vi que Nina Hennessy vinha em nossa direção.

Nina é uma garota estonteante, possui cabelos pretos, olhos cor âmbar e os lábios bem desenhados. Só de olhá-la, dá para se entender o porque ─ em parte ─ de Anis ser apaixonada por ela. Além de linda, é inteligente, gentil e complacente, talvez seja por isso que conseguiu conquistar o cargo de presidente do Grêmio Estudantil.

─ Olha quem vem ali. ─ apontei.

Anis olhou e, juro por qualquer ser divino, seus olhos brilharam intensamente.

─ Oi amores! ─ Nina nos cumprimentou bastante animada.

─ Bom dia! ─ dissemos, Anis e eu.

─ Amélia, meu amor, estava com tanta saudade. ─ ela me puxou para um abraço apertado. ─ Como está?

─ Bem, eu acho. ─ respondi me desvencilhando do abraço. ─ E você?

─ Estou bastante bem. Olha, encontrei seu irmão no estacionamento, ele pediu que eu te entregasse isso, você esqueceu no carro. ─ ela estendeu um blazer marrom claro em minha direção.

─ Obrigada. ─ peguei a roupa de sua mão.

─ E você ─ ela puxou Anis pelo colarinho. ─ Trate de se comportar esse ano, não quero te ver na detenção no primeiro dia de aula. ─ advertiu, fechando um dos três botões que estavam abertos na blusa de Anis.

─ E desde quando você se preocupa tanto assim comigo? ─ questionou.

─ Feche os botões do casaco. ─ ordenou, ignorando completamente a pergunta anterior.