O11. doce família Conway

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    Terminei de servir a mesa onde todos da minha família já estavam reunidos e me acomodei em um lugar ao lado de minha irmã. Minha mãe, que observava o prato à sua frente, sorriu com entusiasmo.

─ Que delícia, você fez bibimbap! ─ admirou ela, seus olhos brilhando de orgulho.

Eu sabia que ela iria adorar, já que essa é uma de suas comidas favoritas. Ela amava quando a vovó fazia para nós quando nos visitava às vezes no Canadá.

─ Não se compara ao da vovó, você sabe, mas esse eu fiz com muito carinho. ─ sorri para ela, que me olhou com ternura.

─ Sua avó te repreenderia se ouvisse isso, ela sabia que você é tão bom na cozinha quanto ela. ─ meu avô disse.

Olhei para o homem sentado à ponta da mesa, sabendo que ele estava certo. Minha avó sempre se incomodava quando eu mencionava que minha comida não era tão boa quanto a dela. Para ela, cada pessoa tem sua forma única de dar um toque especial em um prato, tornando-o delicioso à sua própria maneira.

Desviei minha atenção de meu avô e olhei para o lugar vago ao lado de minha mãe. A tigela servida para meu pai esperava por ele, assim como todos nós.

Ele já estava presente, sentado na outra ponta da mesa, afastado de nós. Seu notebook estava aberto à sua frente, e ele parecia absorto em suas planilhas, com as pernas cruzadas e as costas apoiadas no encosto da cadeira. Essa cena era tão comum em nossos jantares que eu já quase me acostumei com a falta de atenção que meu pai dedicava à família.

Eu o encarava, esperando que ele largasse tudo o que estava fazendo para poder jantar conosco, mesmo sabendo que dificilmente ele faria isso.

─ Ralph. ─ mamãe o chamou, talvez tenha notado minha frustração. ─ Pode, por favor, deixar o trabalho de lado por alguns minutos e se juntar a nós?

─ Preciso de mais alguns minutos. ─ respondeu ele, sem desviar os olhos dos papéis que segurava. ─ Podem comer sem mim.

Um imenso "quase", acabei de perceber, já que, na verdade, esse seu comportamento ainda me fazia sentir uma mistura de irritação e desapontamento.

Por anos, muitos anos, eu venho aguentando essa atitude de meu pai calado. Antes, ele largava o trabalho e vinha comer conosco, em silêncio, a cara fechada, mas ainda fazia. Mas agora que nos mudamos para cá, é como se ele estivesse fazendo birra, um homem adulto agindo como um adolescente ressentido com os pais.

─ Então, o senhor pode se retirar da mesa. ─ as palavras escaparam de meus lábios em um tom um pouco rude, mas eu não tinha a intenção de falar assim. ─ Pode ir para o escritório, continuar com o trabalho, não nos importamos. ─ tentei amenizar a fala anterior, mas acho que não deu muito certo.

De todo modo, não importa agora. Eu venho suportando calado suas atitudes por muito tempo; precisava deixar claro de algum modo o quanto isso me incomodava.

Meu pai me encarou, o semblante sério que naturalmente parecia ameaçador, mas eu não desviei o olhar, recusei-me a fazer isso.

─ Se está insatisfeito, se retire você. ─ retrucou, com a voz firme e baixa.

─ Céus, você está sendo tão inconveniente. ─ meu avô interveio, demonstrando a mesma irritação que eu sentia. ─ Você me abominava tanto e está agindo exatamente como eu fazia.

─ Eu não sou como você. ─ agora meu pai parecia ser o mais irritado, aquilo deve ter soado como ofensa para ele, mesmo sendo verdade.

─ Ah não? Então me mostre o contrário, pois até agora só vi você agir com indiferença com seus filhos.

Algumas infinidadesWhere stories live. Discover now