Pousada Sullivan

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Mark tinha igualmente um emprego humilde. Os salários combinados eram suficientes para assegurar comida na mesa, roupas e somente um capricho aqui e ali, mas nos últimos tempos, a empresa em que Mark trabalhava estava com problemas e a loja de artesanato de Jay não estava dando o retorno de antes, provavelmente por culpa do shopping aberto duas ruas antes da loja acerca de dois anos.

Como não conseguia pagar mais o aluguel da loja, Jay teve que desistir do negócio que dava certo já fazia anos. Ela passou a fornecer algumas peças para o shopping para serem vendidas em lojas diversas – uma decisão que foi difícil de tomar, pois era por culpa daquele shopping que ela não tinha mais seu ponto comercial.

A partir do fechamento da loja, as coisas só pareceram piorar: tiveram que tirar as gêmeas do balé, cancelar as férias em família e, com a demissão de Mark, em poucos meses perceberam que poderiam perder a casa se não pagassem a hipoteca atrasada.

-Nossos filhos são menores de idade, você sabe o que isso significa, não é?

Jay sentiu um arrepio na espinha. Se não conseguissem pagar a hipoteca, perderiam a casa e o juizado poderia tomar as crianças deles. Sim, parecia cruel, mas era o procedimento padrão: família instável, crianças sob guarda do juizado. Eles não poderiam permitir isso.

- Meus pais talvez... – ela não conseguiu terminar de falar, sentindo um nó na garganta. Ela poderia deixar as crianças com os avós, mas isso significaria ficar a quilômetros deles e não saberia quando poderia vê-los. Não aguentaria.

- Jay, é difícil, mas precisamos fazer o melhor para eles. – Mark disse tentando passar tranquilidade a ela.

- Pode ser egoísta, mas eu não vou ficar sem meus filhos. Os quero perto de mim. Não quero rodar três horas para ver as crianças, nem carro temos mais agora que tivemos que vendê-lo...

Mark suspirou frustrado junto com ela. O dinheiro do carro havia servido para pagar a escola das meninas enquanto a pensão de Troy servia para pagar a de Louis. Ano que vem eles teriam que estudar em escola pública. O que não era tão mal assim, mas era péssimo ter que mudar a rotina de Louis e das meninas, elas principalmente já estavam sentindo muito as mudanças.

Mark estava a ponto de sugerir um empréstimo ao banco – o que não era uma boa saída, já que eles não tinham dinheiro para se enrolar em mais dívidas, mas ao menos era uma saída – quando seu celular, repousado na mesa em que ele e Jay estavam a mais de duas horas revendo contas, começou a tocar.

Jay levantou-se enquanto o marido falava ao telefone. Começou a fazer um pouco de chá e procurou alguma bolacha nos armários para acompanhar. Olhou para o relógio do microondas enquanto pegava um pacote já aberto de bolachas murchas no fundo do armário. Logo seria hora de pegar as crianças no último dia de aulas antes das férias de verão.

Mark falava baixo ao telefone e ela ficou com medo de ser outra cobrança. Jay não aguentava mais os credores e renegociações. Porque tudo tinha que ser tão difícil?

- Tudo bem... – ele se voltou em sua direção. Parecia... Derrotado? – Eu falarei. Sim. Falo com ela, mas eu não garanto! Eu sei...Ok. Prometo. Até.

Jay lhe lançou um olhar indagativo.

Mark suspirou e sentou-se de volta em seu lugar. Passou uma mão pelos cabelos, nervoso. Pediu para que a esposa se sentasse e ela obedeceu sem tirar os olhos dele, apreensiva.

- Não quero ir. – Lottie disse pela décima vez, já dentro do carro. – Eu quero ficar. Todas as minhas amigas estão em Doncaster!

The CureOnde as histórias ganham vida. Descobre agora