The voice

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Lottie entrou animada no restaurante, Louis logo atrás. O estabelecimento não estava aberto àquela hora e seus passos faziam eco pelo lugar onde as mesas jaziam solitárias. Ela sabia que Harry não havia chegado ainda. Insistira para que Louis a levasse mais cedo, pois não aguentava ficar em casa esperando pelo começo da aula. Não sabia se sua voz era boa e, na verdade, nem queria ser cantora, mas era uma boa oportunidade pra ficar amiga daquele garoto de olhos verdes e cabelos aparentemente sedosos. Se ela aprendesse mesmo alguma coisa, seria legal também, cantar era divertido.

Já Louis estava ali por pura obrigação. Não tinha muito o que fazer e sua mãe insistira que Mark não deixara a filha ficar sozinha com o menino. Ele se sentou em uma mesa perto do palco, mexendo no MP4 que tinha em mãos enquanto Lottie subia ali olhando o microfone no pedestal e o piano no canto esquerdo.

- Acha que Tia Megan comprou um piano branco porque o chão é branco? – ela perguntou distraída.

Louis tirou um fone do ouvido.

- Como é?

- O piano Lou! – ela respondeu impaciente - Eu nunca vi um branco de perto. Tia Megan deve ter muito dinheiro!

- Claro né? Ela tem uma pousada só dela, você esperava o que? – ele respondeu rolando os olhos. Desligou o aparelho e o deixou em cima da mesa enquanto a irmã mostrava a língua para ele.

- Só tô puxando conversa. Eu ia perguntar se meu cabelo tá bom, mas...

- ... Eu te mataria porque seria a décima vez que você me pergunta isso. – ele completou se aproximando dela.

O palco era bem pequeno e não parecia intimidador como todos os palcos do mundo. Não podia nem ser chamado de palco. Na realidade, eram azulejos centímetros mais altos do que os do chão do restaurante com um piano, um banquinho de madeira e um pedestal com um microfone. Ainda havia uma caixa preta em um canto onde, pelo jeito, deveriam estar outros microfones ou os dizeres “microfones” pintados nela estariam muito equivocados. Sentou-se no piano e o abriu a fim de ver as teclas.

Lottie testou o microfone que já estava no pedestal, animada e pensando em que música cantar quando uma súbita questão surgiu em sua mente: e se ela fosse tão ruim, mas tão ruim que Harry daria risada da cara dela e sairia dali contando para os amigos todos sobre a tonta que parece uma gralha querendo aprender a cantar? Ela arregalou os olhos diante do pensamento.

- Lou? – se voltou para o irmão, insegura.

- Sim. Seu cabelo está ótimo. Seus brincos combinam com a sua roupa e sim, sua roupa está muito bonita. – ele respondeu rapidamente sem ao menos olhar para ela.

-Não! – ela se sentou a seu lado ajeitando o vestido rosa-claro um pouco acima dos joelhos. – Minha voz é boa? - Ele arqueou a sobrancelha, sem entender. – Assim, boa no nível de ser, nem que seja um pouco, parecida com a sua?

Louis deu um pequeno sorriso sem graça mesmo sendo a irmã quem tinha dito aquilo. Ele tinha o costume de cantar para ela e para as outras quando estas não conseguiam dormir por algum motivo ou estavam com medo do escuro. Mesmo sendo apenas suas irmãs, ele não conseguia encará-las ao cantar. Era como se ele fosse constantemente julgado por algum ser invisível que iria ridicularizá-lo de forma cruel. Provavelmente um dos sintomas de sua ansiedade social. Mas eram suas irmãs, então ele cantava porque queria que elas ficassem tranquilas e o escuro parecia ser um bom refugio... Seu coração chegava a disparar um pouco, mas era só isso. Eram suas irmãs e desde que não fosse em cima de um palco com mais pessoas para ouvir, valia a pena ver aqueles rostos tranquilos.

- Minha voz não é tão... – ele começou, mas ela prontamente o interrompeu.

-Sua voz é a melhor voz que eu já ouvi. Ela me acalma.

The CureWhere stories live. Discover now