Capítulo - 2

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- Maximus. -

***

    Os raios de sol que entravam pela janela arderam minha pele, me forçando a levantar da  cama, que estava extremamente macia naquele momento. Me sentei sobre ela, passando as mãos no cabelo e tentando vencer a vontade de dormir novamente. O relógio marcava sete horas da manhã em ponto.

— Ah... Será que Andrew está com fome? — Falei para mim mesmo. Eu precisava provar para aquele garoto que eu não sou igual aquele homem. Eu tenho que mostrar que ele pode confiar em mim...

    Me levantei, vesti uma calça de moletom e uma camiseta que estavam jogados na cadeira e fui até a cozinha, preparar um pouco de café. Estava colocando a água na cafeteira quando meu celular tocou. Um número desconhecido piscava na tela.

— Quem é? — Perguntei.

— Oh, bom dia doutor... — Uma voz feminina respondeu.

— Ah, bom dia Clarice. Aconteceu alguma coisa? — Clarice é a enfermeira chefe do hospital. Ela é encarregada de fazer a maioria das coisas por lá, como ajudar os pacientes, dar recados, e guardar coisas. 

Ah! — Um leve tom de felicidade tomou conta da sua voz após perceber que eu a reconheci. — Apenas liguei para avisar que o doutor Franz irá cobrir seu turno hoje, então você pode tirar o dia de folga.

— O quê? Sério? — Perguntei animado. Fazia meses que eu não conseguia um dia de folga!

— Sim! Eu... —  Antes que ela pudesse terminar de falar, alguma outra enfermeira a chamou. — Desculpe doutor, mas eu preciso ir agora. Descanse bem, sim? Até amanhã!

— Obrigado! E bom trabalho. — Respondi e desliguei, jogando o celular em cima da bancada. Ótimo... Essa é a minha chance de ganhar a confiança dele!

***

    Depois de terminar de fazer o café, e arrumar tudo, era a hora de chamá-lo. Quando resolvi bater na porta, ela foi aberta repentinamente, e Andrew acabou colidindo comigo. Ele estava prestes a cair ao chão quando o segurei pelo braço, o que fez ele soltar um grito desesperado.

— Ei, calma... Tudo bem, viu? Eu já sai de perto... — Falei enquanto dava passos para trás, com as mãos erguidas em forma de rendimento.

    Ele respirou fundo várias vezes antes de se recompor. Ver ele desse jeito me lembrou da noite passada, quando ele quase desmaiou na hora que eu estava limpando seus machucados. Eu acho que ele não gosta de ser tocado por outras pessoas... Estava ainda pensando quando o som de seu estômago me chamou de volta à realidade.

— Você está com fome? — Perguntei sorrindo, ainda mantendo distância dele. Ele confirmou com a cabeça enquanto colocava as mãos sobre o estômago. — Ok... Vamos comer então!

   Decidi não tocar mais nele, e caminhei até a cozinha. Ele me seguiu, e se sentou com dificuldade. As pernas de Andrew foram as partes mais maltratadas de seu corpo, o que dificultava que ele caminhasse, e fazia com que ele sentisse pontadas de dor com alguns movimentos... Ele precisaria de fisioterapia para conseguir caminhar novamente sem problemas.

    Coloquei um prato com ovos mexidos, torradas com geléia, bacon frito e maçãs cortadas em fatias na sua frente. Ele olhou a comida por alguns segundos, com os olhos brilhando, e depois me encarou, como se estivesse esperando que eu dissesse que ele poderia comer.

— Você sabe que eu não preciso dizer quando você pode comer ou não, certo? — Perguntei, o encarando. Ele desviou os olhos de mim para o prato novamente, ainda esperando. Ah, esse garoto... — Coma.

    Assim que ele ouviu que poderia comer, ele atacou as torradas. O pai dele o criou de uma maneira horrível, e agora que ele está comigo, Andrew precisa entender que ele é uma pessoa, e não um cão que só come a hora que é ordenado. Pensando bem, ontem aconteceu a mesma coisa. Assim que ele terminou de se lavar, eu já havia colocado a comida em seu prato, mas mesmo assim ele esperou.

— Está gostoso? — Perguntei, na esperança que ele respondesse algo. Infelizmente, ele apenas confirmou com a cabeça novamente, enquanto comia um pedaço de bacon. Seus olhos brilhavam... — Ah, garoto... Quando você pretende conversar comigo?

    Perguntei, mesmo sabendo que não sairia uma palavra sequer de sua boca. O que foi dito e feito. Ele apenas me encarou novamente, enquanto comia sossegado. Pensamentos sobre como ele deve ter sofrido, como seria difícil conseguir que ele confie em mim, e como a reabilitação dele seria dolorosa me fizeram perder o apetite. Assim que ele terminou de comer sua comida, eu apenas empurrei meu prato para ele, que me encarou confuso.

— Coma... Eu perdi a fome. — Falei sorrindo. Mais alguns segundos de encaro e ele finalmente se pôs a comer novamente. Seus cabelos brancos brilhavam com a luz, praticamente me hipnotizando... Eu preciso ajudar ele, não importa como.

***

    Andrew assistia a TV tranquilamente, enquanto eu checava alguns exames de pacientes. Sim, trazer trabalho para casa era um dos meus hobbys, o que fazia com que eu sempre estivesse ocupado demais para sair com alguém. Não que eu não queira me apaixonar e tudo isso... Eu só não tenho tempo, e agora com Andrew aqui, esse tempo diminuiu ainda mais.

    Ainda estava folheando os papéis quando a campainha tocou. Assim que abri a porta, um par de olhos verdes me encararam.

— Emily? — Falei, estranhando ela estar ali a essa hora, e ainda mais por estar sozinha. — O que está fazendo aqui?

— Deixe-me adivinhar... — Ela disse, já entrando em casa, e colocando uma caixa no chão. — Você ainda não comprou roupas para ele, não é?

— Eu não tive tempo ainda, você sabe...

Você sabe, eu sou ocupado demais com meu incrível trabalho de médico naquele hospital, e blá blá blá... — Ela falou, tentando imitar minha voz e fazendo uma cara idiota. — Sim, Maximus, eu já sei de toda essa ladainha... E é por causa disso que eu trouxe algumas roupas.

— O que? Sério? — Ela se ajoelhou e abriu a caixa, mostrando uma grande quantidade de roupas novas. — Wow, são muitas.

— Bom, Andrew... Digo, o meu Andrew. Ele estava com essas roupas acumuladas lá, e eu achei que poderia servir nesse Andrew... — Ela disse, apontando para o dono daquele par de olhos azuis que brilhavam enquanto encarava as roupas. — Ah, esses nomes iguais estão me confundindo demais! Enfim, aqui está as roupas, então faça ele vestir. Tenho que voltar ao trabalho agora.

    Ela estava saindo quando se virou, me encarou, encarou Andrew, e depois a mim novamente.

— Hey... O que foi? — Perguntei.

— Nada. Só cuide bem desse garoto, Maximus... Ou eu te mato! — Depois de fazer sua ameaça, ela saiu da casa, batendo a porta atrás de si. Aposto que para Emily, esse Andrew é apenas mais um Adrian da vida.

    Será que ele se tornará um Adrian para mim também...? 


Doce Doutor - Livro 2 - Trilogia DoceWhere stories live. Discover now