Capítulo - 7

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- Andrew. -

***

    Eu não conseguia entender o que estava acontecendo comigo... Eu sentia vontade de ser abraçado, eu queria receber carinhos, eu desejava conseguir me comunicar como qualquer outra pessoa, mas, eu simplesmente não conseguia...

    E tudo é por causa daqueles olhos verdes. Tudo é culpa dele.

    Sempre que Maximus estava ao meu lado, meu coração não conseguia se acalmar. Eu não entendia se era por medo, ou se era alguma outra coisa... E por causa disso, eu estou completamente perdido... Eu sou incorrigível?

***

    Estava a apenas alguns passos da cabana, já que eu tinha sido praticamente expulso de lá. Quando olhei para trás, pude ver Maximus passando os dedos pelos ossos das mãos, que estavam avermelhados demais. Logo após isso, ele tirou os óculos de grau que usava apenas para dirigir, e os colocou na gola da camiseta, o que acabou me causando uma sensação estranha... Ver ele jogando o cabelo para trás enquanto olhava o que estava escrito em uma garrafa cheia de um líquido vermelho, só piorou ainda mais a situação.

    Hora de me afastar.

    Caminhei com cuidado por causa do meu tornozelo que doía a cada passo que era dado, e pouco a pouco, a cabana ia ficando mais afastada. Quando ela sumiu completamente da minha visão, eu decidi que era hora de parar. Olhei ao redor e percebi que estava nas alturas, literalmente. A cabana ficava nas montanhas, em meio a uma floresta, e, bem ali, a dois passos de distância, havia um penhasco, e lá embaixo, um lago com a água extremamente azul me dava um olá. Dei mais um passo à frente, abri meus braços, fechei meus olhos, e deixei que o vento levasse todos os meus sentimentos ruins para longe.

    Ali, eu decidi que iria esquecer tudo sobre todas as pessoas que já me fizeram mal.

    Na primeira soprada de ar, a imagem daquele homem que eu chamava de pai, foi levada para longe, como uma simples folha, que tivesse acabado de cair do galho mais alto de uma árvore. Na segunda soprada, minha mãe foi levada, junto com todos os outros membros da família... Porém, minha mãe foi levada para um lugar diferente. Eu havia perdoado sua morte à anos, e por causa disso, decidi que ela seria encaixada aqui, no meu coração, como a principal peça do meu quebra-cabeças. Na terceira foi a vez daquele policial e sua companheira aparecerem, e bom, eles também foram guardados em lugares especiais...

    Foi então que o vento cessou.

    Não havia nem uma pequena brisa de ar naquele lugar. Tudo estava silencioso, escuro, e abafado. E a única pessoa que sobrava era ele... Maximus.

    O que estava acontecendo?

***

— Andrew... Andrew! — Alguém chamava quase em desespero, e aquela voz era irreconhecível... Aos poucos, dois olhos verdes brilhantes tomaram conta da escuridão, fazendo com que meu coração acelerasse... Maximus. — Você está ficando louco?! Que ideia tão genial foi essa?!

— O-O que? — Perguntei. O que havia acontecido? Eu estava deixando tudo para trás, e o Maximus estava na cabana... O que aconteceu aqui?

— Parabéns pela brilhante ideia de quase se jogar de uma montanha! Foi muito inteligente, bravo! — Seu rosto estava pura irritação, e sua voz estava mais parecida com um rosnado. Quando olhei ao redor, eu estava deitado no chão, sendo abraçado por ele. Eu quase me joguei de lá?

— Eu... — Eu não sabia o que havia acontecido aqui. Não mesmo.

— Já chega. — Ele me colocou sentado, e logo em seguida se afastou de mim. Devo admitir que meu corpo sentiu falta do seu calor, mas... Isso não era algo bom. Ele tapou o rosto com as mãos, soltou um longo suspiro, e logo voltou a me encarar novamente, com uma expressão nada boa. — Vamos voltar para a cabana.

    Aquilo foi a última coisa que ele disse. Ficou em pé e ofereceu sua mão para mim. Quando a segurei, ele me colocou em pé e logo em seguida agarrou meu braço. Andamos o caminho de volta em silêncio, o que era estranho, porque se eu bem o conheço, ele estaria falando sobre qualquer coisa aleatória, ou sorrindo como sempre. Quando entramos na casa, ele me sentou novamente no sofá e logo depois se sentou sobre a mesinha de centro.

    Suspiros. Vários. Nervosismo? À flor da pele. Isso não acabaria bem.

— Andrew...

— Eu...

— Eu juro que essa vai ser a primeira e a última vez que eu vou mandar você não dizer nada, entendeu? Então fique quieto, e deixa que eu falo. — Ele me encarou. E eu? Tremi, por inteiro. Assenti com a cabeça e esperei pacientemente para o que viria a seguir. — Eu não te trouxe aqui para que você cometesse suicídio. Na verdade, quando eu estive aqui pela primeira vez, eu também pensei em me jogar da porcaria daquele lugar, e simplesmente desaparecer. Mas eu não fiz isso, sabe porque? Porque o cara que te salvou, o Magnus, ele também fez o mesmo por mim... Aquele cara me salvou.

    Eu entendi direito? Aquele cara? Mas o quê...

— É, você não entendeu errado, ele também me salvou. — Maximus se levantou agora, e caminhava para lá e para cá, como se estivesse ao ponto de explodir. — Você acha que nós dois nos parecemos fisicamente? Ou em qualquer outra porcaria?

    Balancei com a cabeça em negativo. Eles realmente não pareciam em nada... Principalmente nos olhos. Mel e esmeraldas, uma combinação um tanto quanto diferente.

— Pois bem... Nós não somos irmãos de verdade. — Nessa hora ele se deteve, encarando o chão. Eu automaticamente abri meus lábios, em surpresa. Mas então como... — Pois é, eu fui adotado. E só estou nessa família hoje, só sou um Müller hoje, porque o Magnus me escolheu naquele orfanato. E adivinhe só...

    Ele abriu um sorriso quase assustador, e se aproximou de mim, com os olhos brilhando de lágrimas.

— Meu pai também era um monstro. — Ele colocou os braços em minha volta, um de cada lado da minha cabeça. — Você acha que eu também sou um?

    Essa era realmente a última coisa que eu gostaria de ouvir agora.

   

Doce Doutor - Livro 2 - Trilogia DoceWhere stories live. Discover now