Capítulo - 3

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- Andrew. -

***

   Minha vida não tem sido nada fácil até agora, literalmente... Meu pai fazia o possível, e o impossível, para me ver na pior... E graças a isso, eu nunca tive forças o suficiente para confronta-lo. Eu cheguei a pensar que eu realmente iria morrer ali, preso naquela casa, com o homem que deveria cuidar de mim quase me matando.

    Eu pensei...

    Quando aquele homem vestido de farda entrou naquela casa, eu tive a certeza que ele seria minha salvação. Aqueles olhos cor de mel foram a primeira coisa que eu vi, e que me olharam, com compaixão.

    Mas os olhos mentem...

    Principalmente se eles tiverem a cor de uma esmeralda... Verde brilhante, cheio de piedade, compaixão, pena, angústia, e solidariedade.

    Eu jurei que, desde o dia da morte da minha mãe, eu jamais iria confiar em alguém novamente. Eu não quero mais ser machucado... Eu não desejo mais sofrer, não quero me perder novamente, e aqueles olhos diziam que era isso o que iria acontecer, se eu me deixasse ser levado.

    Eles... Realmente diziam isso?

***

    Agora eu estava deitado confortavelmente em um sofá espaçoso, macio, e aconchegante... Mas ali não era a minha casa. Nunca iria ser. Eu estava relaxando demais na presença daqueles olhos, que provavelmente poderiam me comer se quisessem. O calor das minhas roupas novas faziam com que eu ficasse sonolento, porque eu me sentia seguro estando aquecido...

    Mas, quando algo ainda mais quente e macio tocou em meu rosto, foi como se eu pudesse enxergar o céu. Era como se pequenos anjos tocando harpas pudessem vir ao meu encontro... Quando abri meus olhos, aquele par de esmeraldas me encaravam, me fazendo perceber que aquilo que tocou meu rosto era sua mão, em uma carícia.

 — Não! —  Gritei, enquanto tentava me afastar dele o máximo possível.

— Oh, me desculpe! Eu só... Eu me deixei levar! Sinto muito! — Ele disse quase em desespero, saltando do sofá rapidamente. Minha respiração começava a se tornar irregular, quase me sufocando... — Andrew, se acalme... Eu nunca iria fazer nada de ruim com você! Eu sinto muito...

    Ele estava quase tocando em mim novamente, no meu pescoço... Ele iria tentar me sufocar?!

— Não! — Outro grito saiu de minha boca, o fazendo suspirar enquanto passava a mão em sua nuca.

— Eu só queria ver como está seus batimentos cardíacos... — Ele disse. Quando percebeu que eu não deixaria ele tocar em mim, Maximus desistiu. — Sinto muito por tocar em você novamente. Isso não irá se repetir, eu prometo.

    Foi a última coisa que ele disse antes de voltar para seus papéis. Eu não quero confiar nele, nem em ninguém... Eu não quero sofrer novamente! Abracei minhas pernas e enfiei meu rosto nelas, me esforçando para não deixar as lágrimas caírem. Imagens do meu passado se repetiam na minha cabeça, como um filme de horror, onde eu era o protagonista.

    Foi então que tudo ao meu redor começou a girar, deixando minha visão turva. Sinceramente? Eu me arrependo amargamente por ter tentado me levantar dali naquele estado. Assim que coloquei meus pés no chão, meu corpo foi praticamente puxado contra ele, fazendo com que eu caísse bruscamente. Ouvi passos correndo em minha direção, enquanto tentava lutar internamente para não desmaiar.

— Droga... Me desculpe Andrew, mas eu vou ter que quebrar minha promessa tão rápido quanto eu a fiz! — Maximus disse. Aquela voz grossa e preocupada ressoou pela sala, misturada com minha respiração descompassada, e pequenos gemidos de protesto que saíam de minha boca.

    O que está acontecendo comigo...?

***

    Assim que abri meus olhos novamente, o sol já não batia mais na janela, e a lua quase dizia um olá, de tão perto que estava. Cocei meus olhos que ainda estavam um pouco úmidos por causa das lágrimas, e me sentei. Quando olhei em volta percebi que estava no quarto, deitado na cama... Mas não foi o quarto que eu havia dormido ontem. Isso significa que ele me trouxe até aqui, certo? E que aqui é o quarto dele?

— Droga... — Resmunguei, enquanto passava as mãos pelo rosto, encarando as pequenas plantas cheias de espinhos em cima da mesa. Sentia calor, então tentei me descobrir, repito, tentei. Algo resmungou do meu lado, e quando olhei, lá estava Maximus sentado ao chão, com a cabeça apoiada ao meu lado na cama, dormindo tranquilamente.

    Rapidamente puxei a coberta e me arrastei para longe dele. Com o puxão, seu corpo também se moveu, fazendo com que ele caísse para trás, batendo a cabeça na cabeceira.

— Ouch... — Ele disse, agora passando a mão na área que estava começando a ficar avermelhada... Quando abriu seus olhos, me encarando, rapidamente um sorriso também surgiu em seus lábios. Um sorriso diferente... Quase que como um "obrigado por estar bem". Que ilusão...

    Desviei meu olhar do seu, pensando em como eu seria bobo por pensar que aquilo era um sorriso daquele tipo.

— Obrigado por estar bem. — O quê? Voltei a encará-lo, surpreso. Ele ainda sorria, mas pouco a pouco, aquele sorriso foi sumindo, até um suspiro longo e uma expressão preocupada tomar seu lugar. — Me desculpe por ter tocado em você novamente, mas... Eu não podia simplesmente deixar você daquele jeito, entende? Andrew, você estava a ponto de ter um ataque de pânico, apenas por eu ter tocado em você. Eu sou médico, e acredite, isso não é uma coisa boa...

    Não... Eu não estava tendo um ataque apenas por ser tocado por outra pessoa... Eram aquelas imagens me tirando de mim novamente.

— Amanhã eu irei te apresentar para um pessoa que irá te ajudar com isso, e também com seu medo de falar com outras pessoas... Acredite, é realmente difícil saber o que está acontecendo sem que você diga uma palavra sequer... — Ele pausou um momento, suspirando novamente. — Eu não quero nem imaginar o que teria acontecido se eu não fosse médico, e soubesse o que estava acontecendo com você...

    Sim, é verdade... O dono daquele par de olhos brilhantes estava completamente certo. Mas... Não é algo que eu possa simplesmente resolver. Eu fui criado assim. Sem dizer o que sentia, sem pedir o que queria... Até mesmo se eu estivesse com fome. Eu podia somente ficar ali, calado, esperando outra pessoa ter vontade de vir para me alimentar.

    Eu fui criado como um cão.

— Confie em mim, tudo vai ficar bem. — Novamente um sorriso ainda maior apareceu em seu rosto. Um sorriso confiante, que fazia até mesmo as pupilas de seus olhos sorrirem. Quando ele percebeu que eu não iria retribuir o sorriso, ele decidiu mudar de assunto. — Ah, que fome... Hora do jantar?

    Maximus saiu do quarto, calmamente, me deixando apenas com as palavras dele ressoando em minha cabeça. Será que realmente tudo irá ficar bem daqui pra frente?

Doce Doutor - Livro 2 - Trilogia DoceOnde as histórias ganham vida. Descobre agora