Capítulo - 4

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- Maximus. -

***

    Enquanto Andrew comia, ainda desconfiado de mim, eu apenas o encarava, e tentava imaginar o que se passava dentro daquela cabecinha... Meu plano de conseguir conquistar sua confiança acabou de ir pelo ralo, graças a minha compaixão exagerada. Tocar nele foi um erro, mas eu simplesmente não consegui me conter. Aquele rosto praticamente implorava por um pouco de carinho, e foi isso o que eu fiz.

    Eu escolhi a pior decisão...

— Está boa a comida? — Perguntei, tentando cortar o clima estranho que se formava. Andrew estava razoavelmente longe de mim, enquanto tentava comer o macarrão à bolonhesa usando uma colher. Ver aquela cena, e ele se sujando completamente me fez rir.  — Você não acha que vai ser mais fácil se usar um garfo? Eu irei te ajudar.

    Outra frase errada. Andrew se arrastou para mais longe ainda de mim, segurando seu prato e me encarando receoso. Eu ergui minhas mãos, em rendição.

— Não se preocupe, te ajudarei daqui. — Abri o melhor sorriso que eu consegui naquela hora, o que fez com que ele, de pouco a pouco, voltasse a se sentar em seu lugar. Me levantei e peguei um garfo na gaveta, depois o joguei pela mesa, que deslizou suavemente até Andrew. — Primeiro você segura o garfo assim... Coloca essa parte pontuda no macarrão, e depois o gira, até ficar preso. Entendeu?

    Depois de explicar apenas uma vez, Andrew já estava conseguindo usar o talher sem problemas. Ele é um garoto que aprende rápido... Quando quer. O que mais eu posso ensiná-lo?

***

    Já marcava uma hora da manhã quando eu terminei de fazer algumas coisas, que tinham sido deixadas pela metade. Andrew já havia ido dormir a algumas horas, e eu estava completamente sem sono. Foi então que resolvi fazer um pouco de chocolate quente, na esperança de ficar sonolento, e conseguir dormir rapidamente. Enquanto o leite aquecia, peguei meu celular e vaguei pelos contatos até achar um nome.

    Kim Jae Kang.

    Kim é a melhor psicóloga que eu já conheci na vida, e ela também foi a pessoa que cuidou de mim a alguns anos atrás, o que fez dela minha melhor amiga e confidente. Disquei seu número, e no quarto toque ela atendeu.

— Boa noite Kim...

Eu estava me perguntando quem estaria me ligando à essas horas... Mas é apenas Maximus, o bobão mais novo. — Ela falou em tom de brincadeira, rindo suavemente. — O que aconteceu dessa vez?

— Vamos lá... Não é como se eu apenas te procurasse quando preciso de sua ajuda. — Falei, revirando os olhos automaticamente.

Claro que não, querido... Mas para você ter ligado a uma da madrugada, deve ser importante, não? — Ah, Kim sempre acertando tudo.

— Sim, é... Muito importante... Kim, você tem algum horário livre amanhã? Eu preciso que você conheça alguém...

Claro... Venha aqui às 14:00hrs, tudo bem?

— Está ótimo! Obrigado mesmo, por tudo. — Falei, sorrindo.

Não tem de quê... Então até amanhã! Boa noite. — Antes mesmo que eu pudesse responder, ela terminou a chamada. Claro, acordar alguém a essa hora para pedir um favor não deveria ser nada bom...

    Joguei o celular na bancada, e apaguei o fogo. Coloquei um pouco do leite em uma xícara, adicionei o chocolate, e mexi... Não demorou muito para que o cheiro bom subisse pelo ar, e atraísse um gatinho branco de olhos azuis, que entrou sorrateiramente pela janela da sala. 

— Hm... Você não tem nenhum dono? — Falei, enquanto me ajoelhava para fazer um pouco de carinho em seu pêlo liso, mas um tanto quanto sujo. Os olhos brilhavam, e pequenos ronronos saíam de sua garganta, demonstrando felicidade. Decidi pegar uma tigela e colocar um pouco do leite para o pequeno gatinho. — Esses olhos... Você realmente se parece com aquele garoto. A única diferença, é que você me aceita.

    Após dizer isso, um barulho veio do quarto de Andrew, como se algo tivesse caído. Então deixei o gato bebendo seu leite, e corri até lá, abrindo a porta bruscamente. Porém, assim que entrei em seu quarto, tudo estava em ordem, e Andrew dormia tranquilamente, coberto até sua cabeça. O que me fez rir um pouco, porque justo agora, ele realmente lembrava um gato com frio.

    Fiquei ali, o encarando mais um pouco, só para ter certeza de que tudo estava realmente normal, e quando tive certeza disso, voltei até a cozinha, onde encontrei apenas uma tigela completamente limpa.

    Droga... Como podem ser tão iguais?

Doce Doutor - Livro 2 - Trilogia DoceWhere stories live. Discover now