Capítulo - 6

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- Maximus. -

    Acordei bem cedo no outro dia, e aproveitei que Andrew ainda dormia para arrumar nossas malas e a mochila com alimento. Estava decidido. Hoje, ele iria ter um choque de realidade, e viajaria comigo para um local que apenas eu conhecia.

    Nós iríamos para o meu esconderijo secreto.

    Ok, eu sei que isso é meio infantil, mas é sempre bom ter um lugar que nos acalma, e principalmente, que seja só nosso. Porém, a partir daquele dia, aquele pequeno lugar já não seria somente meu... Isso me doía o coração, mas, decidi que se fosse o Andrew, por mim estaria tudo bem. Estava na hora de compartilhar o mesmo sentimento que eu senti quando vi aquele lugar.

    Quando Andrew saiu do banho eu estava sentado sobre a cama, amarrando os cadarços da bota. Quando senti seu olhar em mim, me levantei e joguei a jaqueta com estampa camuflada sobre meu ombro, o encarando também. Poderia jurar que vi sua boca se abrir um pouco, mas provavelmente foi apenas imaginação. Peguei uma troca de roupas para ele, e joguei sobre a cama. Rapidamente ele entendeu que deveria vesti-las, então sai do quarto para dar privacidade à ele, e fui fazer um sanduíche na cozinha.

     Assim que ele terminou, foi até mim e parou apoiado na mesa. Quando me virei, ele estava vestido praticamente quase igual a mim, apenas mudando as cores. Enquanto eu vestia tons de negro, verde e marrom, o azul de vários tons diferentes dominavam suas vestes. Aquela jaqueta camuflada com azul escuro e branco realmente combinava com ele... Principalmente com seus olhos. Entreguei o sanduíche para ele, peguei nossas coisas e fiquei o esperando na porta de entrada. Seus olhos demonstravam curiosidade, e um pouco de medo, mas a regra de ontem ainda era válida. Eu não iria dizer nada, nem fazer nada, se ele não perguntasse, ou pedisse.

    Ele ainda estava com dificuldade em caminhar, principalmente depois de ter torcido seu tornozelo. Decidi colocar as duas malas e mochila com alimentos em apenas um ombro, e com o outro braço ajuda-lo a ir até a caminhonete, no térreo. Quando entramos no elevador e ele começou a descer, Andrew agarrou minha camisa com força, por causa da sensação ruim que a descida causa no nosso corpo, mas quando percebeu que tinha quase me abraçado, ele soltou rapidamente, virando a cara para o outro lado.

    É, ele ainda não estava acostumado ao meu toque. 

    E ele teria que se acostumar. 

    De um jeito ou de outro.

***

    Já estávamos a mais de uma hora dentro do carro. Andrew estava enrolado em um cobertor, enquanto abraçava suas pernas e olhava a paisagem pela janela. Várias vezes senti seu olhar em mim, mas quando eu o encarava, ele mudava a direção de seus olhos, fingindo estar olhando pelo retrovisor. Na quinta vez eu perdi a paciência. 

- Algo a dizer? - Perguntei, sem tirar meus olhos da estrada. Ele me encarou novamente, e suspirou. O silêncio reinou ali. - Nada? Ok.

- Onde? - Ele disse, quase em um sussurro. 

- Onde o que? Vai precisar ser mais específico se quiser uma resposta. 

   Mais um suspiro. Longo.

- Onde vamos? - Ótimo, duas palavras. Já é um grande avanço! 

- Nós vamos para um lugar secreto. -Falei sorrindo para ele. Em compensação, Andrew me olhou assustado, o que me fez cair na gargalhada. - Calma, você vai adorar aquele lugar. Eu prometo...

    Ele assentiu com a cabeça e voltou a encarar a paisagem pela janela. Não demorou muito para que nós chegássemos ao meu esconderijo secreto, e quando estacionei, fiquei completamente surpreso... Saltei do carro rapidamente e caminhei até a entrada da casa, para poder ter certeza que aquele lugar não tinha mudado em nada. A cabana de madeira continuava com o mesmo tom de marrom canela, as árvores também continuavam com o mesmo verde vívido, e o ar... Continuava com aquele cheiro que me trouxera tanta paz há alguns anos atrás.

— Andrew... Esse é o meu lugar preferido no mundo todo. Aqui, eu vivi e superei muitas coisas... E, bem, eu realmente espero que você consiga também. Espero que você se recupere, bem aí... — Apontei para seu coração, enquanto sorria de orelha à orelha. Ele abaixou os olhos e passou a mão por cima de seu peito. Andrew sabia exatamente do que eu estava falando. — Vamos entrar.

    Voltei até o carro e peguei nossas malas, logo indo em direção à ele novamente, e oferecendo meu braço como apoio. Ele segurou firmemente enquanto subíamos os dois degraus da entrada. Peguei a chave dourada do meu bolso esquerdo, e abri a porta, revelando a sala e todos os móveis cobertos com um pano branco. Eu mesmo havia os coberto, há exatamente dois anos, quando foi a última vez que eu estive aqui. Joguei as malas no chão, puxei o pano que cobria o sofá rapidamente, e ajeitei Andrew confortavelmente ali.

— Você fica sentado aí, enquanto eu limpo as coisas por aqui. Ok? — Perguntei, olhando fixamente para ele.

Ok. — Parabéns Andrew, é assim mesmo que pessoas se comunicam, com palavras!

***

    Depois de algum tempo a cabana inteira já estava limpa, e bem arejada. Andrew me ajudou fazendo tarefas pequenas, e fáceis. Quando dei a última passada de pano sobre a mesa, fui até a sala e me joguei no sofá, que era menor do que eu me lembrava... Andrew se encolheu automaticamente quando sentiu o peso do meu corpo sobre o tecido macio, mas eu não pude resistir... Me deixei levar novamente.

— Obrigado pela ajuda. — Falei enquanto acariciava seus cabelos, que já estavam um pouco compridos demais. Cada vez que o alisava, os fios brancos brilhavam com a luz, e a vontade de depositar um beijo ali crescia intensamente. Foi quando senti um cheiro forte de shampoo que percebi que eu estava quase ao ponto de perder o pouco de confiança que havia ganhado. Saltei rapidamente do sofá e limpei minha garganta enquanto tentava disfarçar minha quase perca de controle. — Irei cozinhar algo para nós. Que tal você ir passear um pouco lá fora? Aproveitar os raios de sol antes que escureça? Eu te chamo quando terminar.

    E isso foi as últimas coisas que eu disse antes de sair correndo para a cozinha. Assim que entrei no cômodo, bati minhas mãos fechadas em punho com força sobre a pia. Tudo estava inquieto... Meu coração estava inquieto. O problema agora era saber o porquê daquilo...

    Eu realmente estou me deixando levar, não estou?


Doce Doutor - Livro 2 - Trilogia DoceOnde as histórias ganham vida. Descobre agora