Capítulo - 5

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- Maximus. -

***

— E este é...? — Kim perguntou, encarando Andrew com um sorriso enorme nos lábios. Depois de perceber que nenhuma palavra sairia de sua boca, ela me encarou, esperando uma resposta.

— Este é Andrew. Andrew, essa é a Kim, ela irá nos ajudar a partir de agora. Seja bonzinho com ela, tudo bem? — Falei, o encarando. Ele confirmou com a cabeça, e Kim cedeu passagem para que ele entrasse em seu consultório.

— Acho que tem algo que eu precise saber sobre ele, não? — Ela perguntou, me encarando seriamente após ele entrar. Eu soltei um longo suspiro, encarando pelo vidro seu pequeno corpo se sentando do outro lado da sala, antes de conseguir dizer algo.

— Magnus encontrou Andrew preso em uma casa caindo aos pedaços. Sua mãe faleceu quando ele ainda era uma criança, e digamos que seu pai alcoólatra não foi uma boa companhia. Isso resultou em seu medo extremo pelo toque de outras pessoas, e em sua dificuldade em dizer o que sente, ou o que deseja. — Suspirei.

— Eu entendo...

— Você pode nos ajudar? Eu não sei mais o que fazer em relação a isso... Não poder demonstrar minha compaixão por ele está sendo realmente difícil, e conquistar sua confiança ainda mais...

     Kim suspirou, segurou minhas mãos e as apertou com firmeza. Seus olhos brilhavam, demonstrando toda aquela confiança que ela tinha em seu trabalho.

— Nós vamos conseguir, Maximus. Mas, eu também precisarei de você... Está disposto a me ajudar nisso? — Ela disse, me encarando.

— Ouvir a voz desse garoto, e poder abraçá-lo, são as coisas que eu mais desejo nesse momento, Kim. - Falei, colocando um ponto final na conversa. Ela me abraçou suavemente, e enquanto seus braços me cercavam, aqueles olhos azuis me encaravam do outro lado, tentando transmitir algo que eu ainda não conseguia entender.

    Antes de sair, demonstrei meu melhor sorriso e acenei para Andrew, dali mesmo, e consegui ver nitidamente seu rosto se fechando, e sua cabeça se girando para o lado oposto ao meu.

    Fui ignorado. Ótimo.

    Depois disso, apenas suspirei e sai de lá, rezando para que Kim conseguisse fazer algo com aquele coração quebrado de Andrew.

***

    E durante todos os outros dias eu rezei.

    No primeiro.

    No segundo.

    No terceiro.

    Mas no quarto dia, na quarta sessão, eu simplesmente desisti de rezar. Nada daquilo estava funcionando. Andrew ficava ainda mais arisco, e muito mais distante de mim... Foi então que decidi pegar férias do hospital, e eu mesmo mostrar para ele como as coisas funcionam. Eu estava me cansando, e me machucando ainda mais com suas atitudes.

    Eu só queria ouvir sua voz...

    Quando entrei em seu quarto para contar a novidade, pude ouvir a torneira aberta. Resolvi voltar depois que ele tivesse tomado banho, mas assim que me virei para sair do cômodo, um estrondo forte fez com que eu desse meia volta e fosse correndo até ele. Assim que girei a maçaneta, percebi que a porta estava trancada.

— Andrew?! Você esta bem?! O que aconteceu?! - Perguntei, mas não obtive resposta. Tentei forçar a porta e abri-la de qualquer jeito, mas nada funcionou. O silêncio só estava me deixando ainda mais preocupado... - Andrew? Andrew?! Droga, já me cansei disso!

    Me afastei um pouco e chutei a porta com força, fazendo com que a maçaneta se quebrasse e a porta de madeira fosse direto ao encontro do chão. Quando entrei no banheiro, encontrei Andrew desmaiado com os braços para fora da banheira, quase se afogando com a água que já transbordava. Fechei a torneira rapidamente e o peguei em meu colo, o levando até a cama e colocando o cuidadosamente sobre ela.

    Chequei seus sinais, e sua respiração. Tudo estava normal, apenas seu tornozelo que começava a ficar vermelho e inchado, indicando que ele havia torcido aquele local na queda.

***

    Quando seus olhos se abriram novamente, eles me encararam surpresos. Logo seu olhar desceu para o seu corpo, que já estava seco, e vestido com roupas quentes. O tornozelo torcido também ja estava enfaixado, e o braço quase roxo já estava medicado.

    E eu? Eu estava sentado sobre a cadeira, com os cotovelos apoiados nos joelhos e os dedos entrelaçados, o encarando. Andrew simplesmente me encarou de volta, esperando que eu dissesse alguma coisa, mas eu não o fiz. Apenas fiquei ali, encarando cada pedaço do seu rosto, tentando decifrar quantos tons de azuis poderiam haver em seus olhos.

    E assim o tempo foi passando, e a noite caindo. Ele não tirava seus olhos de mim, e eu não tirava meus olhos dele. Seu estômago roncava de fome, mas eu decidi ignorar. Eu queria que algo saísse daqueles lábios, nem que fosse ao menos uma palavra, e quando eu pensei em desistir, algo realmente saiu dali.

    Uma única palavra, mas o que já era um começo.

— Fome... — Ele resmungou. Foi o suficiente para que eu ficasse de pé, fosse até seu lado, e acariciasse seu cabelo. Seus olhos me encaravam confusos, mas aceitaram o gesto de carinho, e foi ali que eu decidi que as coisas aconteceriam assim a partir de agora.

— Se você quer algo, terá que me dizer. Caso contrário, não ganhará nada. Se do jeito fácil não funcionou, o jeito difícil terá que resolver. — Após dizer isso, sai do quarto e fui para a cozinha preparar algo para nós. Ser tão duro com Andrew está me matando por dentro, mas se Kim, que é a melhor psicóloga da cidade não conseguiu o mudar, eu terei que tentar do meu jeito.

    E é isso o que eu planejo fazer nos próximos cinco dias.

Doce Doutor - Livro 2 - Trilogia DoceWhere stories live. Discover now