History Makers

552 66 110
                                    

                                  Caro John,

O amor é algo que muitos tentam decifrar. Filósofos, poetas e até mesmo bêbados -  até mesmo os três juntos numa só pessoa.- tentaram. E ninguém nunca conseguiu. Definem o amor nas pequenas coisas, mas como algo tão intenso pode caber num simples beijo? E, ao mesmo tempo, como algo tão simples poderia ser resolvido com bilhões de libras? Essa é a questão. O amor é simples e intenso demais. Isso o torna algo inaceitável. Nós, humanos, devemos ser frios e cruéis, pois isso está na moda.

Eu costumava ser alguêm triste, sem amigos e sem vontade de ser eu mesmo. Fingia, bebia e fumava para ser legal. Graças à você isso mudou e eu sou eu mesmo.

Sabe, eu não sei se sou uma pessoa boa, não sei se mereço a minha família ou se algum dia eu irei ser um bom detetive. Mas eu sei que você é a melhor pessoa que eu já conheci. Sei que você é o que eu quero para minha vida!

Então, quando eu fizer alguma bobeira, quando eu mentir e tentar sair limpo disso tudo, apenas se afaste. Saia de perto e eu perceberei.

Eu...

**

Sherlock estava sentado em sua mesa, quando ouviu batidas na porta. Guardou seu papel rapidamente e desceu as escadas ofegante. Ao abrir a porta, sorriu ao perceber quem era a pessoa que o aguardava.

- Olá, John. - Disse, puxando o loiro para um beijo rápido.

- Sherlock! - John riu. - Está animado, é? Vim para conversar com você sobre meu aniversário de dezoito anos.

- Está ficando velho! - Sherlock disse enquanto puxava o namorado para dentro da própria casa. - Dois anos mais velho que eu.

- Novinho! - Brincou, passando as mãos nos cachos desgrenhados. - O que vamos fazer?

- Não sei, que tal jantarmos? - Sherlock sorriu, sentando no sofá e chamando John para acompanhá-lo.

- No dia exato minha mãe dará uma festa. Você poderá ir, se quiser. Ela te amou! - Sorriu. - Mas aí só poderemos jantar no sábado!

- John, sábado é amanhã.

- Eu sei, qual o problema? - Perguntou enquanto abraçava o mais novo.

- Eu não terminei seu presente ainda. - Sherlock ruborizou, desviando o olhar de John.

- Ora, termine hoje! - Watson sorriu tranquilamente. - Vamos, você sabe que eu não me importo com presentes.

- Se quiser que eu termine hoje, terá de sair agora e só voltar amanhã às 20:00. - Sherlock riu.

- Tudo bem. - John levantou do sofá. - Se amanhã às 20:00 eu não tiver meu presente, nem meu namorado arrumado e cheirosinho, você vai ver!

- Estarei um pão!

John riu, beijou Sherlock e saiu sem pressa alguma da residência dos Holmes. O moreno, ao perceber que John já havia entrado no quintal de sua casa, subiu as escadas e continuou sua carta.

Aquilo deveria valer a pena.

~/~

Era sábado, a noite estava fresca e a lua parecia querer tomar o espaço inteiro do céu. Sherlock olhava no relógio de cinco em cinco segundos, à espera de John - que estava atrasado uns dez minutos. Arrumou novamente o envelope no qual guardava o presente e sentou-se nos degrais de cimento.

Não demorou mais que cinco minutos e Sherlock pôde ver John saindo de casa e atravessando o quintal dos fundos, sorrindo.

Uma graça, pensou Sherlock, abraçando o mais velho.

- Você demorou.

- E você está cheirosinho. - Sorriu. - Posso abrir o presente agora?

- Agora? - Sherlock olhou para o envelope. - Aqui mesmo?

- Onde mais? No restaurante eu vou enchê-lo de gordura! Vamos, me passe isso!

Sherlock, muito vermelho e envergonhado, obedeceu. Entregou o envelope vermelho e observou John abrir e ler a carta.

**

Eu... sou extremamente grato por tudo o que fez por mim. Sempre que minha tristeza tomava conta, você vinha sorrindo e me beijando. Sempre soube o que dizer e sempre esteve aqui. Eu não poderia pedir outra pessoa na minha vida.

Se por um lado eu sou um péssimo ser humano, por outro você é o melhor do mundo. Você cai mas sabe levantar. Chora mas consegue parar. Se machuca, mas sempre se cura facilmente. Pelo menos diante de mim.

Você não é fraco, John Watson. Nunca foi. Você salva essa falha do universo todas as vezes que pode, e ainda tem paciência pra me chamar de meu amor.

Não tenho dinheiro para comprar coisas caras. Não posso fazer uma festa cheia de amigos para nós dois, pois eu não tenho ninguém além de você. Eu sei que não sou um ser humano compreensivo e não escuto as coisas direito, mas eu juro que você é o motivo de tudo.

Só saiba que eu te amo. Feliz aniversário, caro Watsy.

**

- Isso é... - John disse, depois de um tempo olhando o papel dobrado com capricho.

- Ridículo, eu sei. - Sherlock suspirou, envergonhado.

- A coisa mais linda do mundo. - John corrigiu, sorrindo.

- Que? - Sherlock perguntou, mas não recebeu resposta. Recebeu um abraço e lágrimas felizes que molhavam sua blusa.

- Sherlock você complicou tudo. - John continuou chorando, dessa vez as lágrimas eram acompanhadas de soluços.

- Eu sei sobre o exército. - Sherlock suspirou, apertando John mais forte ainda. - Eu deduzi ontem. Olha, vai ser bom pra você. Você termina e volta para mim como Doutor Watson.

- Eu não quero ir. - John soluçou, agarrando os ombros do namorado.

- Eu vou escrever para você. - Sherlock já não tinha segurado mais as lágrimas e já agarrava o namorado como se estivessem à beira de um penhasco.

- A minha mãe precisa do dinheiro que eles dão pra família dos estudantes, Sherly... - John já estava um pouco mais calmo, mas a dor ainda era forte. - Vamos passar bem por isso, não vamos?

- Com certeza... eu... eu te amo. - Sherlock enterrou a cabeça no pescoço de John.

- Vem. - John puxou Sherlock para sua frente e limpou suas lágrimas. - Temos um jantar para ir.

[...]

A comemoração fora ótima. Ambos aproveitaram o máximo um do outro, principalmente à noite.

Depois de um mês, John teve de embarcar num trêm para a organização militar. Doeu, mas os dois iriam superar.

Esse acaso era só mais um clichê na vida desse casal. Era só uma pedra pequena no caminho de alguém que já havia escalado o Everest. Eles não estavam se despedindo, estavam dizendo que aquilo ia passar e que depois de alguns anos John iria voltar com diploma e um Sherlock adulto.

Sherlock escrevia sempre, e John escrevia apenas quando não estava atolado de provas e treinamentos surpresas.

Houve apenas uma vez que eles se viram nos seis anos de exército, e foi em um sábado no qual John escapou da aula de segunda e pôde voltar para ficar o domingo em casa. Nesse dia, fizeram amor. A dor da partida fora dez vezes pior e a saudade quase matava, mas eles conseguiram passar por isso também.

A questão é que o amor dos dois é tão forte que nada poderia impedí-los. Nenhum universo, nenhum roteiro mal escrito e nenhum preconceito pode mascarar o romance clichê dos dois.

Foi assim à duzentos anos, é assim agora e será assim para sempre.

Fim.

Who I Am Not.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora