CAPÍTULO 01 - BLACKOUT

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Com seu corpo sedutor subiu as escadas que a levavam ao segundo andar da Fabric. Localizada ao norte de Londres, no Bairro de Farrigdon, a boate era famosa por sempre concentrar aos finais de semana o melhores DJs de toda a Inglaterra. Ela estava lá, com suas roupas exóticas e seus olhos de um castanho amendoado e uma pele negra muito bem cuidada.

May estava onde sempre quis estar, Londres era um sonho dos tempos de menina, quando ainda morava em Lisboa. O som da música era avassalador seu corpo inteiro seguia o ritmo e era impossível ouvir seus pensamentos. Aquilo era uma imagem que mexia com sua natureza, sentia-se livre. Dirigiu-se até a pista e dançou de olhos fechados como se estivesse sozinha, tudo era uma grande novidade, não dominava o idioma tão bem, mas durante os dois meses que haviam antecedido a sua chegada se aperfeiçoara consideravelmente. Em Londres era uma nova pessoa, uma nova mulher, adotou outro nome e tentava de toda forma constituir uma nova vida longe de dores de um passado que não queria mais se lembrar. Fabric era um dos lugares que gostava de ir nos fins de semana. Sentia se livre.

­­ ­— Absinto — disse ao garçom sem encará-lo enquanto observava atentamente um dos rapazes seminu que dançava próximo a pista central.

­­­­ — Hoje estou com sorte— disse para si mesma afastando-se do bar com o absinto entre os dedos que possuíam as unhas num tom vermelho que contrastava com a luz negra vinda de ambos os lados e se quebrava em milhares de cores pelos hologramas projetados em todos os cantos da Fabric.

May era conhecida por quase todas as boates de Londres, em Camden Tawn, bairro que se localizava a KOKO, boate famosa por sua música Pop ao vivo e instalada em um teatro antigo, trazia uma infinidade de turistas de todos os lados do mundo. May gostava disso. Gostava dos prazeres voláteis, de homens refinados e claro do dinheiro que estes podiam lhe pagar. May tinha seu preço, esse era um dos planos quando saiu de Lisboa. Era ambiciosa, esperta e sabia que era uma mulher atraente, como são todas as latinas. Filha de mãe brasileira, herdou desta as curvas carregadas e capazes de fazer qualquer homem se perder.

— Tudo bem? — gritou se aproximando quem a olhara curiosamente enquanto bebericava o líquido verde na taça de cristal — Então gosta de inebriar-se no absinto? — Sussurrou próximo do ouvido de May.

—Talvez— Respondeu May mostrando-se desinteressada, mas sua vítima daquela noite não escaparia, o havia seguido no fim de semana anterior na KOKO e tinha certeza, que se tratava de Antony Hassyns, o qual tinha uma dívida com quem acertar, sabia que estaria naquela noite na Fabric.

—Hum então gosta de joguinhos, qual seu nome? — disse Antony certo de que May estaria na sua cama em questão de algumas horas. Gostava de mulheres que se faziam de difíceis e essa seria mais uma que depois de uma noite certamente nem se lembraria mais do nome no dia seguinte.

— May Watson — mentiu olhando fixamente nos olhos de Antony, olhos verdes profundos, como o absinto, pensou ela dando-lhe um sorriso.

— Se você quiser ir à minha casa, moro pertinho podemos conversar mais  a vontade — Antony acreditava que May estava inteiramente seduzida por suas palavras e era assim mesmo que ela o queria, pensando que a havia conquistado.

Saíram os dois pela porta lateral que era exclusiva para clientes VIPS. Clientes que como Antony possuíam acesso livre em estabelecimentos refinados como a Fabric. Antony a conduziu até seu Lamborghini Reventon Vermelho e que May tinha certeza custara alguns milhões de dólares, agia friamente e seguia seu plano à risca.

No caminho até onde Antony morava levou aproximadamente vinte minutos, durante todo trajeto May conversava sobre amenidades e impressionava Antony com seu sorriso de um branco perfeito.

— Obrigada — disse ao descer do veículo, aceitando a mão de Antony diante de um jardim miraculosamente projetado e que se fazia rodear por Latânias Rubras e Rosas do deserto em flores que davam a mansão um ar ainda mais sofisticado e faziam daquele encontro algo ainda mais prazeroso para May.

Antony conduziu May até a sala da Mansão dos Hassyns, fantasiava em sua mente possuí-la ali mesmo sobre o tapete persa, que assim como o Lamborghini custara algumas cifras na casa dos seis dígitos. May tentava mostrar indiferença ao ambiente decorado com extremo bom gosto, não estava ali para se intimidar com quanto dinheiro Antony possuía, na verdade o motivo era outro, o havia visto, assim que chegara em Londres, nos noticiários onde aparecia constantemente ostentando alguma obra beneficente ou em meio a algum empreendimento bilionário. May arquitetou seu plano durante semanas, pesquisou os lugares que Antony Hassyns frequentava e sabia que nunca resistiria a beleza de mulheres assim como ela, donas de um jeito único, sedutor e --claro-- fatal.

— Deseja beber algo senhorita? — Exclama Antony preparando duas taças de Jeam Beam no bar localizado próximo a lareira — Essa era a oportunidade que May aguardara, a bebida sempre era necessária para diluir a escopolamina.

Antony caminha até à varanda onde May observa a piscina iluminada por lâmpadas de led e gentilmente oferece uma das taças a ela que o envolve em um longo beijo. As mãos hábeis da jovem negra despeja o liquido na bebida sem que este perceba.

— Faremos um brinde para marcar nosso encontro — adianta-se May, pretendendo terminar logo com aquele momento que se alongara demasiadamente — Antony ergue a taça que tilinta ao encontrar a de May.

— Não irá beber? — Pergunta levando a taça até os lábios e ingerindo uma grande dose, May o observa calma, ciente que o efeito da escopolamina não tardaria a fazer o efeito.

— Antony, consegue me ouvir?— sussurra May olhando os olhos verdes de sua vítima caída no tapete­­ — Não me parece tão sedutor agora, não? — E irrompe em uma gargalhada — Não se preocupe, querido Antony, isso não irá doer, não vai se lembrar de nada quando o efeito da escopolamina passar, mas preste atenção, me ouça bem — Diz a mulher retirando da bolsa uma seringa com um líquido vermelho e injetando-a no braço de Antony que com o efeito da droga não consegue se mexer para impedir.

May aproxima-se de sua vítima ao chão e lhe toca os lábios docemente, o homem imóvel está alheio a tudo que lhe cerca — não se preocupe, querido, não irei lhe roubar, ou furtar nada de sua mansão — e novamente a gargalhada quebra toda a serenidade da mulher — o que quero de você é o mesmo que tirou de minha mãe — Diz colocando por cima do peito de Antony um envelope preto — boa noite querido — cochicha apagando a luz por trás de si e fechando a porta.

***

O som da música alienante e as luzes iluminam o rosto de May na Fabric, ela segura sua inseparável taça na qual o Absinto reluz em sua tonalidade esverdeada, seus olhos brilham e seu sorriso não demonstra nem um traço de remorso. Comprara passagem para viajar ao Brasil e visitar Lenna, sua mãe, que se encontra em estado terminal, logo depois retornaria novamente à Londres.

Na mansão de Antony Hassyns começa a amanhecer, os raios de sol invadem a sala e causam incomodo aos seus olhos que demoram um pouco a se acostumarem com a claridade. Nota o envelope preto sobre seu peito, não se lembra de muita coisa, apenas que estava acompanhado de May, mas não a vê por ali. Abre o envelope com curiosidade e o lê:

Querido Antony;

A vida é maravilhosa, quem duvida disso, e também muito curta, quando você deu Molly para minha mãe quando esta esteve aqui em Londres na BLACKOUT deixando-a, entorpecida pelo efeito dessa maldita anfetamina, sozinha pelas ruas de Farrigdon onde foi violentada, destruiu bem mais que só a vida dela. Deixei um presente para você, corre em tuas veias como corre nas de minha mãe.

Tenha uma breve vida infeliz!

Com carinho

Débora ou como preferir; May Watson

*********continua...********

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Abraços

O autor

BlackoutWhere stories live. Discover now