CAPÍTULO 02 - CIANURETO

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Porto das Pedras – Alagoas– Brasil

A vigem havia sido cansativa, muitas horas de voo até Maceió. May sabia exatamente o que precisava fazer no Brasil.

—Droga de cidade! — Xingou baixinho assim que desembarcou no aeroporto Zumbi dos Palmares—que seja rápido — pensou, apressando-se em direção à saída, empurrando um carrinho com suas bagagens.

May enfrentaria horas de ônibus até Porto das Pedras, a cidade de pouco mais de 12 mil habitantes estava localizada em uma região muito bonita, onde o Rio Manguaba encontra-se com o mar. Precisava acertar contas do passado e despedir-se de sua mãe Lena. Enquanto seguia de ônibus pelas estradas, lembrava-se dos tempos de menina. Lembranças essas que lhe causavam desconforto, suas mãos apertavam forte os suportes de apoio dos assentos ao ponto de ficarem com os dedos brancos, o cabelo negro preso em um turbante colorido lhe dava um ar ainda mais sofisticado, uma lágrima escorre por debaixo dos óculos escuros pingando no vestido que realçam discretamente seus seios. Estava contra sua vontade novamente naquele lugar, no palco de onde pretendia nunca mais voltar.


A Balsa estava atracada as margens do Rio Manguaba e aguardava os turistas que constantemente rumavam para Porto das Pedras, não era uma viagem longa, porém May já se encontrava exausta e precisa ver sua mãe, seria um contato difícil. Lena quando voltou de Lisboa, após uma longa estadia em Londres, preferiu mudar-se de Maceió para um lugar mais calmo, residia sozinha numa modesta casa nas proximidades do Hotel Villages.

— Hotel Villages, por gentileza — informa ao motorista que prontamente abre a porta do veículo prata muito desgastado pelo sol e a maresia.

— Sim senhorita — diz o jovem rapaz de cabelos fartos e corpo torneado. May observa discretamente enquanto é conduzida pelas ruas de Porto das Pedras entre uma verificada e outras no smartphone.

— Como se chama? ­ — diz entre um sorriso quase perfeito.

—May, me chamo May — responde sem demonstrar muita simpatia. Algo no rapaz a atraía e num fim de mundo como aquele poderia, quem sabe, ser um divertimento no fim da noite.

— Me chamo Hugo — muito prazer May, se precisar dos meus serviços estou à disposição — diz pegando um cartãozinho no porta luvas e entregando-a.

— Qualquer coisa mesmo? — Sorri de forma maliciosa — talvez precise de seus serviços mais tarde, durante a noite, sempre pode ser uma possibilidade...

— Sempre as ordens — responde Hugo no exato momento que estaciona em frente ao Hotel Village. As malas são retiradas do veículo e levadas por um funcionário que aparenta ter uns sessenta anos.

— Obrigada Hugo — diz afastando-se enquanto o jovem de pele bronzeada a observa — esteja certo que entrarei em contato — conclui sem olhar para trás em passos rápidos e firmes que proporcionavam a sua estatura mediana um ar gracioso.

May dirige-se ao imenso Hall do Village que possui decoração moderna e quase inacreditável para um lugar tão distante da capital. Porto das Pedras não era um lugar sofisticado, lugar de pessoas simplórias e que tem como principal meio de trabalho a exploração do turismo considerando que possui belezas naturais incomparáveis.

— Quarto 267— diz estendendo um cartão magnético a recepcionista que aparentava ser tão mais velha quanto o carregador — aproveite a estadia senhora May Watson.

— Obrigada! — Responde posicionada em frente ao elevador que a levaria para o segundo pavimento onde se encontravam todas as suítes — em meia hora peça que me seja servido uma garrafa de absinto — interrompe os pensamentos dirigindo-se à recepcionista.

— Como desejar senhorita May.

Enquanto o elevador percorria o pequeno espaço de andares, May voltava a organizar seus pensamentos e priorizava em sua mente o que precisava executar com mais urgência. O carregador havia seguido pelos elevadores de serviço e se encontrava à porta do Flat, May utiliza o cartão magnético para abrir a porta eletrônica e fica realmente impressionada com o que seus olhos veem.

— Uau— Admira-se verificando a imensa sala, copa e cozinha separadas do quarto. A cozinha equipada com um fogão elétrico embutido numa peça de granito e o piso em cerâmica que proporcionavam o ambiente um frescor tropical. Realmente aquilo causava-lhe certo prazer, acostumou-se aos requintes Europeus depois de tantos anos vivendo fora do Brasil — pode retirar-se— diz ao bagageiro sem encará-lo.

— Sim senhora — diz o velho senhor de aparência desanimada — estamos à disposição para atende-la no que precisar senhora.

— Por hora apenas desejo não ser incomodada— exclama dirigindo-se para o quarto enquanto a porta magnética faz um som característico ao ser trancada automaticamente após a saída do bagageiro.

Desfazendo-se das peças de roupas e sapatos, May joga-se na cama e logo é preenchida com pensamentos de vingança, no bolso posterior a uma das malas retira um pequeno frasco com uma substância azulada em pó.

— Cianeto — Diz em voz baixa enquanto segura o pequeno frasco que cintila à luz. — Será instantâneo Papai, mas antes iremos relembrar os velhos tempos — e gargalhando de forma estridente se joga na cama adormecendo em seguida, exausta pelas horas de viagem.

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continua...  


BlackoutWhere stories live. Discover now