CAPÍTULO 12 - O Diário de Lenna

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A decoração do quarto, não poderia ser diferente, para contrastar com o branco das montanhas ao fundo cores mais intensas nas paredes, flame, uma cor entre o vermelho e o abóbora dava ao espaço um ar sofisticado e acolhedor. A esquerda da entrada uma grande cama com lençóis brancos, facilmente identificava-se que seriam de linho egípcio. Débora toca o tecido, sente a textura e a alvura de sua cor, muitos anos antes envolveu-se com um comerciante Egípcio em Lisboa e este lhe ensinara algumas coisas que carregara para sempre, o brilho e maciez da peça lhe trazia boas recordações de Mensah que sempre lhe contava da experiência de mais de cinco mil anos de técnicas de produção e preparação do algodão por seus ancestrais.

— Esse filho da mãe não poupou gastos para impressionar — diz ao levantar-se e caminhar até a varanda com vista para o lago Nahuel Huapi, a grande parede de um canto ao outro substituía a alvenaria por um finíssimo vidro laminado que refletia do lado exterior as cores da estação — uau, é uma vista impressionante! — Debi estava fascinada desde que chegara do aeroporto, o Resort San Martín a encantara completamente, durante alguns momentos ficou a observar as montanhas, a neve que encobria toda a paisagem até o momento que o interfone anunciava que o garçom lhe trazia a Fada Verde. Um rapaz sorridente surge assim que a porta é acionada com cartão magnético por Debi, jovem de pele levemente clara e olhos tão verdes quanto o Absinto que carregava em uma bandeja de prata de extremo polimento juntamente com um balde com gelo e duas taças Messina Rona que lhe fez ter a certeza que Absinto não era uma das bebidas mais pedidas no recinto, isso era óbvio, a região possuía grande fama por possuir o melhor vinho e, como havia dito Gonzáles, as cervejarias artesanais estavam se tornando cada vez mais comuns. As taças trazidas pelo sorridente jovem eram apropriadas para licor e o Absinto não passava nem perto de ser um, era um destilado, e ao ver que se tratava de uma garrafa do autentico Absinthe Suisse seu rosto iluminou-se em um grande sorriso.

— Obrigado — leu atentamente as letras bordadas douradas no uniforme — Agustin Matias.

— A su disposición, señorita, melhor dizendo — continuou em um português com um pouco de sotaque — A sua disposição, senhorita Malynda.

— Vejo que fala perfeitamente meu idioma. — Impressiona-se Debby, mesmo sabendo que essa informação lhe havia sido repassada por Ruan Lopes — gracias por su atención, en es momento es sólo eso que necessito, una buena noche — finaliza em um espanhol perfeito.

— Buena noche, senhorita Malynda. — despede-se em um sorriso impressionado. Não imaginaria nunca que Débora saberia falar em sua língua, acostumado com os brasileiros se enrolando em um portunhol sofrível aquele fato lhe deixou surpreso.

Débora serve-se de Absinto, preferiria que fosse o Absintopara ser preparado com a água gelada e sua charmosa colher para colocar sobre ataça com os torrões de açúcar, mas sabia que dificilmente encontraria, mesmo no requintado


San Martin, o que nem seria por falta de dinheiro, pelo que observara não se poupavam gastos, mas sim pela facilidade em servir uma bebida pronta e de apreciação de um público menor, principalmente por ser uma região gelada.

Cansada pela viagem Débora ainda bem agasalhada admira a vista do Sam Martín e aprecia o sabor do absinto, a noite cai levemente, passa um pouco mais das vinte e uma horas. Apesar da longa viagem sente-se ainda excitada para colocar em prática seu plano, entra vagarosamente em seu quarto, desfaz-se do sobretudo que não se faz mais necessário devida a climatização no ambiente, retira da baliza o velho diário da mãe, a cor preta do couro desgastada pelo tempo, pressiona-o contra o peito como se o fizesse com a mãe. Tateia as páginas, a caligrafia da mãe em algumas folhas amareladas, algumas letras em azul desbotado pelo tempo, pequenos papeis, anotações que Lenna julgava importante, números de telefones de pessoas que nunca ouvira falar, palavras riscadas por erros de ortografia, ou talvez, por arrependimento de tê-las escrito ali.

BlackoutWhere stories live. Discover now