CAPÍTULO 10 - Caminhando Sobre o Gelo

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Bariloche – Rio Negro - Argentina

Quando morava em Lisboa Debby conheceu uma escritora enquanto caminhava pelas ruas movimentadas e tomadas por turistas de todas as partes do mundo, essa havia lhe presenteado com um livro, na verdade seu primeiro livro, Solo Sagrado, e este se tornou um de seus mais queridos. A história contava um romance de uma musicista por um Padre. No aeroporto de Maceió, aguardando o embarque, seus olhos buscavam os de Hugo, seria o amor como no Romance que lera em Lisboa? Ainda não tinha nenhuma resposta formulada para essa questão, aquela última frase do livro; "O amor é clichê'', de fato o amor só pode ser um grande clichê, mesmo.

Hugo aguardava em silêncio enquanto Débora realizava o check-in, seus pensamentos o levavam longe também. Não fazia ideia do que Debby iria fazer em Bariloche, mas sentia que era importante para ela, por outro lado não iria questiona-la sobre a viagem, como haviam combinado, se reencontrariam em um ano. Ao final de doze meses exatos poderiam decidir se o tempo os uniria mais ou findaria aquela história que se iniciara nas dunas de Porto das Pedras.

Débora estava de costas para Hugo no balcão, uma fila estendia-se até o hall, próximo à área de embarque para acesso as aeronaves, Hugo a observava quase sem piscar, parecia enfeitiçado. Aquele homem de braços fortes e sorriso largo mostrava-se sério, sentia que era uma despedida. De fato, realmente era, se pudesse, o que tinha absoluta certeza que não, embarcaria com Debby para a Argentina, nunca estivera por lá, não possuía família a quem dependia diretamente dele, seus pais haviam falecido há muito tempo, mas em seu íntimo, apesar de acreditar que não era uma má ideia, tinha absoluta certeza que seria impossível e dissipou estes pensamentos com a aproximação de Débora.

Débora trajava uma calça azul celeste e uma camisa de mangas, nas mãos as bagagens que poderiam ser levadas consigo e um sobretudo felpudo para o inverno glacial de Bariloche, não conhecia a província de Rio negro, mas sabia por meio de pesquisas e clientes, que naquele momento lhe foram contatos úteis. Debora tinha então plena certeza que o frio de menos dez graus naquele mês de julho poderiam ser bem assustadores para uma mulher que era uma grande apreciadora de lugares quentes, mas o frio Europeu lhe moldara e se sairia bem durante o tempo que lhe fosse necessário para que colocasse em prática seu plano. Ruan Lopez, como conseguiu se informar, era dono de um dos Resorts mais famosos de Rio Negro e era neste, exatamente neste hotel, com vista para as montanhas Chilenas que iria se hospedar.

— Ruan Lopez, — pronuncia em voz alta e logo recompondo-se ao notar que as palavras lhe haviam escapado dos lábios.

— E quem é Ruan Lopez, Debby? — questiona em tom inquisidor, demonstrando desconfiança.

— É um velho amigo —, pondera buscando os olhos de Hugo. — Um amigo muito especial, muito especial mesmo, meu querido Cavaleiro. — Finaliza demonstrando tranquilidade. Débora saia-se bem de qualquer situação, não queria que nada sobre seus acertos de contas fossem divulgados, era cuidadosa, isso era uma de suas maiores qualidades. Muitos a poderiam considerar uma psicopata, uma assassina fria e calculista, mas quem poderia julgá-la? Qual dos seres humanos não possui, mesmo que de forma mínima, um pouco de ódio ou um desafeto a quem desejaria realmente matar com suas próprias mãos? Não sejamos hipócritas, somos humanos e é natural da natureza humana o amor e o ódio.

Ruan teria o que merecia, o que Débora, ou melhor, May julgava que merecia. Durante semanas planejou a viagem, os valores deixados pela mãe viriam a calhar e fazer uma grande diferença, não era uma fortuna eterna, mas com todas as economias que a mãe deixara e o que vinha acumulando em Londres e Lisboa com seus serviços de acompanhante para adultos poderia levar uma vida tranquila e realizar sua vingança.

— Lembre-se que daqui a um ano, Senhorita, estarei lhe aguardando aqui, neste mesmo aeroporto, neste mesmo dia e mês..., — se não aparecer eu entenderei — diz abrindo os braços e envolvendo Débora calorosamente, o cheiro da loção pós barba estava ainda fresco em sua pele, um cheiro agradável e que de forma leve impregnou-se junto a face de Débora. — Boa viagem, quero que saiba, — engasga-se com as palavras — que eu gosto muito de você e que espero que daqui a um ano, e que não compreendo, mas respeito, estarei aqui, para lhe receber.

BlackoutWhere stories live. Discover now