CAPÍTULO 14 - NO CAIR DA NEVE

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As luzes do Sam Martin iluminam de forma uniforme todas as dependências da grande construção. Débora havia se recuperado da longa viagem e a diferença pequena de fuso horário, as informações do diário da mãe, as páginas ausentes fizeram-na perder o sono, mesmo quase dopada pelo forte absinto.

Devidamente agasalhada e após realizar o desjejum dentro do próprio quarto, pois optou em não fazer as refeições no restaurante do Resort afim de não despertar nenhuma suspeita e manter-se isolada para melhor pensar como agir naquela noite, solicitou pelo telefone o serviço de uma Ramis, e claro tinha a preferência pelo motorista.

— Bom dia, senhora May — disse Gonzáles com um sorriso grande e amistoso por de trás de seu grande bigode grisalho que cobria parte dos lábios, — fico feliz em ter solicitado meus serviços — diz enfaticamente, abrindo a porta do veículo, — para onde vamos?

— Centro Cívico, Gonzáles — sorri em retribuição Débora, de fato havia gostado da companhia do falante senhor e precisava ainda de algumas informações que poderia serem pertinentes. Acomodada no banco traseiro, observava a paisagem branca, Bariloche sem nenhuma dúvida era uma cidade encantadora.

— Senhora May, — inicia Gonzáles observando sua passageira — então decidiu conhecer o Centro Cívico?

— Onde Estão as melhores lojas de chocolate? — diz entre sorrisos enquanto ajeita o cachecol de lã espessa ao redor do pescoço. — Pretendo também fazer uma visita ao museu e apreciar a arquitetura local.

— Sabia que os edifícios ao redor da praça Cívica foram construídos em pedras verdes e madeiras para se assemelharem as cidadezinhas Europeias localizadas nos Alpes? — Não era uma pergunta e Débora aprenderá em pouco tempo que seu chofer era quase uma enciclopédia Barsa, o que também nem seria uma grande novidade, já que o mesmo vive de guiar turistas pelas ruas da província.

­­— Gonzáles, pode parar por aqui — diz Débora frente à Mamuschka — preciso comprar chocolates.

— Deseja que a espere?

— Por favor, Gonzales. — disse caminhando em direção à loja.

A Mamuschka é a tradicional loja de chocolates de Bariloche, possui uma variedade infinita de doces feitos artesanalmente com o mais puro chocolate. Débora adentra a porta e logo se dirige para o balcão cercado por turistas, a decoração de tons vibrantes em vermelho e linhas verticais em cores brancas detalhando vitrines que exibiam os mais finos chocolates.

Por favor, deseo barras de Gran Perú Blanco — diz Débora apreciando as barras em cortes quadrados com alto relevo de imagens de um cacau inteiro e outro pela metade decorando cada um dos tabletes expostos.

Chocolate elaborado desde granos orgánicos que traemos de Piura, no Perú, denominados Gran Blanco — apresenta a funcionária sorridente em seu idioma. Débora conhecia bem o seu pedido e a composição dos ingredientes com alto teor de cacau seria perfeito para o que estava planejando.

Dificilmente alguien no tiene gusto de chocolate — profere Débora se despedindo da atendente com um sorriso e de posse de duas pequenas sacolas que traziam o emblema da doceria.

Gonzáles aguardava Débora dentro do Ramis, o frio estava latente e pequenos flocos de neve caíam sobre o chão formando um espesso manto branco. Não tardaria muito e poderia ir embora da Argentina, por fim estava entediada da paisagem, em primeira vista à encantara, porém, os pensamentos não lhe deixavam aproveitar os momentos que precediam colocar em prática seu plano. Pensava em Hugo, sentia falta de seu corpo, do som de sua voz e naquele momento deseja que ele estivesse com ela ali, do seu lado, sentindo o calor de seus lábios e o toque firme de suas mãos. Aquelas lembranças a deixava levemente excitada. Lembrar de como Hugo era especial e o quanto o desejava apenas piorava sua ansiedade.

BlackoutWhere stories live. Discover now