The Moon

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Aquele era um dos dias em que tudo parecia um pouco mais cinza que o habitual e parecia também que a dor psicológica era capaz de atravessar barreiras para fazer com que eu percebesse que ela estava ali.

A saudade de casa parecia gigante perto dos, relativamente, poucos dias que estava longe. Por nunca ter sido alguém que tenha ido para muito longe, largar tudo e todas as histórias que seguravam-me lá, como cordas em um fantoche, acabou sendo uma das coisas mais difíceis a se fazer, entretudo, grande parte de mim sabia que isso era o certo a se fazer.

Acordei e me permitir continuar deitado, olhando para o teto completamente branco a cima de mim como se estivesse no alto de um prédio vendo as estrelas, e me permitir sentir mais que o habitual enquanto estivesse esticado naquela cama desarrumada.

Se permitir é um dos atos de liberdade que acabamos tirando irracionalmente de nós mesmo ao longo da vida. Somos ensinados e reforçamos algumas características que implicam como devemos ser, sem se permitir fazer o que apetece. Se permitir diz a você mesmo que você está no controle de tudo. Se permita sorrir quando algo que te anime aconteceu em um local inapropriado ou quando lembrar de alguma coisa. Se permita chorar quando sentir-se afogando pelas palavras não ditas de quando você não se permitiu expressar-se, ou ficar triste quando algo não vai exatamente bem, muitas vezes, é isso que precisamos para voltar novamente aos eixos. Se permita ter um tempo apenas seu quando tudo parecer desmoronar em problemas. Sentir não te torna mais fraco, e sim mais livre.

A risada das crianças me tirava um sorriso apenas por vir em minha mente e os abraços que as gêmeas me dava eram, simplesmente, insubstituíveis. Sentia falta até mesmo dos conselhos fora de hora que sempre recebia de minha mãe, pois ela, no fundo, sempre temeu que eu cometa os seus mesmos erros. E era em horas como essa que aquele músculo que nos mantêm vivo, e do qual as pessoas tendem a romantiza-lo, o coração, parecia apertar-se de desespero em voltar para casa e deixar tudo de lado.

Felizmente, consegui fazer com que houvesse um dia de folga para mim naquela semana, ou seja, hoje e combinei com Niall para que pudéssemos nos encontrar e andar pela cidade, explorando-a. Mas, para minha surpresa, ele acabou cancelando enquanto eu já pegava as chaves para sair de casa.
Para não estragar o dia ou deixá-lo passar em branco, me arrisquei indo sozinho ao lugar onde iriamos juntos, o que acabou sendo extremamente fácil.
Ao chegar, o sol ainda estava brilhando no céu e não parecia ir embora dentro de pouco tempo, oportunidade perfeita para tirar umas fotos daquela indescritível vista que estava a minha frente.
Depois de alguns minutos, minhas pernas pareciam exausta de continuarem naquela mesma posição, aguentado todo meu peso e, o pior, de minha consciência. Sentei-me e pensei um pouco mais sobre todos aqueles sentimentos que estavam a cerca de mim, não sabia se eles poderiam ser realmente saudáveis, mas isso não cabia exatamente a mim. Na primeira oportunidade que tivesse, minha única certeza era que visitaria minha família, por um dia que fosse.

Quando o sol descia e a luz começava a ir embora, os postes ainda não se ascendiam, porém, voltei a ficar de pé e caminhar um pouco pela última vez antes que partir para o apartamento temporário que denominei de casa.



-Você precisa deixar o celular assim... -Ouvi lentamente enquanto alguém se aproximava pelas minhas costas e passava seus braços por mim, encontrando minhas mãos que segurava a frente o telefone, para a última foto.



Irracionalmente, foi instantâneo que agisse do primeiro medo que passou pela minha cabeça nos poucos segundos em que percebi um desconhecido avançando para roubar meu celular. Soltei uma de minhas mãos, dobrei o braço e levei com toda minha força o mesmo para trás, atingindo o rapaz em direção a sua barriga com a região do meu cotovelo. Rapidamente, o senti afastar e, ao olhar para trás, o vi curvado-se e gemendo levemente de dor com suas mãos pressionando o local.



One More Night - [L.S]Kde žijí příběhy. Začni objevovat