Drinking Memories

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"Louis não foi a primeira pessoa que vi quando cheguei no hospital, na mesma manhã onde muita coisa havia acontecido, mas foi a última antes que eu conseguisse entrar na sala de cirurgia."

Já tinha sido avisado que uma ambulância estava vindo às pressas para o centro cirúrgico e chegaria em, mais ou menos, dois minutos. Não apenas uma, mas várias delas.

Os noticiários pararam e começaram a falar sobre a notícia que se espalhou rapidamente, fazendo com que as pessoas começassem a arrumar as salas cirúrgicas, deixando-as prontas para qualquer demanda, e o hospital ficasse em estado de alerta.

Um carro havia atropelado várias pessoas ao invadir uma rua turística no centro de Londres. Ele estava em uma velocidade completamente alta e foi para cima de todas as pessoas que caminhavam por lá. Segundo a polícia, havia pelo menos dois casos graves, inclusive de pessoas que tentaram fugir e não conseguiram quando viram o enorme carro se aproximar, e isso se dava por ser uma pista extremamente movimentada e que dava acesso a vários lugares da cidade.

Até o momento, ainda não se sabia se poderia ter alguma ligação com terroristas.
Os telefones não paravam de tocar e todo aquele caos que estava há dois dias atrás, voltava como em um piscar de olhos. Mesmo que estivéssemos preparados para isso, a adrenalina começava a subir pelo corpo apenas de ver as pessoas agitadas pelos corredores.

Quando sai da sala de cirurgia, após prepara-la, acabei vendo Louis encostado no balcão de informações. Um de seus braços se apoiavam ali e sua outra mão entrava para seu bolso direito. O celular estava em sua mão, coisa incomum para o horário de trabalho e fora da sala de descanso, mas ele parecia um pouco inquieto em relação a isso.

Não pude deixar de perceber que seus olhos falavam com a funcionária e logo voltavam para aquela pequena tela digital.
Meu coração saltou por um segundo. Eu sabia que não seria muito racional da minha parte pensar assim, já que era formado em medicina e sabia muito bem que isso não aconteceria apenas de olhar para alguém tão excepcional, mas eu me sentia assim.

Depois de alguns segundos encarando-o e sem perceber diretamente que estava tão óbvio assim, mesmo que eu estivesse do outro lado da sala, seu olhar se redirecionou para mim.

Não consegui ler muito bem o que estava acontecendo ali. Por um lado, eu sentia tudo e, por outro, não sentia absolutamente nada vindo do seu olhar. Eu estava do lado das pessoas que sentiam muito.

Ao contrário dele, eu sentia muito por ter sido tão idiota, mesmo sabendo que eu estava sendo. Sentia muito por ter sido tudo minha culpa e por fazer com que ele mal conseguisse olhar por segundos para mim sem lembrar que eu fui apenas mais um nome e um rosto, do qual ele não queria ver ou ouvir nunca mais. Eu tinha plena noção que já fazia parte da sua lista de decepções.

Louis se virou, voltando para os noticiários que passava na televisão da sala de espera, logo ali, e começou a dar passos para frente enquanto focava em digitar mensagens em seu celular. Se tudo estivesse normal, ousaria em dizer que ele estava vindo ao meu encontro, porém, embora ele vinha em minha direção, eu sabia que ele passaria direto ou entraria em algum corredor antes que pudéssemos nos esbarrar.

Assustei-me repentinamente quando vi um pequeno alvoroço se aproximando e se aproximando de mim. Vindo nesta direção, voltei a minha consciência e parei de ficar, simplesmente, encostado na parede com meus braços cruzados, como se estivesse a espera de que algo acontecesse.

Havia uma maca e algumas pessoas ao redor, as mesmas pessoas que a guiavam e chamavam pelo meu nome quando chegaram no andar. Eles acabaram por quase esbarrar em Louis, cujo acabou parando na frente da maca hospitalar por pura desatenção. Ele deu um leve pulo ao perceber a situação e afastou-se para dar espaço aos enfermeiros e o paciente. O tempo era preciso e essencial em cada caso.

One More Night - [L.S]Onde histórias criam vida. Descubra agora