My Lies

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Se as pessoas vão embora, por que elas prometem ficar ou, simplesmente, entram em nossas vidas?

O inverno estava voltando e meus dedos congelavam mais a cada segundo.
Acabei dormindo no sofá, na noite passada, enquanto assistia uma competição de golfe e, provavelmente, esta seja a razão pelo qual eu acabei dormindo. Quando acordei, minha cabeça já não doía da ressaca mental e física que assombrou-me no dia anterior.

Bastou estar cheio de "amigos" ao meu redor ontem e agora eu já não tinha mais ninguém. Nada fora do normal.

Demorei um tempo para ligar a lareira elétrica que nunca tinha usado, não fazia ideia de como mexia e aprendi em um vídeo da internet. Depois disso, nada me tiraria daquela sala novamente, não importava se eu precisaria passar no mercado para reabastecer a dispensa ou a geladeira. Meu café da manhã foi um saco de salgadinhos que ainda restava, nada fora do comum, mais uma vez. Liguei a televisão e todos os noticiários comentavam sobre o mesmos assuntos ou sobre coisas acerca disso. Eu apenas queria algo que eu não pudesse me preocupar enquanto assistia, aliás, eu não precisaria de muito para ter meus próprios problemas me perseguindo. Qualquer desenho animado ou documentários esportivos já faziam-se o suficiente para ocupar minha mente naquele instante.

Não apareci o hospital, do lado de fora do apartamento ou qualquer coisa que me fazia ter contato com outras pessoas e sair da minha bolha social, ao invés disso, estava ocupado demais tentando encher-me com coisas fúteis para disfarçar o verdadeiro motivo pelo qual minha vontade de realizar qualquer uma desses coisas havia sumido.

De uma hora para outra, ou não, aquele saco vazio de salgadinho pelo chão se tornou dois, logo foi para três e aquilo era tudo o que eu havia comido. As embalagens de balas, cujo achei no fundo da dispensa, se juntaram a todas as outras embalagens ao chão.

Aquela casa estava um completo caos, não é atoa que falam que nossa casa reflete nosso estado de espírito. Havia lixo por todos os lados, o chão ainda estava coberto por uma parte de sorvete derretido já seco, minhas roupas se espalhavam, esperavam do quarto até no banheiro para serem lavadas sozinhas e as louças estavam todas sujas na pia.

Todo meu moletom estava coberto por manchas de molhos ou sujeiras das pontas dos meus dedos, assim como o controle remoto engordurado da televisão, que passava mais tempo em minhas mãos que em qualquer outro lugar já que não havia nada que eu realmente quisesse assistir.
Sei que já disse isso um milhão de vezes, mas eu apenas queria ele por mais uma noite, agitando meus dias cinzas e deslocados quando nem eu consigo lidar comigo mesmo e como só ele consegue fazer.

No final das contas, eu não tinha ninguém além de mim mesmo, deitado no sofá e chorando pelo final de Diário de Uma Paixão. Então, por que as pessoas se importavam tanto comigo de forma superficial? Não mudaria a vida delas se soubesse que eu acabo sendo uma pessoa completamente diferente do aparente 'eu' e que eu posso ser sensível em uma boa parte do tempo, mas não, as pessoas precisam se impor e dizerem que eu estou errado por fazer uma máscara social onde ninguém pode me atingir. Na verdade, eu realmente acho que essa sempre vai ser a melhor opção para mim, aliás, isso é o que acontece quando eu abaixo minha guarda, algo que nunca tinha feito antes, porém, agora eu entendo o porquê.

As pessoas não querem saber quem você é porque elas sempre te verão da forma que quiserem. Louis foi a peça chave que fez-me repensar sobre isso, mas, no final, ele também não se importava.

Se eu já for visto de outra maneira, prefiro ser lembrado por algo que quis, uma imagem montada por mim mesmo.

Depois de pensar um pouco sobre isso e me ver revoltado por todos sempre dizerem quem você deve ser, cheguei à conclusão de que nunca deveria ter mostrado esse meu lado para ninguém. Quem saiba assim ele me deixaria por quem eu não sou e não por quem eu sou.

One More Night - [L.S]Onde histórias criam vida. Descubra agora