Lembranças De Um Jardim

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A madrugada abraçava Crosfilt com suavidade. A lua crescente apresentava seu risco brilhante, o melhor sorriso vertical em todo o céu. As estrelas espalhadas pelo breu noturno assemelhavam-se a uma mina cheia de pedras preciosas. Estranhamente não havia uma nuvem sequer, era uma perfeita pintura da mãe natureza.

As ruas eram levemente iluminadas pelos postes e estavam tomadas pelo vazio. Uma vez ou outra passava algum carro, ou até mesmo algum ônibus. Fora isso, a calmaria se estendia pelos bairros, e em suas casas repousavam a maioria dos Crosfiltinianos.

Em um ponto de esquina, na sossegada Interprise, um ônibus parava e pela porta traseira um desligado Way desembarcava. A porta se fechava, o motor soava e o freio de ar surgia como uma despedida sobre a partida do coletivo no qual restava apenas mais dois passageiros.

Gerard respirou fundo. Ele podia ter ido para casa de Billie como fazia com frequência, eles poderiam passar a noite assistindo a maratona de Monson City no canal da Cronix na pequena TV velha, ou poderiam conversar sobre diversos assuntos, ou Gerard poderia apenas dormir grudado nele como se o humilde rapaz fosse um bichinho de pelúcia. É! Way amava aquela ideia inocente, porque Billie era seu amigo fofo e altamente colável. No entanto, apesar de aquilo ser bom, ele não queria. Misteriosamente ansiava por sua casa, pois parecia que fazia anos que não a curtia. Não recordava a última vez que se acomodou em seu confortável sofá para assistir sua maravilhosa televisão de 62 polegadas. Sempre estava bêbado, quando não era isso estava em Division. Há dois dias atrás havia passado o dia inteiro na mansão de Brendon, no anterior havia dormido na casa de Patrick e de lá tinha ido direto para o apartamento do Iero. Simplificando, Gerard estava com saudades de sua morada tão pacífica, aconchegante e organizada. Necessitava extremamente dela, ainda mais depois de tudo o que aconteceu no início da noite.

Passando a caminhar pelas calçadas limpas do bairro, Gerard seguiu pela Burgs rumo a sua casa. Seus olhos contemplavam a beleza do céu e das árvores que se estendiam pelas bordas inferiores do meio-fio. Em sua boca uma fileira de dentes vinha à tona em um sorriso obrigatório, forçado por comichões na barriga, gerados através da imagem perfeita de Frank em sua memória.

Way se sentia extasiado só de lembrar cada momento que passou nos braços dele. Que sonho. Pobre Gerard, tão apaixonado.

Apaixonado?

Surgia um estalo de realidade, vindo de algum lugar daquele cérebro.

" Mas... O quê? O que eu estou fazendo? " Ele pensou levando a mão a testa a deslizando em seguida pelos cabelos. Seu sorriso permanecia, mas desta vez era desacreditado de si mesmo. "Por que estou pensando tanto nele?

— Não acredito que isso está acontecendo. — Gerard cochichou soltando desta vez um suspiro pesado.

Finalmente ele parava para juntar as peças, finalmente o que queria negar regressava com mais clareza. Tanta refusão para esconder a evidente verdade estampada desde que salvou Frank. Paixão! Paixão! Estava apaixonado. Tanto alcoolismo para maquiar isso, tanta confusão para o óbvio. Gerard já havia se apaixonado antes, sabia perfeitamente todos os sintomas, não precisava de ninguém para dizê-lo, só carecia daquele estalo.

"Intolerável! "

Como Andy citou uma vez: Doce ou amarga. A verdade nem sempre é aceitável.

Gerard não conseguia aceitá-la. Tudo aquilo que parecia bom, começou a se tornar ruim. Uma carga inevitável de negatividade preenchia o seu pensamento. Aquilo era um suicídio. Frank era o seu rival, um fruto cheio de veneno. Conhecia o enorme desejo de vingança dele, o viu jurar por diversas vezes.

"Maldito Ryan! " Way pensou.

A cede de Frank jamais passaria. Mas se ele o odiava tanto, como pôde tomá-lo com tanta ânsia? Será que era tão bom ator assim?

TLIAC (Fanfic)Where stories live. Discover now