DEZESSETE ::: 05 de Abril de 2009 - Conselhos Importantes (III de III)

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— Agora vamos falar de um tema um pouco mais delicado. O Síndrome de Estocolmo. — Richard anunciou com maciez na voz.

Jackie comprimiu os olhos se segurando pra não fugir dali. Lutava contra si própria pra ficar pois aquele tema a ajudaria a exorcizar seus demônios.

— O que é o Síndrome de Estocolmo? O Síndrome de Estocolmo é um estado psicológico particular desenvolvido por pessoas que são vítimas de sequestro. A síndrome se desenvolve a partir de tentativas da vítima de se identificar com seu sequestrador ou de conquistar a simpatia do mesmo. Essas tentativas podem acabar por criar no refém sentimentos. Vários exemplos são entre a amizade, carinho, pena, sentimento de proteção e, na maioria das vezes amor. Todas as espécies de amor. Desde amor de família, passando por amor carnal e pelo amor puro entre um homem e uma mulher. — Explicou com tamanha clareza que era impossível restar dúvidas.

Jackie se identificou com aquela definição da doença e sem perceber o desconforto das suas parceiras ao lado, Lacey e Caroline também se identificavam, mas conseguiam disfarçar melhor.

— As vítimas começam por se identificar emocionalmente com os sequestradores, a princípio como mecanismo de defesa por medo de retaliação e/ou violência. Pequenos gestos gentis por parte dos captores são frequentemente amplificados porque, do ponto de vista do refém, é muito difícil, senão impossível, ter uma visão clara da realidade nessas circunstâncias e conseguir mensurar o perigo real. As tentativas de libertação são, por esse motivo, vistas como uma ameaça, porque o refém pode correr o risco de ser magoado. É importante notar que os sintomas são consequência de um stress físico e emocional extremo. O complexo e dúbio comportamento de afetividade e ódio simultâneo junto aos captores é considerado uma estratégia de sobrevivência por parte das vítimas. – Aiden continuou o discurso do pai, tão conciso quanto o mesmo e dava para notar o olhar orgulhoso de Elizabeth sobre o filho. — É importante observar que o processo da síndrome ocorre sem que a vítima tenha consciência disso. Entretanto, a vítima não se torna totalmente alheia à sua própria situação, parte de sua mente se conserva alerta ao perigo e é isso que faz com que a maioria das vítimas tente escapar do sequestrador em algum momento, mesmo em casos de cativeiro prolongado.

— Se vocês repararem bem, o Síndrome de Estocolmo pode ser identificada na literatura infantil, "A Bela e a Fera" que conta a história de uma garota bonita e inteligente que é vítima de cárcere privado por uma Fera, e por fim desenvolve um relacionamento afetivo e se casa com a mesma. — Beth elucidou após a conclusão do filho.

— Nossa, eu nunca que vi essa história por essa perspetiva. — Caroline comentou surpresa.

A pequena palestra continuou por um pouco mais de tempo, debatendo sobre Estocolmo, mas Jackie não conseguia realmente escutar. Ela estava nervosa com aquele assunto e mesmo sabendo que era uma vítima e que o que sentia era apenas uma defesa de sua mente para sobreviver ao cativeiro, ela não conseguia entender porque isso perdurava.

— Então meninas, dou por encerrada essa reunião. Nos vemos semana que vem. – Beth se despediu e todas as garotas se ergueram aplaudindo.

Jackie acordou do seu pequeno transe e apenas se retirou apressada na sala. Ela não se sentia digna de pertencer e participar daquele grupo com pessoas que realmente sofreram e enfrentaram suas dores de frente, com coragem, sem se esconderem atrás de uma maleita da mente.

— Jackie, espere. Por favor, espere! — Lacey pediu correndo atrás da garota.

Carol conseguiu correr um pouco mais rápido alcançando a garota e a fazendo parar. Jackie estava aos prantos sufocando no seu próprio choro e Lacey se aproximou finalmente e a arremessou num abraço, reconfortando sua dor.

Stockholm [PT/BR]Where stories live. Discover now