Renda negra

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“Eu caminho ao seu lado e as trevas abandonam a minha alma. Eu caminho com ela e ouço o som de poderosas asas.” (“Sandman”, Neil Gaiman)

Pânico. Jimmy entrava em pânico e não sabia mais o que estava prestes a fazer com o seu futuro. Aquele era o quinto copo de conhaque que bebia e os sentidos dele já estavam completamente confusos. Lágrimas banhavam seu rosto e uma agonia profunda rondava seus últimos resquícios de esperança. O bar ficava longe da cidade, na beira de uma estrada pouco movimentada. Estava quase vazio, exceto pela presença de um velho que acariciava o dorso de um vira-lata magricelo e a garçonete loira, uma cópia cansada e desanimada da Barbie. Ela usava um crachá escrito “Susan”, o que deu a Jimmy uma certa intimidade para chamá-la pelo nome:

– Susan, minha boneca… – ele chamou, em meio a soluços. – Você pode encher meu copo? Juro que é a última vez. – a fala saía entrecortada. Ele logo perderia os sentidos.

– Você tem certeza, senhor? Acho que você está exagerando. Já é o quinto copo e logo mais fecharei o estabelecimento. – a moça tentou alertá-lo do possível coma alcoólico que aconteceria. – É melhor você ir para casa.

– Casa? Um vagabundo encrenqueiro como eu não merece uma casa. Aliás, você sabe me dizer o significado de casa, minha querida Susan? – Jimmy apontava o indicador para a moça atrás do balcão. Ela era paciente até demais, ao ponto de dar ouvidos àquela conversa.

– Casa é o local onde moramos, senhor. Onde cozinhamos, dormimos, assistimos televisão… Casa é uma construção onde vivemos. Pelo menos foi isso o que me ensinaram. – ela deu de ombros.

– Nada disso. Casa é o lugar onde seus filhos e sua esposa vivem. Onde se faz almoços para o Dia de Ação de Graças. Onde se vive em paz, onde você faz planos para o futuro… Casa é onde você se sente feliz e seguro. Não o lugar em que você encontra sua esposa e seu melhor amigo na cama. Isso não pode ser chamado de lar. Inferno seria um termo mais apropriado.

– Eu sinto muito. Muito mesmo. – Susan sabia como ninguém o peso de uma traição. Seu ex-namorado acabara de noivar com a amante e ela sentia-se a pessoa mais desiludida do mundo.

– Minha vontade era de matar aqueles dois safados. Mas sabe por que eu não fiz isso? Porque eu sou um burro. Um idiota que alimentava a relação dos dois sem saber. E sabe de outra coisa? Meu filho dormia enquanto os dois se encontravam escondidos. Meu pequeno Tom, tão inocente… – Jimmy parou a as lágrimas começaram a cair, em uma torrente cheia de ódio. A pobre garçonete, compadecida pelo sofrimento do homem, encheu ainda mais o copo com conhaque, pois sabia que aquele era

 que aquele era o único remédio capaz de reprimir toda a dor que ele sentia.

– Mas você pode dar o troco nela, acredite. Arrume outra mulher. Você é bem apessoado, com todo respeito. Mulheres não faltarão… – Susan tentava confortá-lo. Ela não suportava ver pessoas chorando. Tinha um grande coração. – Você não pode viver o resto dos seus dias preso à essa espelunca. Você é jovem e tem muito o que viver ainda. Eu sei que dói, mas fazer o quê? A vida sempre encontra um modo de nos dar uma rasteira.

– Eu já gastei tudo o que eu tinha essa semana, garota. Apostei até as últimas moedas e perdi. O que me resta agora? Não tenho esposa, não tenho um lar, não tenho coragem de ver o Tom… Que vergonha para ele ter um pai como eu. Um desequilibrado prestes a acabar com toda essa dor. Ele vai entender. Ele vai me perdoar algum dia. Eu espero. – dizendo isso, Jimmy tirou um revólver do bolso de seu casaco escuro e pesado. Susan imediatamente afastou-se do balcão, implorando para que ele não fizesse uma bobagem.

HISTÓRIAS DE TERRORWhere stories live. Discover now