Heavy

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Lauren's Pov

Quando recobrei a consciência, percebi que Chester - o rapaz careca que estava ali,  comigo - estava amparando minha cabeça, mas meu corpo estava contorcido no chão cheio de lama.

- Você desencarnou por inalação de monóxido de carbono,  mas quando houve a explosão, seu Espírito ainda não havia sido desligado... Por isso sente as dores do fogo.

Sento-me com dificuldade, ele parece sereno,  apesar do lugar e das circunstâncias.

- Se sente melhor?  Você gritou muito - ele comenta casualmente - todos os dias,  na mesma hora. Esteja pronta.

Ambos suspiramos.

- Você... Hm,  se importa de dizer como foi?  - pergunto com cautela. Ele me observa,  tranquilo,  sorri triste e se ajeita contra a parede de pedra.

- Bom... Aparentemente,  a depressão é o mal do século - ele perde o olhar numa árvore particularmente seca - as pessoas tem a péssima mania de achar que fama, dinheiro, sucesso, é tudo. Deixe-me te falar uma coisa,  se eu pudesse,  eu usaria meu dinheiro para ter alguma paz de Espírito.

Ele fecha os olhos e respira fundo.  Cruza os dedos sobre o colo,  abre os olhos e continua.

- Eu amo meus fãs,  eles sempre foram 50% da minha força e determinação em não me auto-destruir. Me importo com eles,  com todos e com cada um especificamente.  Se eles se identificam com a minha música,  então eles sabem do que estou falando, entende?  Eles sentem a mesma dor, e eu só queria poder cura-los,  mas como eu posso curar alguém se eu estou doente?

Num impulso, coloco minha mão queimada sobre a sua,  roxa e sem oxigenação - aqui o perispirito reflete o corpo carnal no momento da morte - e ele me olha, surpreso,  mas deixa sua mão sob a minha.

- Você nunca esteve sozinho,  não só porque as pessoas também sentiam aquilo tudo... A metade delas, estavam lá para apoia-lo.  Eu mesma me vi em várias letras,  em dias cinzas sua voz era tudo o que eu queria ouvir,  eu não entendo de algumas dores, mas sei como é sentir dor ao ponto de... Estar aqui. - finalizo, encarando o chão úmido. Ele segura meu queixo entre o indicador e o polegar,  e ergue meu rosto, me olhando nos olhos.

- Você estava lá por mim,  e eu sou grato. Peço desculpas por esse ato. Eu sei como isso caiu sobre meu público.

Sorrio, sem jeito.

- Eu estava lá por você,  e você por mim. Sinceramente estava tão perdida em minha própria dor, que não soube do que houve contigo...

Minha voz morre ao final da frase.

- Sabe, os dias são cinzas, todos, e existem alguns pontos coloridos,  esses pontos eram meus filhos,  minha esposa,  meus companheiros de banda   meus fãs. Acontece que,  em alguns momentos,  o cinza escurecia demais, era como se eu fosse jogado dentro de uma caixa , que era coberta por um pano preto, esquecida num canto especialmente escuro,  abaixo da terra. Entende?  Não havia cor, nem quando eu via os sorrisos dos meus filhos,  nem quando a multidão gritava que me amava. Eu sei que me amavam, eu podia sentir isso , e eu gostaria que soubessem que eu os amo também, mas eu não suportei mais estar sozinho no escuro, mesmo rodeado das melhores pessoas. Fui egoísta,  e não dá para voltar atrás,  pequena.

Encaro seus olhos. Tão lúcidos.

- Perdi o amor da minha vida num assalto,  e depois nossos filhos num acidente de carro. Sei como é ficar daltônico do nada.

Ele cobre minha mão que está sobre a dele com a mão livre.

- Sinto muito por isso... É...

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