Madness.

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Camila's Pov

Era um caminho íngrime, subíamos por uma trilha à beira de um precipício particularmente escuro.

- Mila,  concentre-se - advertiu Pam,  a minha guia no Vale dos Suicidas - você  precisa encontrar a energia do seu anjo.

Assinto.  Lembro de todos os momentos,  e na verdade são muitos. Todas as lembranças que tive com Lauren me invadiram, como uma emoção muito forte,  como uma boa nova.

Eu perdi a memória , mas Lauren não desistiu de mim.

Eu tive Alzheimer, mas Lauren não desistiu de mim.

Um SMS pro número errado. Um câncer. Uma lista de livros que ela achou boa. Santa Sara Khali.

Esmeralda e chocolate.
Unicórnio e Dragão.
Inverno e Verão.

Mais à frente,  entre os gritos e gemidos pedindo socorro, vindos de algum lugar que eu não podia ver, uma pequena luz piscou três vezes.

- Perfeito,  Camila,  vamos. Você à achou.

Pisco algumas vezes com o cenho franzido, mas caminho atrás de Pam,  que segurava-me pelo pulso.

Ela não quis tocar minha mão. Era coisa que Lauren faria.

Alguns minutos na direção das vozes, Pam para e me encara, depois olha para o chão.

Eram rostos. Milhares deles. De todos os tipos,  raças,  cores.  Velhos e novos,  machucados,  intactos. Apenas rostos.
Levo as mãos à boca, sentindo uma angústia jamais sentida.

- Camila,  precisamos passar por aqui. Preste atenção em mim - ela pede,  segurando em meu queixo e erguendo meu rosto - Nao pise nos rostos,  não ouça o que eles dizem. Certo?

Ela fala de modo incisivo e firme,  assinto,  pegando em sua mão. Era medo.

Ela suspira e começa a caminhada.  Era algo como um campo minado, havia espaço apenas para a ponta do pé entre um rosto e outro,  inevitavelmente perdi Pam, que aparentemente tinha mais prática nisso,  e já estava do lado de lá.

Um dos rostos começa à gritar meu nome,  e eu o ignoro,  outros aumentam o coro que fala meu nome, mas quando ouço a voz da Dinah, me viro e vejo seu rosto ali.

- Chee?  - procuro Pam com os olhos, que faz sinal com as mãos Para que eu não dê ouvidos,  me chama para ela,  eu devia continuar andando.  Não era Dinah.

- Chan! - o rosto grita - o quadro...  O quadro onde você vive, pegou fogo. Eu tentei salva-lo, e vim parar aqui.

Quais as chances de um Espírito perdido em seu próprio sofrimento e dor saber dessas coisas?

Me viro para o rosto, e Dinah parece realmente machucada.  Bolhas em seu lindo rosto são marcas do fogo, fuligem deixa o rosto sujo,  e eu não penso, apenas me jogo para o lado onde está o rosto dela.

Mas no momento em que meu corpo cai sobre vários corpos, a lama que os segurava cede e alguns corpos caem, enfio os dedos na lama, apenas para ver o rosto se transformar em um cara que agora grita por Pam.

Pam grita meu nome, mas quando me viro para olha-la,  a lama sob mim também cede,  e eu caio.

Não sei qual a altura. Mas muitos corpos caíram,  e quando chegavam ao final,  na água, boiavam. Assisti isso por 4 segundos inteiros, enquanto achei que era meu fim,  mas quando meu corpo atingiu a água, afundei, era uma água escura e com aparência apodrecida. Nadei com toda a minha vontade de encontrar Lauren, e emergi próxima à margem composta por lama escura.

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